Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
25/10/2014 20h18
PEDOFILIA

            Fui convidado a dar uma entrevista ontem sobre pedofilia à Televisão Tropical, que deve ter ido ao ar, no meio dia ou à noite. Não consegui assistir devido o trabalho. Mas vou tecer algumas considerações sobre esse assunto, pois deixei sair apenas uma pequena parcela do conhecimento nessa entrevista. Primeiro, a Pedofilia é um diagnóstico psiquiátrico que está enquadrado dentro das Parafilias, uma classe de transtornos caracterizados por desvio da finalidade biológica da pulsão sexual. Por algum motivo, o foco do desejo sexual da pessoa em algum momento se desvia do seu objetivo biológico, da reprodução, para algo inapropriado, que inclusive pode ser uma criança. É defendido que, geralmente na adolescência, puberdade principalmente, a pessoa possa por acaso ou por algum motivo implícito ou explícito, de origem nesta vivência ou em outras, desenvolver atração por uma criança. Se a isso for seguido uma recompensa de prazer, por exemplo, a masturbação seguida do orgasmo, com a imaginação ou a visão centrada nessa criança, isso gera uma memória que tende a se repetir ao longo da vida. Cada vez que essa experiência se repete, mais fortalece essa memória e a tendência é dela sair do campo virtual da imaginação para a realidade.

            A pessoa saudável pode até desenvolver desejos dessa natureza que perpassam a mente como possibilidades aleatórias do pensamento que tudo avalia e tudo coloca como opção. A pessoa saudável de imediato coloca esses pensamentos fora de cogitação e não permite que eles criem força dentro da imaginação. As pessoas que por algum motivo tenham alguma deficiência ou traumas reminiscentes do passado, não têm constrangimento em avaliar essas possibilidades na imaginação e assim podem fazer o encontro delas com o prazer por elas evocado. Quanto menor o grau de tendência ética que a pessoa possua dentro dos seus paradigmas existenciais, mais forte é o apelo para ela se aprofundar nessas imaginações até chegar à prática real.

              Quando o abuso acontece temos a caracterização de dois doentes: por um lado, aquele que estava sendo encubado na consciência até esse momento, o protagonista, algoz e violador, o pedófilo; por outro lado temos a vítima que de repente foi arrastada pela violência e abusada, violada sem compaixão e se torna uma pessoa traumatizada a partir desse momento para toda a vida. Ambos precisam de tratamento, o primeiro as vezes de coerção policial, de prisão, para pagar os erros cometidos ou prevenir o futuro. O segundo muitas vezes não tem consciência da doença que lhe atingiu, pois sua pouca maturidade não consegue fazer essa distinção e muito menos denunciar de forma adequada, superando os medos que lhe foram incutidos. Somente na fase de vida adulta, quando os relacionamentos interpessoais no campo sexual mostram reações negativas com forte componente emocional negativo, que torna impositivo a psicoterapia. Nesse momento é resgatada a memória do que aconteceu e trabalhado a sua diluição no atual campo de motivações emocionais.

            O recado que procuro deixar com esse texto que tem características mais acadêmicas que íntimas, é que devemos ter cuidado com os nossos pensamentos. Por mais que eles sejam íntimos e que ninguém tenha acesso a eles, se nós assim não confessá-los, eles tem a força de um dia vir à realidade, mesmo de encontro a nossa vontade. Portanto, enquanto eles são pequenos e de pouca força, não devemos alimentá-los com imaginações fora da ética. Tudo que fizermos no campo da imaginação deve seguir os mesmos princípios básicos que o Cristo nos ensinou: não fazer ao outro o que não queremos para nós. Acredito que uma criança, na vida adulta, jamais iria aceitar ser violentada para dar prazer aos outros à custa do seu sofrimento.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 25/10/2014 às 20h18