Quando Jesus foi provocado publicamente pelos seus críticos e perseguidores para responder a pergunta de qual seria o maior mandamento da Lei, Sua resposta foi clara e direta:
“Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito (Dt 6,5). Esse é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este é: Amarás teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18).”
Os fariseus procuravam provar diante do povo que Jesus não sabia interpretar a Lei de Moisés, ou pelo menos que Ele desconhecia a Lei, e que, portanto, não seria uma pessoa digna de crédito.
A questão que foi colocada era verdadeiramente complicada e respondia a uma preocupação sentida entre os fariseus e os mestres da Lei. O estudo da Lei de Moisés os havia levado a deduzir uma série interminável de preceitos.
Diante da impossibilidade de relembrar e praticar todos esses preceitos surgiu a ideia de fazer essa pergunta que deixaria Jesus enrolado nesse emaranhado de preceitos onde eles estavam se debatendo constantemente sem chegar a uma conclusão.
Com a resposta de Jesus, os mestres da Lei ficaram atônitos. Jesus situa a questão em relação às profundas opções. O importante não é saber qual o mandamento mais importante, mas procurar a origem de todos eles.
Quando li sobre esse Jesus e resolvi seguir seus ensinamentos aplicando-os em minha vida, vi logo que não poderia esquecer o maior mandamento que o Mestre resgatou do Velho Testamento e deu as cores atualizadas dentro do Amor que Ele viera ensinar.
Ficou claro para mim que o discípulo de Jesus deve seguir a ética cristã que não pode estar fundamentada em uma complicada lista de preceitos, mas no Amor a Deus e aos irmãos e sem separar os dois “amores”, pois ambos se implicam e se relacionam mutuamente.
Essa nova compreensão provocou uma reviravolta em minha vida e até hoje sinto os efeitos. Antes eu seguia uma série de preceitos, muito deles com origem nesse cipoal de regras criadas e administradas pelos sacerdotes, e referendadas pelo Estado. Mas no momento que eu coloquei a Lei do Amor em destaque, obedecendo com prioridade a maior Lei como Jesus ensinou, entrei inevitavelmente em choque com os meus relacionamentos mais próximos e com a cultura em geral. O meu relacionamento mais íntimo, o casamento, foi o mais paradigmático. De repente o amor romântico com todas suas variáveis que estrutura desde o início a família nuclear, perdeu força frente ao Amor Incondicional que está na base da Lei Maior.
Passei a amar Deus sobre todas as coisas, e em todas as coisas. Na Natureza bruta, nos seres vivos. Podia já viver assim uma vida contemplativa. Encarar a face de Deus logo ao nascer do dia com os primeiros raios do sol, caminhar pela praia molhando meus pés descalços nas águas do mar e acariciar as conchas jogadas pelas ondas; ouvir o canto dos pássaros livres nas florestas, nos bosques, nas campinas; alimentar-me com frutos maduros, com sementes, com folhas e me recolher sob o cobertor das estrelas e vigilância da lua, até o novo raiar do dia. Poderia viver assim dia após dia, dentro ou fora de um mosteiro. Eu estaria sempre sintonizado com Deus e feliz em seu regaço.
Mas tenho que cumprir o segundo item da Lei Maior. Tenho que amar ao meu semelhante como a mim mesmo. Isso me joga inevitavelmente dentro dos relacionamentos humanos e fora de uma vida exclusivamente contemplativa. Não vou deixar de amar Deus acima de todas as coisas e de vê-lO em todas as coisas. Mas agora eu tenho alguém próximo de mim e que devo amar como se fosse a mim mesmo. Não importa os interesses de quem esteja distante de mim nesse momento. Nesse ponto começam a surgir sérias dificuldades. A pessoa que ontem estava próxima de mim e hoje está distante, muitas vezes se ressente pelo mesmo amor que ela teve e que hoje eu dou a outra pessoa. Surge nelas o espectro do amor romântico a exigir, a ressentir, a reagir... nesse mar de emoções descontroladas como ciúme, ressentimento, vingança, surgem as diversas doenças psicossomáticas. Quando percebo que isso está acontecendo com alguém próximo e que a minha presença alimenta na distância esses sentimentos negativos, a minha atitude é de evitar a proximidade com ela em outros momentos, pois minha essência é dar Amor a quem está próximo de mim. Se isso prejudica a terceiros quando esse terceiro está distante de mim, então esse terceiro deve se afastar para não continuar sendo prejudicado, paradoxalmente, com a emissão do meu Amor.
O ideal é que o terceiro se sinta feliz e gratificado por eu está cumprindo essa difícil tarefa de Amar Incondicionalmente, quem quer que seja, em qualquer profundidade, desde que obedeça a máxima de “Não fazer ao outro o que não quero para mim”. Se isso acontece dessa forma, o milagre do Reino de Deus começa a se concretizar, pois a máxima do Cristo acontece: “Quem perder sua vida por minhas lições, conquistará a Vida; e quem não quiser perder a sua vida por cumprir minhas lições, nunca conquistará a Vida.” Os relacionamentos passam a ser cada vez mais amplos no meio da sociedade, com uma verdadeira harmonia, onde a falsidade e a desonestidade de palavras, sentimentos e ações deixam de existir no meio de todos. Alcançaremos a família universal e estaremos vivendo no Reino dos Céus.