Esta foi a primeira lição dada por Ludwig von Mises aos estudantes, na Argentina pós-Perón. Inicialmente passa a ideia de que os empresários, diferentes da realeza do passado, são dependentes do povo aos quais eles servem. Se não o fizer adequadamente, perdem a clientela para seus concorrentes e deixam de ser empresários, donos de indústrias, etc. Foi muito esclarecedor para mim a origem do capitalismo sob um prisma que eu não sabia. Antes do capitalismo o status social de um homem permanecia inalterado do princípio ao fim de sua existência. Herdava dos seus ancestrais e nunca mudava. As primitivas indústrias de beneficiamento da época existiam quase exclusivamente em proveito dos ricos. A grande maioria do povo trabalhava na terra e não tinham contato com as indústrias de beneficiamento. Contudo, a população rural se expandiu e passou a ter um excesso de pessoas no campo que careciam de ocupação. Não podiam trabalhar nas indústrias de beneficiamento, pois eram impedidos pelos reis das cidades. O número dessas pessoas crescia incessantemente sem que ninguém soubesse o que fazer com elas. Eram proletários que ao governo só restava interná-los em asilos ou casas de correção. Essa população tornou-se tão numerosa que no século XVIII constituía uma verdadeira ameaça à preservação do sistema social vigente. Na Inglaterra tinha uma população de seis ou sete milhões de habitantes dos quais mais de um milhão, talvez dois, não passavam de indigentes a quem o sistema social em vigor nada proporcionava. Também havia a falta de matéria-prima que levantava a preocupação do que fazer quando as florestas não fornecessem a madeira necessária para as indústrias e para aquecer as casas. Os estadistas e autoridades não sabiam o que fazer sobre como melhorar essas condições.
Foi dessa grave situação social que emergiu o começo do capitalismo moderno. Dentre aqueles párias, miseráveis, surgiram pessoas que tentaram organizar grupos para estabelecer pequenos negócios, capazes de produzir alguma coisa. Foi uma inovação. Esses inovadores não produziam artigos caros, acessíveis apenas às classes mais altas. Produziam bens mais baratos, que pudessem satisfazer a vontade de todos. E foi essa a origem do capitalismo como tal e que funciona até hoje. Foi o começo da produção em massa, princípio básico da indústria capitalista. As novas indústrias capitalistas começaram a produzir artigos acessíveis à população. Era a produção em massa, para satisfazer às necessidades das massas.
Este é o princípio fundamental do capitalismo tal como existe hoje em todos os países onde há um sistema de produção em massa extremamente desenvolvido. As empresas de grande porte, alvo dos mais fanáticos ataques desfechados pelos pretensos esquerdistas, produzem quase exclusivamente para suprir a carência das massas. Os empregados das grandes fábricas são, eles próprios, os maiores consumidores dos produtos que nelas se fabricam. Esta é a diferença básica entre os princípios capitalistas de produção e os princípios feudalistas de épocas anteriores.
Há uma relação próxima entre produtores e consumidores, uma compreensão de que o cliente tem sempre razão e que ele é o mesmo homem que produz, na fábrica, os artigos que estão à venda. Assim, por mais poderosa que seja, a empresa perderia seu poder e influência se perdesse os seus clientes. O desenvolvimento do capitalismo consiste na defesa que cada homem tem o direito de servir melhor ou mais barato ao seu cliente. E num tempo relativamente curto esse método/princípio transformou a face do mundo, possibilitando um crescimento sem precedente da população mundial.
Na Inglaterra do século XVIII o território só podia dar sustento a seis milhões de pessoas, num baixíssimo padrão de vida. Hoje, mais de cinquenta milhões de pessoas desfrutam de um padrão de vida que chega a ser superior ao que desfrutavam no século XVIII. E esse padrão poderia ser mais alto ainda se parte da energia não fosse aplicado em “aventuras” políticas e militares.
Caso alguém se coloque contrário ao capitalismo em qualquer país do mundo, poderíamos interrogar: “Sabe que a população deste planeta é hoje dez vezes maior que nos períodos precedentes do capitalismo? Sabe que todos os homens usufruem hoje de um padrão de vida mais elevado que o de seus ancestrais antes do advento do capitalismo? E como você pode ter certeza de que, se não fosse o capitalismo, você não estaria integrando o excesso da população sobrevivente? Sua mera existência é mais provável ser uma prova do êxito do capitalismo, seja qual for o valor que você atribua à sua própria vida.”
Agora, por que tanto ódio ao capitalismo? É importante saber que esse ódio não nasceu entre o povo, entre os trabalhadores, mas no meio da aristocracia. Culpavam o capitalismo devido pagar salários mais altos na indústria, comparado aos trabalhadores agrícolas. A aristocracia se via obrigada a pagar salários mais altos para evitar a debandada dos trabalhadores (fuga do campo) em busca de um padrão de vida melhor. Se as condições de vida nos primórdios do capitalismo eram absolutamente escandalosas, eram porque essas condições já existiam antes dessas pessoas serem contratadas pelas fábricas. A fonte de todo embuste nesse contexto consiste em dizer a velha história tantas vezes repetidas no esforço que ela se torne verdade, de que as fábricas empregavam mulheres e crianças que viviam em condições satisfatórias. A verdade é que as mães que trabalhavam nas fábricas não tinham o que cozinhar, e as crianças estavam famintas e morrendo. Uma única estatística confirma tudo isso: durante a Revolução Industrial Inglesa (1760-1830) a população do país dobrou, o que significa que milhares de crianças que antes teriam morrido, sobreviveram.
Não há dúvidas de que as condições de vida em épocas anteriores eram precárias. Foi o comércio capitalista que as melhorou; passou a suprir direta ou indiretamente as necessidades de seus trabalhadores, através da exportação de manufaturados e da importação de alimentos e matérias-primas. Mais uma vez os historiadores do capitalismo falsearam a história e essa técnica malsã permanece até hoje no campo político para benefício de grupos que querem formar uma aristocracia política com base no vampirismo do nosso sangue e suor, que trabalhamos diuturnamente dentro dos métodos capitalistas.