Ao ver um rio correr de determinado ponto de observação posso refletir sobre a força que atua sobre mim e que pertence a Natureza: o Tempo e as transformações que ele proporciona. Um rio nunca é o mesmo a cada segundo que corre, mesmo que sua aparência geral não se transforme com tanta urgência.
Assim é a minha vida. Tudo está se transformando segundo a segundo, desde o corpo aos pensamentos. Assim como o rio mantém o seu leito de forma mais constante ao longo do tempo, eu mantemos a estrutura corporal e de pensamentos com uma certa constância, mas isso não quer dizer que tudo não esteja se transformando, principalmente a nível de pensamentos. O importante é que eu saiba, assim como o rio, reconhecer o meu curso de modificações ao longo da jornada e seguir com coerência tudo que implica em transformações. Deve haver uma base inicial de pensamentos que são os meus paradigmas, e para eles serem modificados necessito de forte justificativa apoiada pela coerência.
Tenho alguns exemplos que posso citar para mostrar a interação dos meus pensamentos e comportamentos com essa força da Natureza. O primeiro é o hábito que minha intuição criou de a cada ano fazer uma foto minha e de meus filhos para identificar as transformações sutis que o tempo causa em nossos corpos. Coloco também no verso de cada foto as principais ações que cada um desenvolveu no ano que passou, para registrar o efeito das transformações do tempo sobre o pensamento e comportamento de cada um. De um ano para outro fica difícil perceber alterações, mesmo que elas existam, pela sutileza. Mas existe a possibilidade de acontecer alterações fortes de um ano para o outro, desde que ocorra algum acidente que deixe cicatrizes ou mutilações no corpo; ou que seja aprovado num concurso e passe a ter uma atividade nova. Mas, de dez em dez anos as transformações do tempo são muito visíveis e assim, incontestáveis. Isso serve para que eu não me desespere quando o tempo me traga um fato que provoque alterações fortes na forma de conduzir minha vida. Tenho que ver tudo com serenidade e procurar sempre colocar as transformações que inevitavelmente irei sofrer dentro da coerência de pensamentos, sempre com o foco de perseguir a reforma íntima, aquela que me ajuda a limpar o meu psiquismo da sujeira consciencial provocada pelo egoísmo.
Neste final de mês que se aproxima do final do ano, posso fazer uma retrospectiva do meu comportamento quanto o início do ano, e ver as transformações que o tempo operou. Vejo que estou colocado numa condição muito diferente hoje, comparado ao último janeiro que passou. Assumi um trabalho na comunidade da Praia do Meio com base no compromisso cristão, uma atividade que eu imaginava só poderia acontecer quando eu estivesse aposentado e com maior tempo de entrar na comunidade. A leitura diária que fazia com os diversos livros espirituais que eu coloco em destaque sobre a mesa, devido a um insight que não lembro agora qual foi, deixei de fazer. E agora penso que devo retomar, pois é uma leitura que contribui muito para reforçar a minha principal visão paradigmática de vida e que diz respeito à espiritualidade.
Assim, eu posso citar diversas alterações que surgem de acordo com os fatos que me atingem e que em busca da coerência interna com minhas ideias tenho que promover as alterações necessárias no pensamento e comportamento, assim como o corpo faz para atender os fatos da bioquímica que acontece a cada momento na fisiologia.
Reconheço que essas alterações que acontecem dentro do fluxo do tempo são importantes para minha aproximação com Deus, desde que eu mantenha sempre o foco de caminhar pelas trilhas que Ele me oferece e orienta a todo instante. Devo livrar-me de todo apelo material associado ao egoísmo, tanto meu como do próximo que convive comigo, principalmente do meu egoísmo, que devo considerar como os maiores adversários que tenho, os adversários internos. Já reconheci esses adversários, a preguiça e a gula, como os mais fortes, e que até hoje pouca vitória obtive sobre eles. A luxúria também é um forte adversário interno, mas já consegui subjugá-la e deixá-la subordinada ao Amor Incondicional. Toda pressão que o corpo faz pelo sexo, eu deixo na condição de servir ao Amor Incondicional, de beneficiar principalmente a pessoa que se relaciona comigo tendo o cuidado de evitar o sentimento de posse que gera o apego e alimenta o egoísmo do materialismo. Isso me deixa muito próximo de Deus e da família espiritual, e muito longe do egoísmo e da família nuclear. Mesmo assim não sou aceito pela cultura vigente, muitas vezes não consigo ser compreendido pelos outros, principalmente os mais íntimos, sobre essa forma de amar e de colocar a sexualidade, não presa ou reprimida, mas subordinada ao amor incondicional.
Hoje eu observo a ação de um desses adversários internos, a preguiça. Foi ela a responsável por ter atrasado tanto este registro diário que vou postar agora com três dias de retardo. Isso gera uma tendência a abandonar esta tarefa que pontuo da máxima importância dentro das minhas responsabilidades frente ao Pai. De mostrar aos meus irmãos, passo-a-passo, mudanças comportamentais que experimentei na minha busca por fazer a vontade de Deus.
Também observo como uma derrota as transformações que a gula opera sobre o corpo. Estou pesando 84,5 kg, muito acima do considerado sobrepeso e muito próximo da obesidade.
Observo tudo isso, mas, apesar das constantes derrotas, procuro me manter no centro do “ringue”, em posição de luta. Tenho um compromisso com o Pai e que para cumpri-lo tenho que vencer esses principais adversários internos.