No processo de aprendizagem devo sempre usar a lógica para acumular conhecimentos e fortalecer os meus paradigmas de vida, redirecionando-os quando for necessário. Considero Jesus como o meu principal Mestre e procuro obter sabedoria no uso da minha coerência ao analisar cada lição que Ele oferecia, principalmente na forma de parábolas. Agora, tem algumas lições que eu não consigo absorver a sabedoria que deve existir dentro delas. Uma delas eu já citei neste diário, acredito. Falava da queixa de Marta ao reclamar da falta de ajuda de sua irmã, Maria, que a deixou trabalhando sozinha na cozinha enquanto ficava a ouvir Jesus.
Depois de muito refletir sobre esse caso e com a ajuda de outros autores, comecei a perceber a sabedoria de Jesus quando ela apoiou Maria e repreendeu Marta. Vejamos como se deu o diálogo:
Marta – Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir sozinha? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me.
Jesus – Marta, Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário, ou mesmo uma só cousa. Maria, pois, escolheu a boa parte e esta não lhe será tirada.
Aprendi com alguma ajuda que Marta estava misturando o prioritário com o secundário; estava perdendo a paciência com coisas de pouca importância; não compreendia que o Cristo veio para servir e não para ser servido; não percebia que Jesus tinha mais interesse na sua pessoa do que no seu serviço. Além disso, existia a murmuração, ela não agrada ao Senhor, não edifica.
Maria havia escolhido estar aos pés de Jesus, numa atitude de adoração e como discípula. Ela não precisava ser repreendida, mas sim elogiada, pois havia feito a melhor escolha. Sabia que o serviço era coisa secundária. Ela não poderia perder a oportunidade de receber ensinamentos do Mestre.
Mesmo solidário com a reclamação de Marta, eu consigo ver um pouco da lógica da lição. Sou solidário, pois me coloco na posição de Marta e vejo que eu também teria cuidado em bem receber Jesus. Poderia deixar o trabalho para ficar também ouvindo as lições, mas sei que ficaria com uma ponta de preocupação, talvez de culpa, por não está fazendo nada para atender o meu hóspede.
Essa incoerência que eu percebia como tal, consegui diluir ao longo das explicações que fui recebendo. Agora, a lição que foi transmitida na parábola do homem rico, que iria despedir o seu administrador por ter dissipado os seus bens, e este, sabendo disso, reduzia a conta daqueles que deviam ao homem rico, como uma forma de ser bem recebido por esses quando estivesse desempregado, eu vi uma incoerência que não consegui eliminar. Jesus ensina que esse homem rico admirou a astucia do administrador, porque os filhos deste mundo são mais prudentes do que os filhos da luz no trato com seus semelhantes.
Pronto! Perdi a lógica. Então Jesus está elogiando a falta de princípios do administrador? É claro que não. Jesus não tinha envergadura moral para elogiar o pecado. Certamente existe uma compreensão por trás da lição que minha inteligência não conseguiu alcançar com coerência. Outros autores explicam que Jesus deseja nos dizer que o cristão, que precisa trabalhar para o Reino, por fraternidade e justiça, não deve descuidar-se ao adaptar os meios humanos e o uso efetivo de sua criatividade, pois o sucesso da evangelização depende disso. Que a riqueza deve ser utilizada para criar fraternidade entre os homens e não para gerar a exploração e a morte dos irmãos.
Essa explicação não conseguiu que eu atingisse o nível de coerência que ainda obtive com o caso de Marta e Maria. Não consigo encontrar a coerência do que Jesus quis ensinar nesse caso, pois não entendo como o Mestre tão puro ensina algo antiético como foi o comportamento do administrador infiel. Mas certamente existe uma lição mais profunda que o meu psiquismo não conseguiu alcançar.
A explicação que foi dada fica semelhante aquela de que os fins justificam os meios. Eu sempre rejeitei essa tese, desde os tempos que eu me candidatava. Tinha condições de trocar votos pelos meus serviços profissionais como médico, como forma de alcançar o cargo pretendido e fazer o bem que eu desejava. Minha consciência jamais permitiu isso, pois dizia para eu não praticar qualquer ato antiético, mesmo que isso fosse para alcançar um cargo que iria beneficiar a todos. A parábola e as explicações vão de encontro a isso. No meu modo de entender... mas ainda entendo que essa incoerência que vejo na lição de Jesus se deva a pouca sabedoria que ainda tenho para perceber a dimensão do que Ele quis ensinar.