Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
21/12/2014 00h59
O LAÇO E O ABRAÇO

            Vou reproduzir neste dia um texto do poeta Mário Quintana que tem o título acima e que fez boa sintonia com aquilo que penso no campo da afetividade.

            Meu Deus! Como é engraçado! Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço... uma fita dando voltas. Enrosca-se, mas não se embola; vira, revira, circula e pronto: está dado o laço.

            É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de braço.

            É assim que é o laço: um abraço no presente, no cabelo, no vestido, em qualquer coisa onde o faço. E quando puxo uma ponta, o que é que acontece? Vai escorregando... devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço. Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido. E, na fita, que curioso, não faltou nenhum pedaço.

            Ah! Então é assim o amor, a amizade. Tudo que é sentimento. Como um pedaço de fita. Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora, deixando livres as duas bandas do laço. Por isso é que se diz: laço afetivo, laço de amizade. E quando alguém briga, então se diz: romperam-se os laços. As duas partes, iguais meus pedaços de fitas, sem perder nenhum pedaço.

            Então o amor e a amizade são isso... não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam. Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço.

            Muito bom esse texto com reflexões sobre o comportamento baseado no amor e na amizade. Na minha forma de aplicar o Amor Incondicional em todos os contextos do meu relacionamento eu passo por dificuldades que essa comparação com o laço me ajuda a entender.

            O Amor é um sentimento que deve refletir uma atitude comportamental. A atitude amorosa em qualquer tipo de relacionamento gera harmonia com os envolvidos e consequentemente uma sensação de bem estar, de felicidade. A tendência é que a pessoa envolvida pela atitude amorosa queira prolongar a situação e se isso persiste o laço amoroso se torna cada vez mais um nó do apego.

            Para o laço se manter com suas características, deve se formar como um abraço, mas que deve ser desvencilhado no tempo oportuno. Quanto mais o abraço é mantido ao longo do tempo, mais a situação de que de início era de prazer e harmonia se torna incômodo e desarmônico. Indo a um extremo, é como se as duas pessoas que inicialmente se abraçaram se tornassem irmãs siamesas, onde o movimento de um interfere com a liberdade do outro... formou-se um nó!

            O laço, na comparação com o abraço, é feito para unir e depois separar, sem que isso cause prejuízo em nenhuma das partes. Pelo contrário, a separação do laço/abraço é sinal que mais na frente, num previsível futuro, o laço/abraço será refeito com os mesmos sentimentos de prazer e harmonia. É esse movimento de fazer e desfazer laços que podemos realizar com todas as pessoas ao nosso redor, que nos dá a dimensão máxima da felicidade que podemos atingir em cada vivência.

            Isso implica também que, no momento que um laço é desfeito com alguém, existe um período que estou sozinho até o refazimento do laço com a mesma ou outra pessoa. Então eu devo saber viver a minha vida sozinho e com qualidade, sabendo que eu sou uma fita que mais adiante estarei em laço com outro alguém.

            Não confundir desfazer um laço momentaneamente com a possibilidade de refazê-lo mais adiante, com o rompimento do laço que perde essa capacidade de refazimento.

            Com essa compreensão eu fico confortável em qualquer posição que eu esteja. Ontem eu estava em laço com alguém, hoje estou sozinho, mas amanhã estarei em laço com outro ou o mesmo alguém, e assim vida se torna vivida com mais qualidade. Sei que a cada momento que o meu laço com alguém for desfeito eu irei ficar solto e mostrar o melhor que há em mim, assim como acontece com o presente que é visto quando se solta o laço, com o cabelo que mostra o seu vigor e beleza quando é solto do laço, ou o vestido que pode mostrar as curvas sensuais do corpo quando solto do seu laço.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 21/12/2014 às 00h59