Hoje é dia do Natal, do nascimento de Jesus, o divisor de anos do nosso tempo, antes e depois do Cristo. É a noite mais longa do ano e nos cultos pagãos era celebrado com o nascer do sol, como luz na escuridão, como a fertilidade para a Terra e todos os seus filhos. O cristianismo adotou essa data para o nascimento de Jesus mantendo o significado da luz que Ele trazia para o mundo e iluminar as trevas da nossa ignorância, nesta noite mais longa do ano.
Desenvolvo com meus amigos e companheiros um trabalho comunitário na Praia do Meio de inspiração cristã, no intuito de colaborar na construção de uma comunidade parecida com aquela regida pelo Amor Incondicional e que servirá de modelo para o Reino de Deus.
Organizamos um jantar para ser realizado a partir das 20h. Combinei com os amigos que estaria presente por volta das 18h para ajudar nos preparativos finais do evento. Como estava em outro encontro de lazer junto com os familiares numa fazenda em outro município, terminei por chegar por volta das 19h, e com a mesma roupa que estava usando no interior. Mas foi o tempo suficiente para ajudar nos preparativos do evento. Fiquei de posse do microfone no sentido de organizar as diversas atividades que havíamos planejado. Comuniquei aos convidados que já estavam chegando em número além daquele que prevíamos. Notei o grande esforço que os amigos da comunidade fizeram para a realização do evento, envolvendo outras pessoas com o empréstimo de mesas e cadeiras que eles traziam com todo o esforço e com todo amor. Terminei por cometer uma grande falha, pois havia me comprometido a avisar aos meios de comunicação sobre o evento para ter uma cobertura e informar a Natal o que estávamos fazendo, e terminei esquecendo.
Avisei aos presentes de como iríamos servir o jantar para eles a partir das 20h, que seria posta uma mesa ao lado do som com as panelas; que seria formada uma fila onde todos pegariam pratos e colheres e seria colocado o arroz, salpicão de frango, e batata palha. Ao final receberiam uma senha para o sorteio de brindes que havíamos recebido. Nesse momento de falar sobre os brindes, fiz questão de ressaltar o comportamento cristão de fazer o bem sem querer aparecer, fazer o bem no anonimato, pois só assim será reconhecido pelo Pai. Comuniquei que recebemos dois pacotes de brindes de pessoas anônimas, que nem eu mesmo sei quem foi. Deixaram dois pacotes de brindes para meninos e meninas, juntamente com senhas para o sorteio. Foram embora no anonimato como preceitua as lições do Cristo. Portanto, meus irmãos, nesta noite mágica as lições daquele que nasceu hoje servem de exemplo para todos nós e assim o Pai espera que todos nos comportemos dessa maneira.
As crianças começaram suas apresentações musicais, com violões e flautas, com o som de suas vozes cantando as melodias acompanhadas timidamente por um coro das pessoas presentes. Nos intervalos eu falava do Projeto Foco de Luz, da Associação de Moradores e amigos; falava dos amigos que moram fora do bairro, mas que dão grande contribuição ao nosso trabalho e convidei algumas delas para se apresentar e dizer algumas palavras no microfone. Falei que no início do próximo ano estaríamos fazendo a eleição da diretoria da Associação e que todos aqueles que quisessem ser sócios podiam procurar nossas reuniões nas quintas feiras.
O professor de capoeira do bairro levou os alunos de sua escola para uma apresentação no meio das mesas. Todos se afastaram e fizeram uma arena onde ao som do berimbau e de canções próprias daquele esporte os jovens e crianças mostravam toda a disciplina e maleabilidade com o corpo.
Enquanto a apresentação seguia eu tentava organizar a fila com as crianças impacientes querendo serem as primeiras. A apresentação da capoeira terminou e os pratos começaram a ser distribuídos e não consegui atrelar a senha com os pratos. Depois tentei corrigir indo as mesas e deixando uma senha em cada prato, mas muitas pessoas alegavam que já tinham recebido o prato e estavam sem a senha. Resolvi distribuir as senhas restantes exclusivamente com quem saia da fila com o prato e aqueles que alegavam que já tinham passado pela fila e não tinham a senha, pedi para terem paciência que eu estava distribuindo daquela maneira e tinha que manter o padrão até o fim. Mas depois que terminasse a fila eu distribuiria o restante das senhas com quem não tinha recebido. Reforcei que esse trabalho que estávamos realizando era um trabalho motivado pelo próprio Cristo e que Deus estava no comando e assim ninguém iria ser prejudicado nesta noite tão especial. Enfim as senhas acabaram e também a fila. Então disse no microfone que iria aplicar os ensinamentos cristãos para resolver a questão de quem tinha pegado o prato, mas ficou sem a senha. Pedi a todos adultos que estavam nessa condição que se aproximassem da mesa da distribuição dos brindes. Apareceram seis pessoas que fiz questão de identificar para aqueles que estavam com suas senhas. Então expliquei que no Evangelho tem uma passagem que diz “os últimos serão os primeiros” então eu iria aplicar esse ensinamento. Essas seis pessoas que por qualquer motivo não receberam as senhas, que ficaram por último em nossa distribuição, nós iríamos dar a cada, um dos brindes sem necessitar de sorteio. Essa lição serve para cada um de nós aprender como funciona a providência divina. Essas pessoas estavam tristes, pois não iriam participar do sorteio, mas como o Pai ensina que devemos esperar por sua providência em qualquer frustração, eis que essas pessoas que confiaram no Pai, todas ganharam os seus brindes sem necessitar do sorteio. Então cada um que estão agora com as suas senhas irão ficar atentas para ver se serão sorteadas. Então começamos a sortear os números e uma parte dos brindes já estavam sendo distribuídos com as crianças por uma das companheiras, sem passar pelo sorteio. Fiquei um pouco contrariado, pois eu imaginava que todos os brindes seriam distribuídos pelo sorteio, mas depois entendi que o Pai estava influenciando o coração de cada companheiro envolvido com este trabalho, e se assim ela estava fazendo é que foi tocada no seu coração para assim proceder. Poderia, eu, contestar um “toque” de Deus? Absorvi sem mágoas a mudança da minha programação e anunciei que aquelas pessoas que se sentissem de alguma forma prejudicada neste jantar, que procurasse a Associação na primeira quinta feira de janeiro, na Escola Olda Marinho, para fazermos a devida compensação de acordo com a justiça de Deus.
Todo o jantar teve a cobertura musical de um cantor católico que levou os seus CDs e a aparelhagem para nos prestigiar com canções espirituais.
A última etapa do jantar foi a distribuição de pedaços de um enorme bolo que tinha como cobertura o símbolo da Associação de Moradores da Praia do Meio e da Santa Ceia, junto com um copo de refrigerante.
Fiz este relato sem colocar o nome de ninguém com dois propósitos, primeiro de seguir a lição evangélica de ser caridoso sem aparecer, e segundo, porque eu não queria deixar de citar o nome de todos que colaboraram, por menor que seja a colaboração, e isso seria impossível de eu fazer, de registrar o nome de todos neste relato.
O público presente foi avaliado em torno de 400 pessoas. Consideramos um sucesso, apesar das diversas falhas que observamos. Uma delas foi aquela que eu, como apresentador do evento, não ter organizado um plano de atividades onde teria que ser incluído a oração do Pai Nosso, explicando aos nossos convidados a importância de orarmos ao Pai como Jesus nos ensinou.
Fiquei depois de tudo com a impressão de que, muito mais do que ensinar aos nossos convidados a sermos espiritualizados e obedientes ao Pai, fomos nós quem aprendemos mais nesta noite, principalmente com nossos erros. Mesmo assim, sentimo-nos todos gratificados juntos ao Pai, tanto os companheiros presentes ao evento como aqueles que não puderam participar, mas que tudo fizeram para o nosso sucesso.