Parece que em alguns momentos eu desenvolvo uma fé sem esperança, segundo as pessoas com as quais me relaciono. Mesmo com todo o paradoxo que isso possa trazer, pois a fé que eu desenvolvo é naquela principal lição que o Mestre Jesus deixou quanto o Amor Incondicional. A maioria das pessoas que eu conheço sabem da existência de Jesus e acreditam no Mestre, no entanto não aceitam que essa sua principal lição seja capaz de ser aplicada por nenhum ser humano.
Parece que sou um excêntrico sonhador, que acredito da mesma forma que Jesus, no Amor Universal, o amor de todos que foram criados à imagem de Deus para com todos que foram criados à imagem de Deus. Acredito sim, em tudo que Ele ensinou, que peço e me será dado, que busco e acharei, que bato a porta e ela se abrirá... pode ser que isso não aconteça comigo, pois o egoísmo que ainda tenho na forma de orgulho pode impedir a humildade de pedir ao Pai, eu que tenho dificuldade até de falar com Ele nas orações. Mas a opinião majoritária é que o Amor é muito reduzido. Podem até pensar que um homem pode amar cinco homens e mulheres, talvez dez, até quinze. E mesmo assim só raramente.
Falava assim Amóz Oz na boca do seu personagem Guershom Wald, em seu livro “Judas”:
Se vem um homem e me declara que ele ama todo o Terceiro Mundo, ou que ama a América Latina, ou que ama o sexo feminino, isso não é Amor, mas pura fraseologia. Ditos da boca para fora. Palavras de ordem. Não nascemos para amar mais do que um pequeno punhado de pessoas. O Amor é um evento íntimo, estranho e cheio de contradições, pois mais de uma vez nós amamos alguém por amor a nós mesmos, por egoísmo, por cupidez, por desejo físico, por vontade de dominar o amado e subjugá-lo, ou, ao contrário, devido a uma espécie de desejo de ser dominado pelo objeto de nosso amor, e geralmente o amor se parece muito com o ódio e é mais próximo dele do que imagina a maioria das pessoas. Veja, por exemplo, que quando voce ama alguém ou odeia alguém, em ambos os casos voce está a todo instante ansioso por saber onde ele está, com quem está neste momento, se está ou não está bem, o que está fazendo, no que está pensando, quais são seus temores. O coração é falso como ninguém, ele é incorrigível: quem poderá conhecê-lo? Assim falou o profeta Jeremias. Thomas Mann escreveu em algum lugar que o ódio não é senão o amor a que se acrescentou o sinal de subtração da aritmética. A medida do ciúme é a prova de que o amor se parece com o ódio, pois no ciúme se mesclam o amor e o ódio. No Cântico dos Cânticos, no mesmo versículo, nos é dito que forte como a morte é o amor, poderoso como o inferno é o ciúme. Jesus também foi um grande sonhador, talvez o maior dos sonhadores que jamais houve. Mas seus discípulos não foram sonhadores. Eles foram ávidos de autoridade, e seu fim, como o fim de todos que são ávidos de autoridade e poder no mundo, foi que se transformaram em derramadores de sangue.
Pode ser que o escritor Wald tenha razão ao interpretar o sentimento humano. Também não posso me esquivar de ser formado com esses sentimentos egoístas, mas acredito que tenha me deixado contaminar pelos sonhos do Mestre. Sei que não estou ainda tão puro dos derivados do egoísmo como ele estava, mas luto para reconhecer esses derivados e ir erradicando-os ao longo do tempo. Tenho fé nEle, nos seus ensinamentos e procuro aplicar a lição primordial do Amor Incondicional para toda a humanidade. Qualquer ser humano, qualquer que seja suas mazelas ou que não as tenha, deve ser capaz de despertar em meu coração a compaixão, o Amor, independente de qualquer característica. Tenho esperança de construção desse mundo novo, esse Reino do Amor, mesmo que não seja possível eu alcançá-lo na plenitude, mas me esforçarei para colocar pelo menos um simples tijolo na sua estrutura.