Na liturgia de hoje foi lida em todas as igrejas católicas um trecho de Isaías (60, 1-6) muito interessante:
Levanta-te, sê radiosa, eis a tua luz! A glória do Senhor se levanta sobre ti. Vê, a noite cobre a terra e a escuridão, os povos, mas sobre ti levanta-se o Senhor, e sua glória te ilumina. As nações se encaminharão à tua luz, e os reis, ao brilho de tua aurora. Levanta os olhos e olha à tua volta: todos se reúnem para vir a ti; teus filhos chegam de longe, e tuas filhas são transportadas à garupa. Essa visão te tornará radiante; teu coração palpitará e se dilatará, porque para ti afluirão as riquezas do mar, e a ti virão os tesouros das nações.
Sei que a Bíblia é tida como um livro sagrado que reflete a palavra de Deus, mas que foi escrito pela mão de diversos homens, que mesmo inspirados pela divindade, podem ter colocado nos seus escritos todas as tendências de suas convicções pessoais. Mesmo assim, posso ver nas mensagens, algo da inspiração divina, caso eu consiga atravessar com algum nível de percepção o sombreamento da luz.
Esse texto aponta para a presença da luz que está ao nosso redor e que podemos alcançá-la com os bons propósitos do coração. Fazendo assim a glória do Senhor se aproxima e podemos ver nas entrelinhas da natureza os caminhos que são apontados. Quem não consegue atingir esse estágio, consegue sentir a atratividade das pessoas que o conseguiram e assim procuram ficar à sua volta, algumas vezes desejando ou lutando por sua posse. Essas pessoas perceberão os tesouros disponíveis, ao seu alcance, mas deles não darão a prioridade de suas ações, pois é ao Senhor que toda a sua atenção está dirigida, e todos os tesouros do mundo só serão úteis se estiverem dentro dos propósitos divinos.
Eu sei que essa possibilidade de percepção divina e profunda da natureza pode existir e se constituir uma verdadeira glória de Deus ao alcance, mas infelizmente não tenho as condições psicológicas necessárias para perceber com a intensidade suficiente essa glória divina, de ser digno dela em toda plenitude. Tenho dificuldades em manter focado o interesse de Deus em meus pensamentos e termino desviando o caminho para meus interesses pessoais. Sei que isso não é o que prevalece nas minhas ações, mas é o suficiente para não ocorrer o preenchimento cognitivo capaz de perceber e aplicar essa glória.
O tempo urge, as oportunidades surgem e se esvaem... Tenho formado os paradigmas suficientes para colocar em prática a vontade do Pai, no entanto a força dos instintos ainda não estão suficientemente domesticadas. Até mesmo a preocupação com o meu status social entra em cena quando imagino a decisão de colocar em prática determinadas orientações que imagino partirem do Pai. Portanto, sei por tudo isso, que essa glória de Deus que está à disposição de todos de bom coração, necessita de uma capacitação psicológica livre dos instintos animais e dos preconceitos sociais.
Pelo menos é mais uma identificação que faço de minhas fraquezas e isso torna menos difícil a minha recuperação.