Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
25/01/2015 00h59
O AMOR QUE FICOU

            Na vida tive muitos amores, muitas paixões. Se eu fosse fazer uma avaliação dentre todas as mulheres que tocaram o meu coração, que chegou a me incendiar de paixão, eu poderia classificar em primeiro lugar aquela que aniversaria hoje.

            E por que não estou com ela? Por que eu em comportei de forma que ela tivesse motivos para me expulsar da nossa casa, apesar de lá está recheada das coisas que eu amo: livros, filmes, música, meu cachorro, meu filho... ela mesma? Só tenho uma explicação: porque eu sou assim, criado, formado e desenvolvido da forma que ela não desejava para um companheiro, um companheiro exclusivo. A minha forma de amar o mundo e especialmente as mulheres de forma ampla, completa e irrestrita foi o amargo sabor que ela sentiu com a minha convivência e que não foi possível tolerar por mais tempo do que ela tentou.

            Hoje estou só, sentindo em mim o amargor do doce tempero do amor, por mais paradoxal que seja. Estou só, e a minha alma carente de companhia reclama desse amargor, mesmo sabendo que foi devido a doce expressão do amor que jamais impedi que saísse de mim. Minhas companheiras também sofrem os efeitos desse paradoxo, experimentam com ternura todo o amor que recebem de mim e com sofrimento todo o amor que eu distribuo com outras.

            Sou uma espécie de Rei Midas do amor. Aquele transformava em ouro tudo que tocava, chegou a morrer de inanição, pois os próprios alimentos se transformavam em ouro; eu também transformo em amantes todas que se aproximam de mim e como não aceitam dividir-me com mais ninguém, morro na solidão.

            Entro hoje nessas reflexões porque é o aniversário daquela que ocupa o primeiro lugar na minha exacerbação do amor. A última que tentei conviver de todas as formas – esposo, amante, amigo -, como a única tábua de salvação para me livrar da solidão. Não consegui. Mas carrego comigo na forma de saudade o amor que jamais morrerá. E assim fiz essa mensagem abaixo e enviei para ela:

            “Feliz aniversário!

            Que o Anjo da Guarda proteja seus passos e que Deus encha seu coração de amor e sua vida de felicidade; que cada ano lhe traga mais sabedoria, em cada minuto mais tolerância, mais flexibilidade; que as tempestades da vida sirvam apenas de motivo para a sua aproximação com o Criador; que minhas orações sirvam de escada para a sua elevação e que nas suas lembranças prevaleça o amor que tanto lhe dediquei e que seja capaz de cobrir os pecados que eu cometi. Este é o café da manhã que minha alma oferece tua, e se um dia a paixão que tínhamos se perdeu no tempo, que o amor que ficou na forma de saudade sustente nossas existências, por mais distantes que nossos corpos estejam.”

            Ela respondeu com um a imagem de um simples polegar voltado para cima, que interpretei como positivo.

            Logo depois envia uma poesia de Cecília Meireles:

 

FUTURO

 

É preciso que exista, enfim, uma hora clara

Depois que os corpos se resignam sobre as pedras

Como máscaras metidas no chão

 

Por entre as raízes, talvez se veja, de olhos fechados,

Como nunca se pode ver, em pleno mundo

Cegos que andamos de iluminação

 

Perguntareis: “Mas era aquilo, o teu silêncio?”

Perguntareis: “Mas era assim teu coração?”

 

Ah, seremos apenas imagens inúteis, deitadas no barro

Do mesmo modo solitárias, silenciosas,

Com a cabeça encostada à sua própria recordação.

 

Cecília Meireles, em Mar Absoluto.

 

            Senti, minha querida, minha amada... pelos versos da poetiza a dor da sua solidão, do silêncio na presença e na recordação.

            Espero que nossos olhos voltados agora para nossas raízes possam realmente se iluminar com a verdade e reconhecer que apesar da tristeza o amor jamais esteve ausente. Quando não podias caminhar, o rastro que vias sozinho na areia, era eu te carregando nos braços...

Publicado por Sióstio de Lapa
em 25/01/2015 às 00h59