Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
01/02/2015 00h59
POPULISMO

           Entrei numa fase em que passou a existir um forte apelo pela militância política, tendo em vista o alto grau de corrupção e de desmantelamento das instituições democráticas, com o atrelamento partidário de setores importantes da máquina estatal. Observando o que acontece nos países vizinhos e percebendo que existe todo direcionamento para fortalecer aquele tipo de política ali empregada, inclusive trazendo o modelo para o meu país, recebi um vídeo de uma militante latino-americana que abordava esse assunto e que vou reproduzir abaixo, devido ao seu alto conteúdo educacional e esclarecedor para a consciência política dos cidadãos.

            “Muito obrigada a todos, ao Comitê Organizador, a todas as instituições de Zaragoza que nos receberam aqui.

            Queridos amigos e companheiros latino-americanos. Creio que os desafios que temos neste primeiro Parlamento Líbero Americano são bem grandes, e a proposta que quero fazer, especialmente retomando o que o Dr. Florentino acaba de nos passar, é acabar com o Populismo através da tecnologia. E vou explicar por que.

            Há debates sobre esquerdas e direitas, o que de fato é muito utilizado pelos populistas, do que pelas pessoas que estão tentando resgatar as instituições.

            O Populismo que é praticado com as pessoas que convivemos, e compartilhado com as pessoas que interagimos, a primeira ação que faz é acabar com as instituições, pouco a pouco. Reescrever constituições para poder adequá-las aos desejos de diferentes líderes, corruptos, que temos na América Latina.

            O Populismo, no entanto, não existe por casualidade. E também cabe a nós, não só denunciar as atrocidades que o Populismo comete contra as nossas instituições, mas também reconhecer o péssimo trabalho dos sistemas governamentais anteriores, que levaram à crise absoluta, às pessoas e às populações, que em desespero recorreram a esses líderes. Às vezes por vias democráticas, e que por isso, justificam sua permanência no poder.

            Por isso, creio que mais que a batalha entre a esquerda e direita, nós que somos contra o Populismo, devemos falar de Populismo versus República. Por que a República é que realmente garante a institucionalidade do Estado.

            Desde os tempos antigos dos gregos, filósofos como Sócrates e Aristóteles, viram os defeitos da Democracia. E por que viram? Porque há três direitos fundamentais e irrenunciáveis a cada um de nós. Nossa vida, através da qual podemos exercer nossos projetos. Nossa liberdade, através da qual podemos nos expressar, podemos comercializar, podemos trabalhar, podemos nos mobilizar para possuir a crença de nossa preferência, e poder expressar assim também nossos sistemas políticos, e o que esperamos de um governo. E por último, nossa propriedade privada. E nossa propriedade começa pelo nosso corpo. Pela nossa integridade. Nossa propriedade é o acúmulo desde o dia em que nascemos até o dia em que morremos, de todas as coisas que conseguimos realizar.

            Estes três direitos, no entanto, podem existir em cada um de nós sem impedir os direitos de outra pessoa. Agora, e quanto aos outros direitos? Como por exemplo, direito à saúde, à educação, à vestimenta, e a uma série de direitos que foram exigidos pelos povos de cada um dos nossos países, e que não foram atendidos.

            O problema desses direitos, e que os gregos já viam desde aquela época, é que eles precisam de uma renúncia prévia, do direito de propriedade de alguém, antes de serem outorgados. E é aí que nossos governos falharam. Porque ao falar que todos têm direito a essas coisas, nunca foi estipulado quem deveria renunciar a certos direitos para outorgar aos outros. E desse mal estar, é que nossos povos decidiram recorrer aos regimes totalitários e populistas que vemos hoje. Independente da nossa ideologia política, sejamos liberais, ou sejamos social-democratas, devemos reconhecer que esse é um debate necessário para a região. Se vamos dar direitos, de onde vamos tirá-los? E com que recursos vamos pagá-los? Por que se isso não for estabelecido, nossos povos vão seguir interminavelmente vendo nestes líderes a resposta e a solução.

            Gostaria de retomar o que disse o Sr. Florentino sobre sua definição de Populismo. Ele disse que é o atalho pelo qual jogamos com paixões, ilusões e ideais do povo, para prometer o impossível, aproveitando-se da miséria das pessoas, deixando de fora, absolutamente, toda a razão e a lógica na tomada de decisões. Joga com a necessidade, para simplesmente impor uma ditadura. Joga com a necessidade dos nossos povos, e isso foi algo que os gregos previram. Desde que disseram: “Há três tipos de governo.” Onde há um governante, que se chama Monarquia, e pode acabar virando Ditadura. Onde governa um grupo, que se chama Aristocracia, e pode acabar virando Oligarquia. E nós da América Latina conhecemos bem isso. Porque nossos aristocratas, nossas elites, acabaram virando Oligarquias. Ou há uma Democracia, onde todos governam, que acaba degenerando numa Demagogia, algo que nós também conhecemos.

            Quando os gregos viram essas três formas de governo, se deram conta que a República era a resposta. Porque a República dava essas três institucionalidades. O monarca na forma de presidente, a Aristocracia na forma de um Parlamento, e a Democracia como veículo e via de comunicação. É por isso que a República anula os vícios de cada uma das três formas de governo, para agrupar as três, e formar a institucionalidade que o Populismo, hoje, está destruindo.

            Por isso o chamado que quero propor à vocês, é que acabemos com o Populismo através da tecnologia. E por que através da tecnologia? Porque hoje mesmo falamos, de que as mudanças que estão surgindo nos nossos países, e que estão surgindo com a tecnologia, não estão sendo acompanhados pela educação necessária. E o que acontece se eu passo a receber novas possibilidades, novas formas tecnológicas de me comunicar com o mundo, mas ao mesmo tempo não me educo? Não tenho prioridades claras. Por isso em nossos parlamentos, já não se trocam ideias, a razão e a lógica já perderam a importância que deveriam possuir. Já não há respeito pela discussão, por deixar de fora as falácias. E nossos líderes populistas anulam toda razão e toda lógica de seus argumentos, aumentando paixões. E nós também temos que utilizar uma paixão. Uma paixão pela educação, uma paixão pela troca de ideias, paixão pelo conhecimento, por querer ser pessoas e indivíduos com o poder da verdade. Por que outra coisa que o Populismo faz, é anular a dignidade das pessoas. Faz as pessoas se sentirem incapazes e sem dignidade para governar suas próprias vidas. Faz elas pensarem que precisam de um líder, para controlar absolutamente tudo, para poderem seguir adiante.

            A definição do florentino também defende algo que nós do movimento dizemos. O Populismo ama tanto os pobres, que os multiplica. Porque o que busca, é essa multiplicação de miséria, para seguir recebendo um voto, através de qualquer objeto material que naquele momento as pessoas precisem.

            Qual o desafio? Como fazemos? Para que um povo onde a Pirâmide de Maslow está no nível mais baixo, veja na República, a resposta institucional que as gerações futuras precisam para não seguir nesse ciclo de pobreza.

            A admiração que há em países como o meu, pelo Regime Cubano, pelo Regime Venezuelano, é absurda. Essa admiração não é seguida pela razão e pelo conhecimento. São poucos os guatemaltecos que reconhecem, por exemplo, que em Cuba, um engenheiro civil prefere ser taxista. São poucos os guatemaltecos, as pessoas da América Central, os latino-americanos em geral, que veem no Regime Chavista as atrocidades e as violações de direitos que estão sendo cometidas, porque tudo que veem é: lá tem educação de graça, lá tem saúde de graça. Nada é de graça. Tudo é pago com algum dinheiro. E quando não há institucionalidade, é quando começa a corrupção. E quando ela começa, todo um sistema perde suas virtudes.

            No caso de Guatemala, temos eleição ano que vem, e infelizmente, as três pessoas que vão chegar a presidência, os três candidatos que melhor se encaixam, vão pela via populista. Sejam de esquerda ou de direita. Porque outra coisa que temos de reconhecer, é que o Populismo está impregnado em todas as ideologias.

            O mecanismo que os populistas usam é seguir com esse discurso. Você está mal, porque alguém está bem. E o que temos que resgatar, é que todos podemos estar bem. Que o fato de que uma pessoa acumula riquezas, não impede a outra de acumular também. Mas para isso precisamos de instituições. Precisamos de segurança jurídica. Precisamos de um Estado correto. E acima de tudo, resgatar nos nossos parlamentos, o respeito e admiração pelo debate de ideias com argumentos baseados na lógica e na razão. Mas um povo que não tem educação, não vai exigir de seus políticos um debate com lógica e razão, com argumentos, e será facilmente manipulado através das paixões.

            As ferramentas que proporcionam a Era de Conhecimento são a chave. Utilizar as redes sociais, a tecnologia, e a facilidade de comunicação que temos com apenas um clique entre todo o continente, onde compartilhamos o mesmo idioma, compartilhamos a cultura, que compartilhemos agora uma troca de ideias, para começar a expor e acabar com o Populismo pelo que ele é, uma postergação da pobreza, da ignorância e de manter os povos submissos, sob a ilusão de que só os bens materiais importam ao votar.

            É por isso, amigos, que lhes proponho, que no dia de amanhã ao assinarmos a Declaração de Zaragoza, todos, como os líderes latino americanos que somos, nos comprometamos a acabar com o Populismo utilizando a tecnologia, e usando como ferramenta a República, que é o único sistema que realmente resgata as instituições, baseando-se na razão, na lógica, nos argumentos, e na troca de ideias.

            Muito obrigada.”

            Eis uma palestra bem lúcida, objetiva, que foca os principais problemas que sofremos na atualidade brasileira e latino-americana e que aponta os caminhos mais racionais, sem qualquer tipo de radicalismo inconsequente, para a correção dos nossos rumos políticos.

 

Publicado por Sióstio de Lapa
em 01/02/2015 às 00h59