Fiquei de falar hoje sobre a minha vida, meus sentimentos, relacionando com o que existe de semelhante com o Fantasma da Ópera, de Gaston Leroux. Como ele eu também vivo numa espécie de calabouço da alma onde meus pensamentos, sentimentos e ações não são os mesmos praticados pelas pessoas na minha cultura local. Sou dessa forma considerado como um deformado da alma, que causa pavor nas pessoas íntegras e que desejam seguir com honestidade os princípios culturais e legais da sociedade. Sou obrigado a viver nas sombras para ser honesto com a visão que Deus me deu do mundo, da missão que eu entendo que Ele colocou sobre meus ombros. Dessa forma começa aí a primeira semelhança, o Fantasma da Ópera obrigado a viver nas sombras de um Teatro, eu obrigado a viver nas sombras da vida... um Fantasma da Vida.
Também apresento a primeira diferença. O prisma do amor do Fantasma da Ópera, aquele prisma que fraciona a energia dos sentimentos em milhares de vibrações, tem uma base conceitual e uma prática diferente da minha. O dele gera vibrações mais próximas da animalidade, do egoísmo, do amor romântico, condicional. O meu gera vibrações mais próximas da angelitude, do altruísmo, do amor romântico subordinado ao amor incondicional.
Devido o Amor Incondicional funcionar com prioridade dentro de meus sentimentos e pensamentos, as ações são diferentes daquelas que tem como prioridade o amor romântico, caso do Fantasma da Ópera, que reflete o sentimento prevalente da humanidade. Quando uma pessoa que sente com o prisma do amor romântico descobre que eu funciono de outra forma, interpreta isso como uma deformidade moral, com muito mais feiura do que a deformidade física do Fantasma da Ópera. Acontece que a deformidade moral do Fantasma da Ópera está baseada no amor romântico e que nesse sentido não deveria ser considerada como uma deformidade, já que é dessa forma que todos pensam. Tudo que Erik, o Fantasma da Ópera, faz para ter consigo o corpo e a alma de Christine está em função do amor romântico, prova disso é a sua bela canção que faz encantar nossos corações e marejar nossos olhos. Mas o que ele fez eu jamais faria, pois em mim não prevalece o amor romântico, condicional, e sim o Amor Incondicional.
Jamais eu prenderia alguém em meu mundo contra a sua vontade, jamais eu esconderia a minha verdade, minha deformidade, para ter o amor de quem quer que seja. Não importa que mostrando a minha “deformidade moral” eu provoque choque ou mesmo repulsa em quem eu ame. Não importa que mostrando a verdade eu esteja destruindo o amor romântico de quem o desenvolveu por mim. Talvez até transformando-o em ódio. Posso até usar uma máscara em público na forma de não está publicando quem eu seja, como eu penso, sinto e ajo. Mas jamais usarei a mentira para encobrir quem eu sou. A minha máscara se caracteriza pela discrição do que sou, de não está mostrando a todos a minha forma universal de amar, de defender a família universal, alicerçada na fraternidade, em detrimento da família nuclear, alicerçada no egoísmo.
Jamais eu irei fazer como o Fantasma da Ópera, amar alguém e exigir dessa pessoa exclusividade do amor, que ela não pode amar mais ninguém.
O que fascina em mim não é o gênio musical do Fantasma da Ópera e sim a capacidade de amar incondicionalmente. Essa forma de amar não encontra barreira quando os dois amantes se permitem. Agora, se um ama de forma condicional irá exigir um amor exclusivo, para dar e receber. Se o outro ama de forma incondicional irá aceitar e praticar um amor inclusivo, para dar e receber.
Aqui está o conflito e a incompatibilidade entre eu e a minha amada e que ela associou ao Fantasma da Ópera. Ela ama de forma condicional, como ama o Fantasma da Ópera; eu amo de forma incondicional, como não vi ninguém até hoje amar.
Ela pode me considerar uma fera por me permitir amar tantas mulheres, a humanidade, a natureza. Mas não sou um predador, pelo contrário, deixo preparada todas minhas amantes, seja profissionalmente, psicologicamente ou financeiramente, para me descartarem quando assim for conveniente para elas, como aconteceu mais de uma vez, e nem por isso fiquei revoltado ou deixei de amar quem assim procedeu. Estou sempre disposto a abrir, por amor, a minha mão se por acaso ela se fechar, já que conscientemente ela sempre está aberta.
A minha forma de amar, apesar de não permitir exclusividade com ninguém, ela procura sintonizar com harmonia em todos os departamentos da sensibilidade do ser amado, até o mais profundo nível, da união dos corpos, do amálgama da carne, fazendo o milagre previsto na Bíblia: o homem se tornar com a mulher “carne da mesma carne”. É este encantamento que a minha forma de amar faz que a pessoa desenvolva uma dependência emocional, concordo, mas jamais uma dominação, pois a pessoa sempre está livre para seguir o caminho que deseja. Dependência porque a pessoa experimenta o prazer de está comigo e dessa forma dispara no cérebro regiões que liberam substâncias químicas que gera sempre que possível o desejo de voltar a ter aquela mesma sensação. Isso alimenta o amor romântico e também o exclusivismo, o egoísmo, daquele prazer pertencer somente aquela pessoa.
Nesse ponto o conflito fica mais claro. A pessoa reconhece o quanto é salutar, prazeroso, está com o amante incondicional, mas é identificado o ponto de conflito, de não permitir que esse amor seja dividido por mais ninguém. Assim, os aspectos negativos começam a prevalecer sobre os positivos e nesse ponto, concordo, deve haver um afastamento da fonte que causa angústia. Eu não posso tomar essa iniciativa, não sei quando chegou o ponto dos malefícios ultrapassarem os benefícios para a outra pessoa. Para mim os benefícios nunca serão ultrapassados, nunca deixarei de amar quem já aprendi a amar, mesmo que por essa pessoa nunca tenha tido alguma paixão. O máximo que posso fazer é ter algum tipo de afastamento de alguma pessoa quando sentir que a harmonia que deve existir na convivência foi perturbada.
Posso sofrer a acusação de querer ser um tutor, um orientador, professor, ou mesmo um anjo, quando procuro falar sobre a minha forma de amar, de justificar, de procurar sensibilizar para a sua prática. Mas tudo isso é feito sem jamais querer incluir dentro dele um sentimento de posse. Não quero fazer de ninguém uma extensão de mim, mas para conviver comigo em harmonia é necessário, muito além de ser carne de minha carne, sintonizar com meus pensamentos, sentimentos e ações, justificando-os com prazer e honestidade frente a qualquer pessoa, distante ou próxima.
Não posso ser acusado como o Fantasma da Ópera foi de ser um ídolo caído, de ser um falso amigo. Nunca disse que eu era diferente do que sou, que eu traí a amizade ou o companheirismo de quem quer que seja, pois todos sabem dos meus limites e dos meus projetos; nunca enganei ninguém nem quero que convivam comigo sem questionar. Posso sim, fazer derramar lágrimas, quando as pessoas percebem que não podem mudar a pessoa em que me tornei, que aceito e que incentivo.
Se essa é a minha deformação moral conforme assim muitos imaginam, que provoca repulsa, que não tenho direito a compaixão ou piedade, que assim seja, pois vivo isolado no meu mundo de sonhos. E esse é o meu maior castigo, do tanto amor que sei ofertar, de ninguém o mesmo amor eu consiga receber.
Sou o Fantasma da Vida que não mereço ser tratado como um ser humano, daqueles que sabem amar e exigir exclusividade, que são capazes de matar por esse “amor”, que sabem sentir só para si um dom que por natureza divina deveria ser para todos.