Jesus falava que Ele, o filho do homem, não tinha onde colocar a cabeça, que não tinha um lar estabelecido. Vivia de aldeia em aldeia, de comunidade em comunidade, pregando a vinda do Reino de Deus através da prática do Amor Incondicional. Mais de dois mil anos se passaram e esse Reino que Ele dizia está próximo ainda não foi realizado em nenhuma sociedade, por mais evoluída científica e tecnológica que seja. No entanto, apesar de suas lições fazerem parte significativa de nossas lembranças, da nossa mente, esse Reino de Deus ainda não foi alcançado em nossa sociedade. Sei que Ele também ensinou que essa construção deveria iniciar a partir dos nossos próprios corações, cada um de nós deveria limpar as impurezas do egoísmo que serviu num primeiro momento para a nossa sobrevivência, mas que a partir da maturidade existencial atrapalha a evolução espiritual.
Muitos devem existir como eu, que se esforçam para fazer essa limpeza no coração e de ser uma pessoa cada dia melhor. Mesmo assim não conseguimos construir esse Reino dos Céus que é o objetivo final. O esforço continua centrado em divulgar a mensagem do Cristo por todo o mundo, muitas vezes com a prática impregnada de egoísmo, justamente o que se deve combater. Esse tipo de apostolado de divulgação da Boa Nova por todo o mundo, tarefa principal dos primeiros apóstolos, tem uma característica parecida com a do Cristo no sentido de não ter um lar, de viver de comunidade em comunidade difundindo a mensagem, como Paulo de Tarso tão bem exemplificou, apesar de não ter conhecido pessoalmente o Cristo.
Neste momento de nossa evolução enquanto humanidade, acredito que devemos dar o salto de qualidade e partir para a etapa seguinte, sair da etapa onde o principal é a divulgação da mensagem, para a etapa em que o principal é a aplicação na prática dos ensinamentos do Cristo. Devemos agora nos estabelecer numa comunidade, num lar e deixar a vida nômade evangelista. Devemos encarar a Natureza total como o retrato vivo de Deus, que devemos reverenciá-Lo acima de todas as coisas e em segundo lugar amar ao nosso próximo como nós mesmos. Com essa determinação eu deixo de ser uma pessoa sem lar, sem amarras na comunidade, sem companheira, sem filho, como Jesus e Paulo foram, e passo a ter a família construída com base nas lições evangélicas, do Amor Incondicional, como a célula do Reino de Deus. Com o mesmo amor que eu construo a minha família, que deixa de ser nuclear e passa a ser ampliada, com o amor que deixa de ser exclusivo e passa a ser inclusivo, de romântico passa a ser incondicional, eu vejo cada família, cada ser humano ao meu redor. Tenho um lar onde escorar a cabeça, mas por onde eu ando a qualidade desse Amor que eu passo a aplicar nos meus relacionamentos constrói para mim lares onde eu possa repousar ou até ficar se for do interesse do Amor Incondicional.
Portanto, o construtor do Reino de Deus tem o mundo como seu lar, onde cada pessoa de seus relacionamentos pode ser um filho, um pai, um avô, um amante, um amigo... enfim, onde pousar neste mundo sem fim, ali é uma extensão do seu lar. E todos que pensam e agem assim tem essa mesma perspectiva e quando no mundo existir gente suficiente com essa prática, teremos alcançado o Reino do Pai.