Recebi um texto de uma pessoa muito querida que inicia falando dos fracassos sentimentais. Voltei o conceito para dentro de mim e rebusquei na memória e no coração se eu também sinto ou já senti algum fracasso sentimental.
Consultando minhas lembranças, acredito sim, que eu tive diversos fracassos sentimentais, por diversos motivos. Um deles e o mais frequente era a minha introversão, timidez. A primeira garota por quem eu desenvolvi um forte sentimento romântico, jamais soube, naquela época, que eu estava tão apaixonado. O seu nome lembrava os prazeres divinos e era assim que eu me sentia perto ou imaginando ela. Porém não conseguia nem fixar meus olhos nos dela, pelo contrário, eu a evitava como o diabo deve evitar a cruz. Mesmo frequentando a casa dos pais dela, pois seu irmão era meu amigo e estudávamos juntos, eu evitava ao máximo olhar para ela quanto mais chegar próximo. A minha paixão era consumida na imaginação, eu vivia aventuras e idílios magníficos “na sua companhia”. Este foi o meu primeiro fracasso sentimental.
O segundo fracasso eu posso dizer que estava namorando, acredito, não tenho muita certeza. Lembro que fui com ela uma vez ao cinema e trocamos o primeiro beijo. Que coisa doce! Parece que sinto até hoje o sabor. Seu nome também evocava coisas divinas... Nevinha! Naquele escurinho aconchegante e encontrei coragem para fazer essa proeza, experimentar a doçura desse beijo. Mas fiquei muito decepcionado quando soube que ela estava namorando um dos meus poucos amigos.
Não lembro de outros fracassos sentimentais tão fortes quanto esses dois na minha fase de adolescência. Depois de casado eu não sofri mais fracassos sentimentais. Foi nesse período que houve a grande transformação dentro de mim, lentamente, com sofrimento e sem eu saber o que estava acontecendo, a minha mente deixava de priorizar o amor romântico e colocava acima dele o amor incondicional. Hoje eu faço essa reflexão, mas naquela época não era assim. Eu apenas sentia a força da paixão chegando dentro de mim e eu fazendo toda engenharia cognitiva para não aceitá-lo, pois eu era casado e não podia me envolver sentimentalmente com ninguém. Porém o coração apresentava argumentos com tanta lógica que fez ruir a fortaleza dos meus preconceitos. Essa lógica apresentada pelo coração, hoje eu tenho certeza que vinha direto dos princípios do Amor Incondicional, mesmo eu não sabendo ainda da sua existência dentro de mim. Foi ele que me protegeu desses fracassos sentimentais, pois a prioridade não era eu ter aquele amor romântico a qualquer custo, pelo contrário, a prioridade era eu saber que o objeto do meu amor estava feliz, mesmo que fosse ao lado de outra pessoa. Fiquei imunizado contra o ciúme, devidamente vacinado contra os efeitos nocivos dos meus desejos, dos meus instintos animais.
Focando agora no presente, eu não me sinto fracassado por nenhum tipo de sentimento romântico, que é esta adjetivação que se aplica ao sentimento em estudo. Mesmo que eu viva sozinho e vez por outra alfinetado ou ameaçado pelos desejos românticos de minhas companheiras, sinto uma felicidade constante que resiste com bravura a todos os sofrimentos que chegam até a minha consciência devido a essa incoerência de quem deseja acompanhar os meus passos: amar com sentimentos de exclusividade a quem por natureza só consegue amar com sentimentos de inclusividade.
Desde que coloquei o Amor Incondicional acima do amor romântico, não tive mais fracassos sentimentais e tenho segurança que não mais os terei no futuro. A minha forma de amor atual não está configurada em determinada pessoa, por mais apelo sentimental ou sexual que ela apresente, está configurada para o grande Arquiteto da Natureza, o meu Criador essencial, com o qual desejo cada vez mais aprofundar minha relação afetiva, mesmo que seja através dos seres humanos que Ele me apresenta, principalmente com as mulheres que destina à minha companhia, mesmo que seja por pouco tempo devido aos interesses diferentes que elas apresentam e não conseguem mudar.