Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
08/03/2015 23h59
LIBERDADE E RESPONSABILIDADE

            Os atentados de Paris do extremismo islâmico ao jornal francês Charlie Hebdo provocou uma reação mundial em defesa da liberdade de expressão. Junto a minha consciência a este clamor que subiu aos céus contra ações tão condenáveis e inadmissíveis. Jamais foi, nem será, legítimo matar ninguém em nome de Deus.

            Surgiram na mídia com frequência os termos de fundamentalismo e extremismo, que podem ser confundidos, ambos são condenáveis, mas são duas coisas diferentes. O fundamentalismo consiste em ter um conjunto de ideias e pretender que todo mundo pense igual. Assim, o Islã é fundamentalista porque não aceita que exista outra verdade fora da que está no Alcorão. Pode ser que um crente islâmico não faça mal a ninguém, mas considera o mundo não islâmico como um mundo de pecado e falsidade. Isso é fundamentalismo. Também a Igreja Católica passou em certos momentos de sua história por esta forma de pensar.

            O extremismo deriva dessa crença e motiva alguém a matar quem não pensa como ele ou obrigá-lo a assumir sua fé. Isso além de ser um grande erro, também é algo impossível, porque ninguém muda suas crenças profundas por medo, mas pelo descobrimento da verdade. Isso também aconteceu com a Igreja Católica na idade média. Mas a Igreja Católica mudou muito a partir do século XIX, chegando ao ponto do Papa João Paulo II pedir perdão a humanidade pelos fatos do passado e deixou claro que nunca mais será possível justificar a morte de ninguém por motivos religiosos.

            Então os fundamentalistas e extremistas se sentem na liberdade de justiçar os infiéis; os infiéis se sentem na liberdade de expor os seus pensamentos. Ficam criadas assim as condições de conflito que estourou na chacina do jornal. Deve existir algo que previna esse tipo de situação.

            Um autor americano, Michael Novak, dizia que do mesmo jeito que existe uma estátua da liberdade na costa leste dos Estados Unidos, deveria existir na costa oeste, outra estátua da responsabilidade. Essa é uma solução inteligente, associar o direito à liberdade ao cumprimento de uma responsabilidade.

            É o caso de qualquer pessoa ter o direito de dirigir um carro, mas tem que ter a responsabilidade de respeitar as leis de trânsito. Assim, todo direito deve sempre estar acompanhado de um dever, de uma responsabilidade no seu uso.

            Com essa visão podemos dizer que é preciso condenar os atentados, mas a forma do jornal francês se expressar sobre o Islã ou Maomé, não era adequado nem respeitoso. Lembro-me de uma charge em que ele colocava a Santíssima Trindade um atrás do outro, o Pai “enrabando” o Espírito Santo, e o Filho “comendo” o Pai, mais ou menos assim, não lembro agora a ordem. Isso me causou certa repugnância intelectual e emocional, mexeu com meus princípios morais e disciplinados mais profundos. Era uma espécie de contaminação dos valores espirituais divinos com o que existe de mais chulo no comportamento humano. Mas mesmo assim não surgiu dentro de mim nenhum pensamento destrutivo ou homicida contra aqueles jornalistas que fizeram isso. Mesmo porque o Deus que eu professo e procuro seguir as lições de seus embaixadores, jamais iria destruir um ser humano da Sua criação por atos inadequados e inconsequentes, por exercer a liberdade sem o senso da responsabilidade, já que ele foi criado simples e ignorante e deve estar muitos deles em fase bastante atrasada espiritualmente, mesmo que evoluídos academicamente.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 08/03/2015 às 23h59