A Justiça tem inúmeros significados. Em sentido metafísico, vertical e transcendente empregado por Jesus, no grande Sermão, não tem nada que ver com essa justiça que geralmente conhecemos, essa justiça no Direito. A justiça no Direito, por sua própria natureza, ignora o homem em seu ser, conhece-o tão somente por sua projeção externa, em seus atos, no campo funcional do seu fazer. Ela é quantitativa e tem por finalidade estabelecer uma reciprocidade ou retribuição entre os seres humanos, dando a cada um o que ele merece, seja um bem ou seja um mal, tendo em vista um comportamento ou conduta anterior. No fundo não passa de um simples freio ao egoísmo individual e à libertinagem coletiva. Só serve realmente para administrar a violência e a coexistência precária e sofrível dos profanos em sociedade e aí, o máximo que ela consegue atingir é certa tolerância, um armistício, uma paz armada.
Mas, a Justiça dos iniciados, daqueles que se transmentalizaram e, por isso, já sabem que vieram ao mundo e nele estão para servir e não para serem servidos, a Justiça do Eu e não do ego, vai muito além de todos os conflitos, carências, querências, limitações, bem como de quaisquer circunstâncias administradas pelos homens.
Essa Justiça superior, essa verdadeira Justiça, que pode fazer de mim um ser feliz ou bem-aventurado, tem a origem, a natureza e a majestade do Infinito. Ela é a própria “justeza” da criatura com o seu Criador, do filho com o Pai, do homem com Deus. Enfim, ela é pura santidade.
A fome e a sede dessa Justiça costuma manifestar-se na minha consciência, ainda de forma incipiente, de início como uma estranha insatisfação, uma espécie de angústia metafísica, nostalgia da alma, uma veemente e incontrolável saudade de Deus. É quando me sinto como um estrangeiro, embora estando em minha própria terra; sinto-me enfastiado do mundo, desalojado, praticamente um estranho no ninho. Esta fome e esta sede bem-aventuradas é que me podem abrir a mais sublime de todas as jornadas, essa bendita jornada que conduz o finito ao seio do Infinito, o filho aos braços do Pai. Ao beber dessas águas divinas, sei que nunca mais posso ter sede. Finalmente, então, estarei saciado. Ao atingir as culminâncias da minha consciência experimental evolutiva, passo a saborear em Espírito e Verdade, uma felicidade simplesmente única e indefinível, a de cumprir a Vontade do Pai como se fosse a minha própria vontade.
Sob esse aspecto já não há diferença entre o filho e o Pai. Assim, posso dizer como Jesus, “eu e o Pai somos um”. Mas para isso, tenho que saber que sou embaixador de Deus no mundo, munido de todos os poderes, e portanto tenho que fazer a Sua Vontade. Sou criatura, é verdade, porém não sou apenas criatura criada. Tenho na mais profunda profundeza de mim mesmo, a natureza do Universo, a poeira das estrelas, a semente do Amor Incondicional que amadureci ao longo de milênios com o meu esforço pessoal. Sou criatura sim, mas já bem amadurecido espiritualmente pelos meus méritos pessoais. Portanto, agora sou, fundamentalmente, criatura criadora, partícipe e colaborador consciente da gigantesca obra da criatividade universal, do Criador Onipotente.
Dentro desse projeto cósmico e infinito da criação, do Criador, a minha maior tarefa, sem nenhuma dúvida, tarefa que é somente minha, e por isso mesmo irrecusável, insubstituível e intransferível, é o autoconhecimento, a autolibertação e autorrealização de mim mesmo e em favor da Harmonia Universal, ajudando os irmãos mais atrasados a adquirirem essa mesma consciência. Somente então é que serei definitivamente saciado. E cada um de nós tem a mesma destinação nesse Universo, cada um com seu caminho próprio a seguir, desde que esteja em harmonia com a Natureza, fazendo a Vontade do Criador.