Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
29/03/2015 00h01
PUROS DE CORAÇÃO

            Procuro desenvolver a sabedoria de desapegar-me dos bens materiais e das circunstâncias da vida, ser um pobre pelo Espírito e possuir o Reino de Deus dentro do meu coração. Sei que devo ir mais além, desapegando-me não somente dos prazeres dos sentidos, como também das loucas emoções do coração e dos famigerados orgulhos da mente, para que somente assim eu consiga purificar meu coração, possuir o Reino dos Céus e sentir Deus dentro de mim, ser uno com o Pai. Assim atingirei a sexta bem-aventurança que Jesus ensinou: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus (Mt 5,8)”.

            Esse “ver a Deus” não consiste em nenhum tipo de visão física, seja por meio de minhas grosseiras retinas de ordem material, seja por uma espécie de retina energética ou astral, após a morte biológica. Deus não pode ser “visto” assim desse modo, porque Ele é Absoluto, Infinito, Eterno e necessariamente Ilimitado. Ver a Deus significa percebê-lo espiritualmente, vislumbrar sua Essência, Conhecê-lo em seus desígnios e propósitos acerca do mundo, da humanidade e, sobretudo, a respeito de mim mesmo. Ver a Deus é viver em sua Presença, acima de toda ilusória noção mental ou intelectiva de tempo e espaço. É mergulhar consciente e subjetivamente na Eternidade e no Infinito.

            Para que eu possa ver a Deus, é preciso que eu seja puro, seja limpo, tanto no corpo como na alma, o que realmente não é fácil, muito menos nessa dimensão telúrica pesada, obscura e de baixíssima vibração na qual me encontro. Desapegar-me dos bens da matéria, possuindo-os ou não, para mim já não é fácil. Tenho como exemplo o acúmulo de livros e DVDs que tenho abarrotados em meu apartamento. O desapego do próprio ego, então, é muito mais difícil. Este abandono da megalomania pirotécnica do meu ego fogueteiro, anticósmica mania que ele tem de idolatrar-se e fazer propaganda barulhenta de si mesmo, parece até impossível corrigir. Mesmo que eu me sinta confortável quando me comparo com outras pessoas, pois sei que elas me veem como uma pessoa humilde nesse aspecto, eu sei que ainda falta muito para que eu atinja o estágio de pureza.

            Como me considerar “servo inútil”, conforme ensina Jesus, principalmente quando o ego, de fato, cumpre todas as suas obrigações virtuosas para aparecer bem para os outros? Como enfrentar esse terrível egocídio que é necessário? Como, então, posso morrer voluntariamente antes de morrer compulsoriamente?

            Estas e outras objeções do ego, à primeira vista, são bastante lógicas e razoáveis. Porém, todos os homens crísticos e autoiluminados, aptos a ver a Deus, de todos os tempos e lugares, demonstraram sempre, não somente com seus ensinamentos, mas, acima de tudo, com suas próprias vidas, a inconsistência de qualquer desculpa egoica. Segundo tais gigantes do Espírito, o ego que não se integra no Eu, que não encontra seu caminho para Deus, não ultrapassou ainda seu estágio incipiente (elementar) e insipiente (ignorante) de evolução espiritual. Esta é a razão porque continua sendo um ego psicologicamente frouxo, moloide, lesmoide, ou moluscoide. É obvio que um ego moloide não pode ver a Deus!...

            Se eu conseguir a necessária coragem e desenvolver uma sabedoria que me permita trilhar o “caminho estreito” do desapego total e, desse modo, passar pela “porta apertada” da renúncia completa, verei com muita surpresa, que o ego, em verdade não morre. Algo em mim irá morrer, morre sim, pois não existe parto espiritual sem dor, todavia, não é o ego que morre, é o egoísmo, isto é, a própria impureza.

            Sei que devo reconhecer meus pecados perante o Senhor, isso é até fácil. Devo me comprometer em não repeti-los, e aí se encontra o problema. Não encontro forças até o momento para evitar cometer os erros que sei que cometo. Tenho como termômetro dessa dificuldade o desejo da alimentação. Sei que é errado comer exagerado e que prejudico meu corpo, o templo de Deus. No entanto não consigo parar o desejo que se instala na minha mente a serviço do ego indisciplinado. Termino com sobrepeso e até com níveis de obesidade. Este é um dos exemplos mais simples da dificuldade que tenho de cumprir, esse compromisso que tenho com o Pai, de administrar corretamente e proteger o corpo que Ele me deu.

            Mesmo reconhecendo tão graves defeitos na minha conjuntura espiritual atual, o que me contenta é que sinto que estou caminhando em direção à luz, mesmo com todos esses percalços que identifico na rota. Sei que a minha meta é me tornar tão iluminado e puro, que a própria beleza de Deus possa brilhar em mim, mesmo que isso leve séculos e séculos de aprendizado nas diversas vivências pelas múltiplas moradas do Pai... Terei paciência e persistência!  

Publicado por Sióstio de Lapa
em 29/03/2015 às 00h01