Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
31/03/2015 00h01
FELIZES OS PACIFICADORES

            Participei em Campina Grande de uma caminhada pela Paz puxada pelo pessoal do Harekrishna; aqui em Natal, na última reunião da AMA-PM foi apresentada uma proposta de fazermos uma caminhada pela Paz na Rua do Motor. Muitos políticos e estadistas em tempo de crise organizam ruidosas conferências sobre o tema da Paz. Teólogos e chefes eclesiásticos de maneira semelhante promovem encontros pela Paz no âmbito de suas igrejas. Tudo isso na melhor das hipóteses só consegue atingir a periferia da questão. Falar de Paz ou em favor da Paz é uma ilusão, se aqueles que fazem isso são os promotores de discórdia, de intolerância, de guerras.

            Os homens, pelo menos os melhores, sempre sonharam com a Paz, mas o mundo nunca se livrou da guerra. Somente aqui no Ocidente, Pitirin A. Sorokin, sociólogo russo, naturalizado americano, assinalou 967 guerras travadas entre os anos 500 aC a 1952 da nossa era. Em média uma guerra a cada dois anos e meio de história. Há razões para supormos que atualmente o mundo tenha mudado? Nenhuma! Países africanos, Coréia, Índia, Vietnã, Sérvia, Croácia, Paquistão, Afeganistão, Estados Unidos, Inglaterra, Argentina, Israel, Líbano, Palestina, Iraque – são exemplos que nos mostram exatamente o contrário. Tudo isso sem entrar no famigerado problema do terrorismo, que assolou nosso país e cuja militante uma mulher que hoje se encontra no poder e tudo mostra que fomenta o ódio na população. Tem como acreditarmos nos homens que falam sobre a Paz e mantém o mundo como está? Nosso mundo jamais conheceu a Paz, pois o máximo que conseguimos é um armistício, um breve intervalo de pseudoPaz entre duas ou mais guerras. Qual a causa de tudo isso?

            A Paz só é possível se cada homem conseguir pacificar a si mesmo. A Paz não é uma causa, é uma consequência. Enquanto não houver Paz dentro do homem, a serenidade imperturbável da alma, será impossível eliminar qualquer espécie de conflito, seja na família, na escola, na empresa, na igreja, nas nações. Um homem de Paz, um homem de verdadeira Paz, a exemplo de Jesus ou de Mahatma Gandhi, vale mais para a pacificação do homem e do mundo do que todos os demagogos e autoiludidos juntos, sejam eles políticos ou teólogos.

            “Deixo-vos a Paz, dou-vos a minha Paz; não vo-la dou como a dá o mundo”. (Jo 14,27) Jesus nos disse isso, sabendo que poucas horas depois iria morrer e de morte horrível, morte na cruz. Mas porque o Cristo em Jesus não nos dá a Paz do mundo? Justamente, porque o mundo nada sabe de Paz. O mundo ainda jaz no maligno, na ignorância, e o seu príncipe é o poder das trevas. Por isso, a linguagem do mundo é a astúcia, é a força, á a violência, é a guerra. Jesus não nos dá a paz do mundo, Ele nos dá a Paz do Cristo, mas somente para quem já desenvolveu a consciência da Paternidade Única de Deus, pois a ninguém é dado entrar indevidamente, de contrabando, no reino da Verdade Libertadora, no reino dos Céus, no reino do Cristo Interno.

            Gandhi também foi um homem de Paz e pacificador. Ele dizia que “O Amor plenificado de um único homem neutraliza o ódio de muitos milhões.” O grande sábio sabe o que diz, porque o Amor é presença, enquanto o ódio é ausência. A vida do Mahatma, enquanto esteve entre nós, foi toda ela uma confirmação prática dessa verdade. Gandhi provou, não somente com palavras, mas, sobretudo com sua própria vida, que o Amor é realmente presença, presença de Deus no mundo, ao passo que o ódio não passa de ausência, ausência de Amor no homem. Uma migalha de verdadeira presença pode calcinar um vasto oceano de ausência. Esse amor-presença é um Amor tríplice, que envolve o Amor Incondicional a Deus, o amor ao próximo sem esperar nenhuma recompensa, e o Amor desinteressado à Natureza.

            A verdadeira Paz só pode nascer de um coração puro, limpo e crístico. A Paz somente pode ter origem na mansuetude de quem já conscientizou a Paternidade Única de Deus. Exatamente por isso sabe por experiência própria, com aquele saber que nada nem ninguém podem lhe tirar. Nem mesmo a morte pode tirar essa consciência de que somos verdadeiramente irmãos na fraternidade universal.

            Esta é a única possibilidade para que o mundo inteiro se uma, entrelaçando-se na globalização do Amor, da Paz e da Esperança. Sei que é difícil isso acontecer, pois temos que vencer nossa resistência animalesca instintiva que automaticamente eclode em nossas consciências em por motivos tão fúteis. Lembro que da última vez que vinha de Caicó para Natal, sentaram-se nas cadeiras perto de mim um grupo de estudantes ruidosos e brincalhões. Aquilo atrapalhou a concentração que eu tinha na leitura que fazia e senti subir na minha consciência uma raiva com vontade de repreendê-los com autoridade. Mas logo em seguida surgiu também na consciência o reflexo dessas lições e considerei a questão de qual seria o meu comportamento com esse grupo ruidoso e brincalhão se fosse composto de meus filhos ou irmãos biológicos? Logo a emoção instintiva atenuou, pois se fosse assim, a minha postura cognitiva seria de alegria e harmonização por eles estarem perto de mim. Então, aquele grupo de pessoas desconhecidas também não filhos do mesmo meu Pai? Por que não os considero como irmãos como eu consideraria se fossem meus irmãos biológicos. De imediato a raiva se dissipou e suas piadas não mais afetaram a minha concentração na leitura. É um exemplo simples, eu sei, mas é uma boa amostra do que acontece com nossas emoções de forma automática e que devemos estar sempre atentos para desarmar a bomba da raiva e do ódio que gera conflitos e guerras e leva para longe a possibilidade de Paz.

            Os grandes mestres estão corretos, a Paz deve começar dentro de mim até o ponto de ficar puro o suficiente para fomentar a harmonia da Paz ao meu redor e saber que o Cristo se refere a mim quando ensina: Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus.”  

Publicado por Sióstio de Lapa
em 31/03/2015 às 00h01