Essa questão da ressurreição até hoje é colocada como uma verdade inconteste para a Igreja Católica, um fato realizado e testemunhado por diversas pessoas. Para a ciência, no atual estágio de conhecimentos, é uma possibilidade impossível, um corpo que passou pela morte ter novamente suas células vitalizadas e surgir para uma nova vida. Nem mesmo o caso de Jesus se aplica esse conceito, pois o seu corpo ressuscitado parecia muito diferente daquele corpo que ele usava antes da crucificação. Era um corpo que ele advertiu a Maria Madalena para que não o tocasse, pois ainda não estava pronto e foi esse corpo que venceu a lei da gravidade e ascendeu para o céu.
Mas esse questionamento não foi feito, de que natureza era esse corpo que se imaginava e parecia ressuscitado. Será que era composto das mesmas células do corpo antes da morte? Que necessitava de ser alimentado, podia se reproduzir ou sangrava se fosse ferido? Que teria de surgir e desaparecer com o uso dos próprios pés e que poderíamos acompanhar esse processo com nossos olhos?
Não foi assim. O inusitado de se ver novamente uma pessoa que todos sabiam que havia morrido, fez logo a crença funcionar na base de que todas as células foram revigoradas e aquele corpo voltava a possuir sua fisiologia original sem nenhuma alteração. A crença dos primeiros apóstolos estava alicerçada nessa ideia e a todos procuraram informar e ensinar da forma que imaginavam ser a verdade. É tanto que o próprio Paulo, apóstolo que não chegou a ver o Cristo, e que era doutor na sinagoga, também se deixou contaminar por essa ideia e a divulgá-la pelo mundo dos gentios. Ele dizia em suas cartas que “Se Cristo não foi ressuscitado, nós não temos nada para anunciar e vocês não tem nada para crer. (...) Se Cristo não foi ressuscitado, a fé que vocês têm é uma ilusão. (...) Se Cristo não ressuscitou, os que morreram crendo nele estão perdidos. (...) Se a nossa esperança em Cristo só vale para esta vida, nós somos as pessoas mais infelizes deste mundo.” (Revista Veja, 8-04-15).
Monsenhor Antonio Luiz Catelan Ferrera, teólogo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, diz que o cristianismo conquistou o paganismo romano com a promessa da vida eterna, de mãos dadas com Cristo ressuscitado. O filósofo marxista alemão Ernst Bloch (1885-1997) dizia que “Não foi a moralidade do Sermão da Montanha que permitiu ao cristianismo conquistar o paganismo romano, e si a crença de que Jesus se erguera dos mortos – o cristianismo competia pela vida eterna e não pela moralidade”.
Na minha forma de ver, a mecânica desse processo de ressurreição pelo qual deve passar todos os seres humanos que viveram e morreram neste planeta, não possui qualquer lógica. Como sei, a deterioração dos corpos leva a reutilização por outros seres vivos que são gerados a cada momento na face da terra. Dessa forma, um átomo ou uma molécula pode ser utilizada por mais de um corpo. Como então isso seria no dia do Juízo Final, quando todos terão que ressuscitar para serem julgados? Uma molécula ou átomo poderia pertencer a mais de um corpo? Como seria essa fisiologia? Mesmo que isso fosse possível por mecanismos que eu não conheça, esses corpos serão muito diferentes daqueles que eu conheço hoje.
Mas enfim, não é essa questão da ressurreição, da vida eterna representada por este corpo que hoje digita este texto, que me atrai ao cristianismo e de me esforçar em ser um discípulo do Cristo. O que me atrai são justamente os elementos morais, do Amor Incondicional, e que foram ignorados no passado e que me parece até hoje também. Quando eu festejo junto com meus irmãos o dia da Páscoa, da ressurreição do Cristo, não é aquele falecido que foi sepultado na tumba da família de José de Arimatéia. A ressurreição de Jesus significa que posso alcançar um novo tipo de vida após a morte do meu corpo físico, de acordo com o bem que eu tenha condições de praticar ao meu redor, ficando cada vez mais próximo do Pai, como Jesus ensinou.