Estou, junto com alguns irmãos, dispostos a construir um modelo do Reino de Deus a partir do trabalho comunitário na Praia do Meio. Cada um dos irmãos, a começar por mim, possuem os seus vícios e defeitos, como assim sucedia com os primeiros apóstolos. Então, é até natural que se observe conflitos no canteiro de obras entre esses trabalhadores, que podem levar a atrasos no alcance da meta.
Vejo que esses conflitos estão sempre ocorrendo entre os trabalhadores mais próximos ou distantes de mim. Aconteceu anteontem um conflito entre as duas pessoas mais próximas de mim dentro desse projeto e que desempenham um trabalho com muita profundidade dentro dos objetivos da comunidade.
Vinha com elas para fazermos o nosso lanche noturno antes da reunião do estudo espiritual que fazemos sempre nas terças feiras, quando começou uma saraivada de críticas quanto o comportamento que um trabalhador sintonizado com o Cristo deve ter dentro da comunidade, retrucado com palavras duras que jogadas ao ar tinham o efeito de uma pedrada. Notei que o choque foi forte e que o silêncio que se seguiu foi a estratégia que ambas encontraram para frear os efeitos devastadores do conflito sobre a alma. Felizmente!
Fiquei a imaginar o que eu poderia dizer para aliviar os danos que foram causados pelo conflito. Não encontrei palavras ou assuntos que tivessem o efeito de bálsamo sobre essas dores. Avaliei que o que eu dissesse naquele momento onde as emoções estavam incendiadas pudesse despertar novamente as razões do conflito, e até essa aparente calma do momento se perderia.
Porém, durante o estudo espiritual, foram abordados os argumentos do livre arbítrio, que todos podíamos exercê-lo, mas dentro de alguns limites permitidos pelo Criador dentro do projeto de vida que foi elaborado no mundo astral para cada um seguir no mundo material. Observei que era a chance que eu tinha de levar o assunto sobre a reflexão do que havia acontecido, sem discorrer diretamente sobre o fato observado ou citar ninguém.
Falei que realmente existiam limites para a aplicação do livre arbítrio, principalmente quando consideramos o que queremos ou não fazer. Todos nós sabemos que no processo da reforma íntima que cada um deve fazer, como é difícil praticar as virtudes e corrigir os vícios e defeitos. Então, todos cairão fatalmente em erros e desvios do comportamento daquilo que desejam ter ou fazer. Quem está observando os atos e quedas dos amigos deve ter uma postura de compaixão pelos erros que observa nos outros, mesmo porque amanhã, fatalmente serão eles mesmo que estarão errando.
Essa forma de pensar, e colocada dentro de um contexto de estudo, sem atingir quem quer que seja, foi a oportunidade do meu pensamento se manifestar e procurar diluir o mal que o conflito causou, principalmente a quem mais teve o papel de ofensor, pois o sentimento de culpa é um forte gerador de doenças na alma.
Agora só resta depois da reflexão, pura, honesta e corajosa, que cada um possa fazer, realizar o próximo passo que exige mais coragem ainda: após o reconhecimento do erro, o ofensor pedir o perdão ao ofendido, recuperando a postura de humildade e de sintonia com o Amor, que é o fator que deve caracterizar cada filho de Deus que deseja ser discípulo do Mestre.