Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
19/04/2015 00h01
O PODEROSO CHEFÃO

            Este filme de 1977 sempre me atraiu por algum motivo. Acredito que seja devido ao tipo deferente e ao mesmo tempo tradicional de se relacionar em família. Retrata uma família mafiosa cujo chefe tem seus princípios bem construídos. Quer ser respeitado, mas não mercenarizado, apesar de suas atividades criminosas. Existe uma ética dos negócios por trás de qualquer ação, mesmo que seja fora dos limites da lei. As pessoas se agregam à sua família numa relação de compadrio e tende a ampliá-la cada vez mais, criando assim uma forma de família ampliada, como eu defendo.

            Talvez essa forma de viver em família ampliada que tem um paralelo com o que acredito, seja o motivo da minha atração por esse filme. Quero deixar claro que a violência que é empregada como meio de viabilizar os relacionamentos e sua hierarquia nessa família ampliada é totalmente diferente da que procuro fazer.

            Na família mafiosa a força que prevalece é a violência associada ao egoísmo de conseguir o maior nível de poder político e financeiro e assim ampliar a sua influência. Tudo isso atende aos desejos da carne, aos instintos biológicos. A ética que se observa está atrelada ao cumprimento desses princípios egoístas onde os grupos entendem que, para sobreviver, devem obedecer alguns princípios que evitem o mútuo extermínio.

            A família ampliada que procuro construir tem um caminho totalmente diferente. A força matriz dessa família é o Amor Incondicional, a solidariedade, a justiça, a verdade, a abnegação, todos esses valores aplicados ao próximo que deve ser considerado e amado como a mim mesmo. O potencial financeiro e político perde importância, pois agora prevalece relacionamentos harmônicos e justos, onde o mais forte ajuda o mais fraco, o mais sábio ensina o menos instruído, tudo isso sem esperar recompensa de quem está sendo beneficiado pela ação.

            Tenho pedido a Deus orientações de como fazer para construir essa família ampliada com a força básica do Amor Incondicional. Toda relação que desenvolvo em qualquer nível ou qualidade, sempre está contaminada pelo amor condicional, que gera todas as complicações de abusos e falsidades, atrito e violência, injustiça e indiferença. Quando levanto a espada do Amor Incondicional vejo a crise surgir dentro de meus próprios relacionamentos parentais, os relacionamentos mais íntimos.

            Na própria comunidade da Praia do Meio onde desenvolvo a militância cristã, também sinto essa dificuldade. Parece que o trabalho que estou oferecendo até agora junto com os companheiros, não passa de um assistencialismo tradicional que mantém as pessoas nas mesmas condições, apenas com suas dores atenuadas devido os atos de caridade. Como construir uma família ampliada, em direção à família universal, ao Reino de Deus?

            Talvez Deus tenha começado a oferecer os meios para isso acontecer na comunidade. Em nossa última reunião da AMA-PM veio até nós uma mãe que teve o filho assassinado e que deixou todos os parentes traumatizados e uma criança órfã. No estilo da família mafiosa o nosso apoio a essa família era promover a vingança e também eliminar o assassino. Mas em nossa família ampliada o apoio deve ser dado a ambas famílias, do assassino e do assassinado, principalmente dessa última na qual aconteceu uma perda real e valiosa: uma vida!

            O nosso olhar para essa família vitimada deve ser de um membro dessa mesma família, mesmo que não existam laços consanguíneos, deve prevalecer a compreensão de que somos irmãos espirituais, filhos de um mesmo Pai (Deus) e de uma mesma Mãe (Natureza). Aquela criança que perdeu o seu pai biológico, deve ganhar de imediato um pai espiritual! O mal que retirou da vida material aquela pessoa do seio da família biológica, o bem automaticamente inclui uma pessoa para assumir todos os laços parentais criando o seio da família espiritual.

            Teremos encontrado assim um Poderoso Chefão dentro dos princípios espirituais, muito mais forte e lindo que o Poderoso Chefão dos princípios da violência. E veremos que não se identifica apenas um Poderoso Chefão, como no filme, mas, cada pessoa que adquire essa consciência de filho de Deus e que age na comunidade como um irmão que pode se transmutar em pai, filho, neto, mãe, amigo, de acordo com as necessidades, essa pessoa é infinitamente mais forte!  

            Parece que este é o desafio que Deus lança para mim que tanto admirei o filme O Poderoso Chefão... Estás pronto, Francisco, para ser a contraproposta espiritual de O Poderoso Chefão?

Publicado por Sióstio de Lapa
em 19/04/2015 às 00h01