Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
09/05/2015 00h01
IMPEACHMENT, SIM OU NÃO?

            Fiquei envolvido em diversos grupos e atividades que terminaram por defender o impeachment da presidente da República. Cheguei a ir às ruas em duas ocasiões em caminhadas com milhares de pessoas pedindo que fosse efetivado esse dispositivo da Constituição Brasileira. Por outro lado existem opiniões contrárias que dizem ser equivocado esse pedido. Uma dessas pessoas é um integrante do governo, o ministro da Defesa, que deu entrevista à revista Época sobre o assunto. Irei colocar os argumentos que ele usa ao ser indagado sobre o que achava dos movimentos de rua que pedem o impeachment e contrapor aos que eu tenho, para talvez, em reflexão mais neutra das emoções dos movimentos eu consiga perceber onde estou equivocado.

            Época: O que o senhor acha dos movimentos de rua pedirem o impeachment?

            Essa é a minha tristeza. Porque eu acho que, quando a sociedade vai para a rua, isso é uma energia democrática intensa. Minha tristeza é porque a única bandeira que até agora saiu é o impeachment – que não é uma bandeira propositiva, e sim uma bandeira negativa. Tirar para botar o quê? Para mim, essa energia toda, que emociona alguns, comove e assusta outros, deveria vir com uma bandeira diferente. Eu ia para as ruas por salário mínimo, férias de não sei quantos dias. Agora saem à rua para pedir impeachment. O impeachment está na regra do jogo. Mas não é a rua que faz impeachment. Quem faz impeachment é o Parlamento. Então eu acho que a energia não tem destinação. Vou chutar uma coisa que eu sou contra: eu sou presidencialista. Mas se a rua saísse com uma lógica “quero um novo referendo ou plebiscito para parlamentarismo”, era uma bandeira.

            Não senti equívoco nenhum em minha forma de pensar com os argumentos do Ministro. Pelo contrário, fiquei até revoltado por ele com a sua inteligência e capacitação política, não perceber o objetivo e razões do movimento das ruas que na minha consciência está tão clara.

            Ele critica que nossa única bandeira é o impeachment, e não pode ser diferente. A presidente que está no poder que agride desde a gramática (exige ser chamada de “presidenta”) até as diretrizes éticas das instituições republicanas democráticas, que se elegeu baseando seu discurso em mentiras e mantendo um sistema de urnas eletrônicas que não podem ser auditadas, que faz no poder aquilo que acusava seu adversário de fazer, não oferece alternativa para as ruas levantarem outra bandeira a não ser o impeachment. Como às ruas podem pedir salário mínimo, férias, ou parlamentarismo, se às ruas veem a corrupção orquestrada pelo partido que ela representa, saquearem a nação e jogarem o saldo nas campanhas políticas em todos os níveis? Se as ruas veem os nossos recursos serem sangrados sem transparência e sem controle em regimes totalitários que ameaçam a liberdade individual e a livre iniciativa do capital?

            Sabemos que as ruas não fazem o impeachment, e sim o parlamento, mas sabemos que o parlamento é sensível à voz das ruas, e esse é o nosso objetivo. Mostrar que estamos consciente do grau de degradação ética que se instalou no poder, que tenta corromper o próprio parlamento (mensalão), sindicatos, igrejas e magistraturas, com o poder das propinas e tráfego de influências.   

            Por isso, Sr. Ministro, não sinto nenhum equívoco em ir às ruas pedir pelo impeachment, pois sinto que nas ruas está a coerência e a procura pela retificação da ética. Mas como o livre pensar sempre tem outras alternativas a ser analisadas, eu poderia imaginar que o equívoco estaria com vossa senhoria, pois numa postura de honestidade defende fatos comprovadamente desonestos que são praticados no seu governo.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 09/05/2015 às 00h01