Fiz no domingo, na casa de meu irmão, uma roda de conversa com os familiares, inspirado numa atividade da Faculdade da minha filha que faz o curso de psicologia. Foi uma atividade preparatória para a “Tenda do Conto” que é a atividade que ela participou na UnP e que combinamos fazermos no próximo domingo, sob a orientação dela.
Eram nove pessoas ao todo e tiramos a ordem de quem falaria através das cartas de baralho. Foi orientado que todos teriam no mínimo 3 minutos para falar, se não quisesse falar todos ficariam ouvindo o silêncio daquela pessoa até completar o tempo.
A primeira a ser sorteada pela ordem era quem mais gostava de falar, mas quando se sente exposta como o centro das atenções, fica inibida e não consegue dizer o que desejaria. É interessante esse processo cognitivo, pois com esse mesmo número de pessoas, todos familiares, ela é quem mais fala e entra em todos os assuntos, mas agora com o tempo determinado exclusivo para ela, fica paralisada na mente. Terminou o seu tempo falando de amenidades, palavras clichês, sem conteúdo cognitivo ou emocional.
A segunda a falar é quem atravessa sérias dificuldades de relacionamento com todos os parentes, que fica sempre trancada em seu quarto e não tem diálogo consistente com qualquer pessoa do seu convívio. Com algumas pessoas consegue falar algo e isso indica a necessidade de fazer a psicoterapia de forma regular. Nesta atividade ela se trancou em sua masmorra psicológica e não disse nada, apenas que não queria falar. Todos ficaram em silencio “ouvindo” o seu silêncio.
A terceira pessoa, falou do seu atual momento em que está na perspectiva de ser pai, de como será a filha que está no sexto mês de gestação, do seu trabalho que confirmou gostar muito e que precisa conseguir mais um trabalho. Não chegou a concluir o seu tempo com o relato sério, entrando nos 30 segundos finais em tons de brincadeira.
A quarta pessoa apesar de ser a de menor idade, procurou desenvolver um tímido raciocínio falando de algo que considerava importante. Mas como era de se esperar não chegou nem a metade do seu tempo. Faltou assunto para discorrer, mas se mostrava receptiva e isso motivou algumas pessoas fazerem perguntas para estimular o seu raciocínio. Conseguiu dessa forma falar até o término do seu tempo.
A quinta pessoa falou com mais desenvoltura e destacou a prioridade que ela estava dando nessa atual fase de sua vida à criação das duas filhas que convivem consigo sem a participação de uma mãe. Mostra as dificuldades que tem com esse propósito, de se sentir muitas vezes cansado e desestimulado pela qualidade de relacionamentos que consegue perceber para si vindo da parte delas.
A sexta pessoa a falar fui eu, falei da motivação espiritual que tomou conta da minha vida, de desenvolver aquilo que considero como a vontade de Deus, de agir sempre com a tônica do Amor Incondicional, amando com inclusividade, sem ter uma família nuclear como todos aparentemente possuem. Eu convivo com três companheiras e com diversas pessoas, inclusive da comunidade, que considero como irmãos e que a qualquer momento que seja necessário eu possa agir como um membro da família biológica. Esse tipo de comportamento obriga a eu morar sozinho, pois cada tentativa de alguém morar junto comigo termina por se confrontar com essa minha ação de incluir outras pessoas no meu relacionamento, inclusive com permissão de entrar na minha intimidade sem qualquer limites ou preconceitos, a não ser aqueles determinados pelo Amor Incondicional.
A sétima pessoa falou das dificuldades que sente nos dias como o de hoje nos quais é comemorado o dia das mães. Sempre, diz ela, se sente triste e melancólica sem saber qual é o motivo real, mas sente que seja das lembranças do passado, do sofrimento, da ausência de afeto por essas pessoas significativas.
A oitava pessoa falou com mais propriedade técnica e sentimentos emocionais. Foi uma fala bem articulada do que sentia no seu processo de vida, da gratidão que sentia por se achar bem sintonizada com o curso que está fazendo. Gastou muito bem o seu tempo e falaria ainda mais com toda a naturalidade e profundidade, se o tempo tivesse sido colocado para todos de forma flexível.
A nona e última pessoa também se mostrou muito inibido ao falar e foi necessário que fossem feitas muitas perguntas para ele completar o tempo, conforme ele permitia.
Terminamos a atividade e combinamos para todos trazer no próximo domingo um objetivo significativo do ponto de vista sentimental para ser construída a “Tenda do Conto” sob uma orientação mais técnica.