Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
22/05/2015 00h01
LUZ E TREVAS

            “Vós sois a luz do mundo. Não se esconde uma cidade sobre uma montanha nem se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim para colocá-la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos que estão em casa. Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus.” (Mt 5, 14-15)

            Dizia-lhes ainda: “Traz-se porventura a candeia para ser colocada debaixo do alqueire ou debaixo da cama? Não é para ser posta no candeeiro? Porque nada há oculto que não deva ser descoberto, nada secreto que não deva ser publicado. Se alguém tem ouvidos para ouvir que ouça.” (Mc 4, 21-22)

            “Ninguém acende uma lâmpada e a cobre com um vaso ou a põe debaixo da cama; mas a põe sobre um castiçal, para iluminar os que entram. Porque não há coisa oculta que não acabe por se manifestar, nem secreta que não venha a ser descoberta. Vede, pois, como é que ouvis. Porque ao que tiver lhe será dado; e ao que não tiver, até aquilo que julga ter lhe será tirado.” (Lc 8, 16-18)

            Estes são os três trechos da Bíblia em que os evangelistas, Mateus, Marcos e Lucas escrevem o que Jesus falou sobre a luz. Jesus falou da importância da luz, mas não aprofundou essa lição, pois ainda não era o momento, não existia a capacidade cognitiva de apreensão de tal informação. No livro de Nelci Silvério de Oliveira, “Os Evangelhos em sua natureza, essência e profundidade”, ele já faz ensaios mais profundos do significado da luz.

            Escreve Nelci que no primeiro yom (período cósmico que abrange bilhões de anos) a essência divina (Elohim) criou a luz de natureza incolor, invisível, indestrutível e imortal, anterior e posterior a luz das próprias nebulosas primitivas. Esta luz que percebemos hoje, visível e colorida, luz temporal e transitória das estrelas, somente foi criada no quarto yom, ou quarto período.

            Moisés quando escreveu intuitivamente o livro de Gênesis também aborda essa questão e se harmoniza com o que escreveu Nelci:

            “No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Deus disse: ‘Faça-se a luz!’ e a luz foi feita. Deus viu que a luz era boa, e separou a luz das trevas. Deus chamou a luz DIA, e as trevas NOITE. Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o primeiro dia.” (Gn 1-5)

            “Deus disse: ‘Façam-se luzeiros no firmamento dos céus para separar o dia da noite; sirvam eles de sinais e marquem o tempo, os dias e os anos; e resplandeçam no firmamento dos céus para iluminar a terra.’ E assim se fez. Deus fez os dois grandes luzeiros: o maior para presidir o dia, e o menor para presidir a noite; e fez também as estrelas. Deus colocou-os no firmamento dos céus para que iluminassem a terra, presidissem ao dia e à noite, e separassem a luz das trevas. E Deus viu que isso era bom. Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o quarto dia.” (Gn 14-19)

            O primeiro yom corresponderia ao primeiro dia da Bíblia onde Deus criou a luz de natureza incolor, invisível, indestrutível e imortal; o quarto yom corresponderia ao quarto dia, com a criação dos astros, os luzeiros do firmamento que nos fornecem a luz visível e colorida, temporal e transitória.

            Essas gloriosas e magníficas visões intuitivas de Moisés, confirmadas por outras visões mais recentes, mas igualmente intuitivas, como as de Einstein, e que Jesus conhecia muito bem, começam a ser comprovadas experimentalmente nos laboratórios de física quântica-nuclear da atualidade. Dessa forma sabemos hoje que toda forma de matéria não passa de energia congelada, e que a energia é apenas luz condensada. Então, tudo é luz. É luz como luz, dotada de máxima vibração possível; luz como energia, de média vibração; e luz como matéria de mínima vibração. Luz > Energia > Matéria.  

            Desse modo, os 92 elementos da química, desde o Hidrogênio (H) até o Urânio (U) são filhos da luz incolor e invisível, que cria a energia que, por sua vez, produz a matéria.

            Podemos concluir que, tudo quanto existe é originado do Absoluto ou Luz Metafísica Divina, por intermédio da luz incolor e invisível, que não é perceptível pelo prisma, que não pode ser decomposta em cores fundamentais. Por isso é que a luz perceptível, que pode ser decomposta pelo prisma, originada dos luzeiros dos céus, é criada pela Luz Metafísica Incriada, que por sua vez produz todas as galáxias e tudo quanto as galáxias contém.

            Por tudo isso, a matéria, ao contrário do que parece, é justamente aquilo que tem o máximo de ilusão e o mínimo de realidade, o mínimo de luz e o máximo de trevas, de tudo quanto possa existir. A matéria é quantidade sem qualidade, ao passo que a luz é qualidade sem quantidade. As coisas, portanto, são tanto mais reais e tanto mais indestrutíveis, à medida que, na cadeia evolutiva, estejam mais próximas de sua origem, mais perto da luz. Inversamente, são tanto mais ilusórias, quanto mais distantes se achem do foco luminoso originário.

            Desse modo, de um lado está a luz incolor, literalmente indestrutível, com o máximo de realidade possível. No meio, ocupando uma posição intermediária, entre a luz criadora e as coisas criadas, temos as diferentes formas de energia ou semiluz ou penumbra, com um nível médio de realidade, na horizontalidade quantitativa e existencial do mundo. Por isso, coisas energéticas que, embora regidas pelo tempo, não ocupam posição no espaço, como o pensamento e o sentimento, são muito mais luminosas e, portanto, muito mais reais do que qualquer coisa material, a exemplo de uma pedra, de uma árvore ou de um planeta.

            Vemos assim que a comparação que Jesus faz do homem com a luz, não é uma simples analogia, mas é a verdade mesma, autêntica e cristalina.

            O homem quando realmente se cristifica, a exemplo de Jesus, torna-se luz metafísica imortal, ou seja, transforma-se naquilo que ele é. O Cristo é a luz divina dentro do homem, é o homem mesmo em sua essência, ainda que não saiba disso. Contudo, ainda saberá... E quando, finalmente, sabe, quando sente esse sabor, quando sabe por experiência própria, sua luz crística deixa de ser meramente potencial ou escondida debaixo do velador ou do alqueire e, fazendo-se atualizada, põe-se então no alto do candelabro e ilumina necessariamente a todos os que estão na casa. Ela é a plenitude divina, da qual todos podem receber graças e mais graças, se forem suficientemente idôneos e receptivos.

            É neste sentido que a cidade da consciência humana, uma vez situada no monte da experiência crística, nunca mais pode permanecer oculta.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 22/05/2015 às 00h01