O livro com o título acima, do Pe. Ferrari M. P. e equipe, fala do martírio na América Latina, mas sabemos que o martírio está em qualquer lugar deste planeta que exista a participação do homem nas suas relações com o próximo. Vejamos como exemplo o Oriente Médio e até civilizações que são consideradas as mais evoluídas e desenvolvidas, técnica e financeiramente, como os Estados Unidos, e no entanto observamos o martírio dentro delas também.
Mas vamos focar nossa atenção hoje nesse trabalho do Pe. Ferrari que fala da nossa região e do trabalho do santo Oscar Romero, que nasceu em 15-08-1917, em Barrios, perto de El Salvador. Foi assassinado no dia 24-03-1980, enquanto oficiava uma missa na capela do Hospital da Divina Providência.
Sua ação pastoral visava ao entendimento mútuo entre os salvadorenhos. Para ele, era preciso mudar a realidade injusta e opressiva e evitar uma guerra civil. Denunciava, através de escritos e homílias, os detentores do poder, cujos mecanismos de repressão semeava o pânico, a violência e a morte entre a população mais carente. Criticava duramente tanto a inércia do governo, as interferências estrangeiras, como as injustiças praticadas pelos grupos “revolucionários”. Certo dia, ao ver o exército cercando a catedral para intimidá-lo, afirmou: “Como deve ser mau este sistema que é capaz de lançar o pobre contra o pobre, o camponês com uniforme do exército contra o camponês trabalhador.”
Algo muito parecido aconteceu em 29-05-1978, quando índios foram assassinados quando se dirigiam pacificamente a Panzós, para saber das autoridades o paradeiro de companheiros seus, sequestrados pelo exército. Iam exigir o direito de cultivar a terra que era de seus antepassados.
Na manifestação havia gente de várias aldeias: de Cohaboncito, de Chipate, de Soledad. Eram homens, mulheres, crianças, anciãos. Ao chegarem a localidade o exército já os aguardava. A repressão foi violenta, cruel e sangrenta. Todos, inclusive as crianças, os velhos, as mulheres, foram fuzilados, metralhados e despedaçados por granadas.
Apesar da repressão e da exibição truculenta de poder e força contra os pequeninos deste mundo, a luta continuou. Muitos outros haveriam de tombar nos anos que sucederam. Somente em 1980, 59 advogados foram assassinados.
Como é parecido esse martírio de El Salvador, Panzós, com o que parece se esboçar no Brasil de hoje, quando as forças políticas que estão no poder, praticam atos de corrupção generalizada e maciça, divide a população pelo ódio e faz exibição de força com exércitos clandestinos que vão as ruas armados de foices, facões e coquetéis molotov. Espero que consigamos abortar esse martírio da América Latina que começa chegar perto e dentro de nossa pátria.