Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
07/06/2015 00h01
TRAÇOS DA FAMÍLIA UNIVERSAL

            A jovem auxiliar de enfermagem que conheci há 35 anos, quando eu era recém-formado em medicina e dava plantão em hospital, e ela sempre ficava a me convidar para sairmos e namorar, mesmo sabendo que eu era casado, que amava minha esposa e não queria compromisso com ninguém, e mesmo assim insistiu até que eu mudei minha forma de pensar e saí com ela... voltou a me procurar. Nada no corpo dessa mulher envelhecida, assim como eu, lembrava aquela jovem sensual que com seus seios tentadores e corpo escultural fez a mudança radical nos meus paradigmas de vida. Resolvi sair com ela para namorar, mas sem agredir a Verdade ou a Justiça. Naquela época eu não sabia ainda, mas acredito que foi o meu primeiro ato de Amor Incondicional que a partir daquele momento iria se desvencilhando do amor romântico. Saí com ela com discrição, para trocarmos os afetos que nossos corações e desejos pediam, sem o objetivo de prejudicar a ninguém, pelo contrário, trouxe um grande benefício à minha “qualidade de vida” que refletia na relação com minha esposa da época. Depois da primeira vez, saímos outras vezes, sempre com o desejo de ambos sendo atendidos, o coração satisfeito e sem sentimentos de culpa. Eu já incorporara na minha consciência que esse prazer que eu estava obtendo, a minha esposa poderia também obter, se assim fosse do interesse dela. Eu havia me libertado do sentimento machista de querer a minha mulher com exclusividade pra mim, se eu queria obter aquele prazer que agora estava tendo, ela deveria ter também o mesmo direito.

            Enfim, foi essa pessoa que teve tão grande importância em minha vida, pois ao mudar meus paradigmas para longe do amor romântico, eu me aproximei cada vez mais do Amor Incondicional, até identificá-lo com Deus e compreender que era esse o caminho que Ele queria para mim. Aquela jovem foi apenas um dos primeiros instrumentos de Deus para eu entrar nos caminhos que Ele, o Pai, estava colocando na minha frente para eu seguir.

            Hoje ela estava no meu consultório com o seu filho, casado e profissional, precisando da minha ajuda médica. Fiz tudo que era preciso fazer: medicamentos, atestado, orientação de procurar o INSS para buscar benefícios. O filho disse que iria ficar mais próximo dela, já que ela prefere morar sozinha, ela diz que não quer perturbar a minha vida de casado, explica ele.  

            Após ter feito o atendimento com um carinho todo especial, o filho disse ao se despedir que era profissional da área de serviços, que trabalhava com pintura, com eletricidade, gesso, etc. disse que tinha uma equipe que trabalhava nessa área e que eu podia ligar para ele se fosse preciso para qualquer serviço. Notei o esforço que ele estava fazendo para compensar um atendimento tão especial que a mãe estava tendo em forma de cortesia, não estavam pagando nada. Agradeci e notei o telefone dele como ele fez questão que eu anotasse.

            Depois de tudo isso fiquei a refletir. Apesar dela não ter mencionado, sei que ela lembra do nosso passado, dos momentos agradáveis que passamos juntos. Ela foi uma espécie de Eva que com sua tentação me tirou do “paraíso” do casamento tradicional, exclusivista. Ela não sabe que foi o instrumento de Deus para me colocar dentro de um caminho onde o Amor Incondicional tornou-se o meu principal foco de vida. Que todas as mulheres que Deus colocou no meu caminho e que acionou os mecanismos instintivos da sexualidade, e que permitiu que nossas consciências aprovassem a intimidade do ato sexual, com a mistura da carne, do sangue, das secreções, também formassem um amálgama de nossas almas com todas as outras que assim também procederam. O instinto sexual pode ter sido o gatilho para essa comunhão, mas é a energia do Amor que mantém o respeito, a harmonia e o equilíbrio entre nossos desejos e a responsabilidade com a moral e a ética, de não fazer a ninguém o que não queremos para nós. Dentro desse contexto, jamais ninguém é abandonado, todos são considerados como irmãos mais especiais do que os outros, pois participam desse amálgama de almas, mesmo que essas relações íntimas não sejam explícitas, como deveriam ser, por causa ainda do atraso conceitual e preconceituoso que ainda domina a mente de muitas pessoas, inclusive de quem se relaciona comigo, muito envolvidas ainda com o amor romântico.

            O filho da minha amiga, que não sabe que poderia ter sido meu filho, termina por agir como meu filho, quando viu que eu tratei a sua mãe com tanta dignidade. Isso mostra um reflexo da família universal que um dia construiremos para formar o Reino de Deus, onde o amor flui sem nenhuma barreira de qualquer espécie, onde cada filho gerado pode ser amparado por qualquer pessoa, pois qualquer pessoa pode ser o seu pai, e qualquer mulher pode ser uma mãe substituta para o filho do homem que ela ama, que com ela se tornou carne da mesma carne.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 07/06/2015 às 00h01