Achei Deus por um caminho diverso de Paulo (Saul). Assim ele se exprimia de forma dolorosa, citando as palavras de Jó:
“Oh, que eu possa saber onde encontrá-Lo, que eu possa chegar mesmo ao Seu escudo! Defenderia minha causa perante Ele e encheria minha boca de argumentos. Conheceria as palavras com que Ele me responderia e compreenderia as palavras que me diria. Olhe, avanço e Ele não está lá, recuo e não O percebo! Na mão esquerda, onde Ele trabalha, mas não posso notá-Lo. Ele se esconde na mão direita e eu não posso vê-Lo.”
Foi necessária intervenção do Pai (Hillel), para tentar confortá-lo terminando de citar o resto das palavras de Jó:
“Mas Ele sabe o caminho que tomei. Quando Ele me experimentar, virei a toma como ouro! – Pois Ele executa a coisa que designou para mim.”
Finaliza Hillel, dizendo assim:
“Iremos para casa. Não nos lembraremos de enigmas, fantasias ou quimeras na segurança do nosso lar, na paz dos nossos jardins. Você recobrará a saúde, atingirá a maturidade e então Deus lhe revelará Sua vontade, bendito seja Seu Nome.”
Mas Saul volta a dizer com voz trêmula:
“Queria conhecer a imensidade de Deus, e isso me tem sido negado.”
Então Hillel resolve lhe contar uma história que ouvira na infância e que permaneceu na sua memória por ser verdadeira:
“Três santos foram ao Templo orar, meditar e refletir, e eram religiosos e bons, com muitos conhecimentos e sabedoria. Ficaram em silêncio entre as sombras dos pilares grandiosos, junto ao Altar Central, olhando para a cortina que ocultava o Santíssimo, pensando na imensidão.
“Deixaram suas mentes vagarem pelos universos infinitos de que falam os gregos, pelas constelações e pelas galáxias, que se sucediam, mergulhando na eternidade e esta não tinha fim.
“Suas mentes humanas perseguiram o universo, as constelações e as galáxias nas profundezas do espaço e do tempo, continuaram vagando e não havia fim nem princípio. E suas mentes vacilaram a esse pensamento, sem poder compreendê-lo, entendê-lo ou abarcá-lo, pois certamente, diziam-lhes seus intelectos humanos e seu conhecimento da realidade, há um princípio, há uma fronteira além da qual nada existe – e ao pensamento do nada, ao pensamento do infinito e mesmo além dos abismos de outros infinitos, mais universos, mais constelações, mais nada, sem fronteiras, suas mentes sofreram um choque, eles encolheram-se e foram tomados pelo horrível terror frio do pensamento do infinito – pois que homem pode compreender?
“Então um dos homens levantou-se e apunhalou-se no coração, pois não pode suportar a ideia de infinito, que se torou um horror despropositado para ele. o segundo ficou louco, correndo desvairado para a rua. O terceiro... – Hillel hesitou. – O terceiro perdeu completamente a fé, voltou-se para os seus companheiros e disse: ‘Deus não existe.’
Saul levantou a cabeça e tornou a olhar o rosto do pai. Hillel sorriu triste.
- Eu lhe disse, as Escrituras lhe disseram, que homem nenhum pode compreender Deus nem Sua criação, pois o que Ele vê na vizinhança e num eterno meio-dia, só pode ser conjurado pelo homem em termos da realidade de tempo e espaço do nosso débil mundo, que é uma ilusão.
- Tornou a pegar a mão de Saul, prosseguindo: - Quem procurar Deus, certamente O encontrará... e saberá quando isso acontecer, pois é um dom que tanto pode matar, salvar ou enlouquecer! Certamente, é melhor apenas amar a Deus, deixando-O revelar-Se suavemente, como desejar, e não exigi-Lo. Pois só Moisés viu o Rosto de Deus e dessa visão, como foi dito, expirou.”
O caminho pelo qual encontrei Deus também foi muito diferente do caminho de Paulo. Eu não O procurava, pelo contrário, criticava Sua existência e procurava destruí-lo com minha lógica, inteligência, coerência. Mas por mais que eu tentasse destruí-Lo, negá-Lo, mais Ele se firmava na minha consciência. Até que um dia, não podia mais continuar nessa procura intensa, pois já estaria assim fugindo da lógica, inteligência e coerência que eu tanto respeitava. Tive que aceitar a existência de Deus, do Pai, do Criador... uma energia criadora que tudo e a todos perpassa. Não cheguei a sofrer tanto quanto Paulo, quanto a essa interpretação de um Deus rigoroso e punitivo, que tudo ver e julga sem misericórdia. O Deus que eu encontrei foi aquele que Jesus ensinou, misericordioso, pronto a perdoar 70 x 7 e muito mais. Foi a esse Deus que eu submeti a minha vontade e agora procuro fazer a Sua vontade e não a minha.