Na sexta feira, dia 12-06-15, durante a reunião no Centro Cruzada dos Militares Espíritas, surgiu uma temática que terminei envolvido profundamente. Uma jovem participante relatava o sofrimento que vivenciava ao sair com o seu namorado e este apenas lhe acusa nos seus defeitos. Ela não se sentia bem com essa atitude dele e sofria bastante quando estava ao seu lado. No entanto, quando ele a convidava para sair ela aceitava, pois tinha um amor por ele. Todos os presentes consideravam que esse tipo de amor era doentio, pois estava gerando sofrimento, ela não se sentia bem ao lado dele.
Foi nesse ponto que eu fiz uma reflexão íntima e disse que tinha um exemplo parecido com esse, comigo mesmo. Todos ficaram surpresos, principalmente a jovem, que me via como terapeuta acima dessas questões grosseiras de um afeto doentio.
Eu disse que tinha duas companheiras que sofriam por permanecer dentro de um relacionamento comigo, eu que tenho uma perspectiva do amor diferente da perspectiva que elas têm. Enquanto eu penso e pratico o amor inclusivo, onde podem permanecer duas ou mais pessoas num relacionamento íntimo comigo, elas pensam que o amor deve ser praticado de forma exclusiva, que somente um par deve se manter com extrema fidelidade. Quando qualquer uma delas está comigo, se sentem bem, são respeitadas, consideradas, seus defeitos não são colocados acima de suas virtudes. Quando estão longe de mim sofrem, por imaginar que eu esteja com outra proporcionando o mesmo bem estar que elas usufruíram, o que na maioria das vezes é verdade. Dessa forma, o tempo de bem estar comigo é sempre menor que o tempo de sofrimento que elas têm com a minha ausência.
Então, é nesse ponto que eu pergunto: esse amor que elas sentem por mim também é doentio? Sabendo que o tempo de sofrimento é sempre maior que o tempo de prazer? Vamos imaginar que o veredicto de todos nesta sala é de que sim, esse amor também é doentio. E da mesma forma que foi orientado para a jovem deixar o seu amor doentio, também seria orientado para essas pessoas que se relacionam comigo. Agora, diferente da jovem que está nesta sala, que já decidiu aceitar a sugestão dada e acabar o seu relacionamento e amor doentio, as minhas companheiras não estão dispostas a fazer isso. Então, seria justo eu tomar a iniciativa e acabar o relacionamento com todas e não voltar a me relacionar intimamente com mais ninguém, pois todas pensam de igual forma? Sabendo que ao fazer isso eu vou aumentar o sofrimento de cada uma delas? E esse sofrimento que minhas companheiras têm é da mesma natureza do sofrimento dessa jovem da sala? Será que o sofrimento dela é negativo e o sofrimento de minhas companheiras é positivo? A minha consciência tende a acatar essa possibilidade. O sofrimento dessa jovem que está na sala é negativo, pois é decorrente da baixa autoestima que alguém imprime sobre ela. O sofrimento das minhas companheiras é positivo, pois é decorrente dos impulsos egoístas, animais, que desejam a pessoa amada exclusivamente para si e se veem forçadas a acatar outras pessoas dentro do círculo íntimo da afetividade.
Os argumentos negativos que são levantados, que se sentem desprezadas e os filhos abandonados, pois eu estou com envolvimentos afetivos com outras pessoas, não se sustentam. Digo assim porque quando estou de plantão nos hospitais e passo dias fora de casa, essa argumentação não surge, pois sabem da importância desse trabalho para o abastecimento material da família. Então, quando eu passo dias fora de casa visando o meu abastecimento emocional que exige a participação de outras pessoas, eu não posso realizar porque minha companheira não permite? Mesmo sabendo que a mesma necessidade de abastecimento emocional com outra pessoa, se necessário, também a minha companheira é permitida?
Devido a isso permaneço mantendo a situação, pois considero o sofrimento de minhas companheiras como positivo, um sofrimento que leva à correção do egoísmo íntimo que cada uma possui. Quando esse egoísmo for vencido, com certeza o sofrimento desaparecerá, a harmonia tão procurada será encontrada e estaremos todos dando o primeiro passo para a construção do Reino do Pai.