Um autor desconhecido escreveu certa vez que a Alegria, a Tristeza, a Vaidade a Sabedoria, o Amor e outros sentimentos de variadas tonalidades habitavam uma pequena ilha.
Certo dia foram avisados que essa ilha seria inundada. Preocupado, o Amor cuidou para que todos os outros se salvassem falando: Fujam todos, a ilha vai ser inundada. Todos se apressaram a pegar seu barquinho para se abrigarem num morro bem alto no continente. Só o Amor não teve pressa. Quando percebeu que ia se afogar correu a pedir ajuda.
À Riqueza apavorada ele pediu: Riqueza, leve-me com você. Ao que ela respondeu: Não posso, meu barco está cheio de ouro e prata e não tem lugar para voce.
Passou então a Vaidade e ele disse: dona Vaidade, leve-me com voce. Sinto muito, mas voce vai sujar o meu barco.
Em seguida veio a Tristeza e o Amor suplicou: senhora Tristeza, posso ir com voce? Amor, estou tão triste que preciso ir sozinha.
Passou a Alegria, mas se encontrava tão alegre que nem ouviu o Amor chamar por ela.
Então passou um barquinho onde remava um senhor idoso e ele disse: sobe Amor, que eu te levo. O Amor ficou tão feliz que até esqueceu-se de perguntar o nome do velhinho.
Chegando ao morro alto onde estavam os outros sentimentos, ele perguntou a Sabedoria: dona Sabedoria, quem é o senhor que me amparou? Ela respondeu: O Tempo. O Tempo? Mas porque ele me trouxe aqui? Porque só o Tempo é capaz de ajudar a entender um grande amor. Dentre todos os dons que a divindade concede ao homem, o Tempo tem lugar especial. É ele que acalma as paixões indevidas, ensinando que tudo tem sua hora e local certos; é ele que cicatriza as feridas das profundas dores colocando algodão anestesiante nas chagas abertas. É o Tempo que nos permite amadurecer através do exercício sadio da reflexão adquirindo ponderação e bom senso. É o Tempo que desenha marcas nas faces, espalha neve nos cabelos, leciona calma e paciência quando o passo já se faz mais lento. É o Tempo que confirma as grandes verdades e destrói as falsidades, os valores ilusórios. O Tempo é, enfim, o grande mestre que ensina sem pressa, aguarda um tanto mais e espera que cada um por sua vez se disponha a crescer, servir e ser feliz. E é o tempo em verdade que nos demonstra no correr dos anos que o verdadeiro amor supera a idade, a doença a dificuldade e permanece conosco para sempre.
Neste mundo tudo tem a sua hora, cada coisa tem o seu tempo. Há o tempo de nascer e o tempo de morrer; tempo de plantar e de colher; tempo de derrubar e de construir; há o tempo de se tornar triste e de se alegrar; tempo de chorar e de sorrir; tempo de espalhar pedras e de juntá-las; tempo de abraçar e de se afastar; há tempo de calar e de falar; há o tempo de guerra e o tempo de paz.
Mas sempre, é tempo de amar.
Magnífica construção de sentimentos e comportamentos. Podemos nos colocar dentro da situação, cada um com suas circunstâncias. Eu, depois que espalhei meu afeto por tantos corações, agora estou ainda na ilha, isolado, vendo passar a Vaidade, a Riqueza, a Tristeza, a Alegria, a Raiva, o Ressentimento, a Mágoa, o Ciúme... são tantos barquinhos que procuram a segurança do monte alto, do exclusivismo, do materialismo, do egoísmo. A todos eu vejo passar e nenhum se dispõe a me levar, pelos motivos que levam seus nomes. Mas sei que o Tempo vai chegar e vai fazer entender a qualidade do meu amor; que vai fortalecer a verdade e desmascarar a mentira.