Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
22/06/2015 00h01
A BÍBLIA

            A Bíblia é considerada pela maioria dos povos do mundo ocidental a coleção de livros que contém a palavra de Deus. Sua Santidade o Papa Pio XII, em 1943, na Encíclica “Divino Afflante Spiritu”, assim determinou: “A autoridade da Vulgata (tradução latina) em matéria de doutrina não impede – antes, nos nossos dias quase exige – que a mesma doutrina se prove e confirme também com os textos originais, e que se recorra aos mesmos textos para encontrar e explicar cada vez melhor o verdadeiro sentido das Sagradas Escrituras”.

            Se entende que esses livros da Bíblia foram escritos por homens inspirados por Deus com o objetivo de nos ensinar, convencer, corrigir e educar na justiça. Nos tempos recentes essa compreensão da origem divina dos Livros Sagrados e a sua reta interpretação estão sendo contestadas. A Igreja Católica procura defender a compreensão original com empenho e diligência, com concílios e decretos, determinando que devem reconhecer-se “como sagrados e canônicos os livros inteiros com todas as suas partes conforme se costuma ler na Igreja e estão na antiga Vulgata Latina”.

            O Concílio Vaticano II, para condenar algumas falsas doutrinas relativas a inspiração, declarou que a razão de os mesmos livros deverem ser considerados como sagrados e canônicos “não é porque, tendo sido compostos apenas por atividade humana, a Igreja depois os aprovou com a sua autoridade, nem unicamente porque contêm a revelação sem erro algum, mas porque, escritos sob a inspiração do Espírito Santo, tem a Deus por autor, e como tais foram confiados à Igreja.”

            Todavia, mesmo depois dessa solene definição da doutrina católica que reivindica “aos livros inteiros com todas as suas partes” tal autoridade divina, que os preserva de todo e qualquer erro, houve escritores católicos que ousaram coarctar a verdade da Sagrada Escritura unicamente às coisas relativas a fé e a moral, considerando as restantes, quer físicas quer históricas, como “ditas de passagem” e sem conexão com as verdades da fé. Por isso o Papa Leão XIII com a encíclica Providentissimus Deus, de 18-11-1893, infligiu àqueles erros a merecida condenação, e ao mesmo tempo regulou o estudo dos Livros Divinos com prescrições e normas sapientíssimas. A publicação dessa encíclica é considerada a Carta Magna dos estudos bíblicos. Daí em diante continuaram os estudos para primeiro confirmar e inculcar as determinações da “Carta Magna”, e depois ordenar o que os tempos atuais parecem exigir, para estimular cada vez mais todos os filhos da Igreja que se dão a estes estudos.

            O primeiro cuidado de Leão XIII foi expor a doutrina relativa à verdade dos Livros Sagrados e defendê-la dos ataques contrários. Por isso em graves termos declarou que não há erro absolutamente nenhum quando o hagiógrafo falando de coisas físicas “se atém ao que aparece aos sentidos”, exprimindo-se “ou de modo metafórico, ou segundo o modo comum de falar usado naqueles tempos e usado ainda hoje em muitos casos na conversação ordinária mesmo pelos maiores sábios.” De fato, não era intenção dos escritores sagrados, ou melhor, do Espírito Santo que por eles falava, ensinar aos homens essas coisas, isto é, a íntima constituição do mundo visível, que nada importam para a salvação. Esse princípio deverá aplicar-se às ciências afins, especialmente a história e assim refutando de modo semelhante os sofismas dos adversários e defendendo das suas objeções a verdade histórica da Sagrada Escritura. Nem pode ser taxado de erro o escritor sagrado, se aos copistas escaparam algumas inexatidões na transcrição dos códices, ou se é incerto o verdadeiro sentido de algum passo. Enfim, é absolutamente vedado coarctar a inspiração unicamente a algumas partes da Sagrada Escritura ou conceder que o próprio escritor sagrado errou, pois que a divina inspiração de sua natureza não só exclui todo erro, mas exclui-o com a mesma necessidade com que Deus, suma verdade, não pode ser autor de nenhum erro. Esta é a fé antiga e constante da Igreja.

            Entendo o esforço que a Igreja faz para manter a compreensão de que sejam sagrados todos os livros da Bíblia, no sentido que eles exprimem a palavra de Deus através de seus vários profetas, intérpretes, todos humanos, mas todos inspirados pelo Espírito Santo. Compreendo que sejam colocados em segundo plano todos os erros e equívocos encontrados pelos estudiosos e que ofendem a lógica racional, no sentido de valorizar os ensinamentos morais e éticos. Agora o que não entendo é porque, uma epopeia que vinha sendo contada ao longo do tempo, desde há mais ou menos 1850 anos, com Abraão em Canaã, correspondente à Caldeia do rei Hamurábi, até os anos 70 de nossa era, no império de Nero. Então, temos quase 2000 anos de silêncio, de publicação de livros que mereçam compor a Bíblia. Será que Deus não necessita mais falar com os Seus filhos depois da vinda de Jesus?  Será que Deus não inspira mais os seus eleitos para continuar a divulgar Sua palavra? Será que não seria o momento de unificarmos as nossas crenças sob o domínio de um mesmo Pai e criarmos mais um Livro Sagrado, sob a inspiração dos diversos Espíritos Santos que sabemos permear nosso Universo e influenciar mais do que imaginamos as nossas ações?  

Publicado por Sióstio de Lapa
em 22/06/2015 às 00h01