Apareceu em minhas leituras a consideração sobre o verme em dois textos, e mesmo sem ter uma empolgação para refletir sobre isso, intuí que é mais uma vontade de Deus para dirigir meus pensamentos no objetivo de burilar a minha alma. Não foi preciso ir muito longe para observar que o direcionamento do Pai estava correto quanto voltar à minha consciência para a minha insignificância, longe de pensar ser um profeta especial com a missão de conduzir um grande trabalho do Seu interesse.
Como hoje é ponto facultativo no trabalho, saí apenas para atender um paciente particular e voltar logo em seguida para conduzir os trabalhos que precisam ser realizados dentro do apartamento. Ao chegar perto de casa e passar por um restaurante próximo, veio logo a tentação de entrar e fazer uma refeição caseira que ele oferece. Como era previsto, enchi o prato e coloquei mais de um quilo de alimento, lembrando que eu estava prevendo passar o dia com o mínimo de comida, mesmo porque logo mais a noite eu teria uma atividade espiritual onde é orientado a mínima alimentação, evitando principalmente as carnes vermelhas, o que eu consumi com gosto.
Quando terminei o almoço e saí empanturrado do restaurante, foi que eu percebi a pertinência do que o Pai quer me ensinar ao apontar os textos dos vermes e comparar com o meu comportamento. Os vermes são seres reconhecidamente inferiores, que vivem se alimentando continuamente com o objetivo de degradar o que não mais atende a funcionalidade da Natureza e transmutar os seus elementos em unidades básicas que podem ser reaproveitados na construção de outras vidas, com outros objetivos, mas que tudo e todos convergem para a sabedoria final do Criador. Com esse meu comportamento de atender sem forte resistência aos desejos da carne, é que acumulo no meu corpo com um sobrepeso e mesmo sabendo disso continuo a comer de forma exagerada indo em direção à obesidade, e assim, a comparação com os vermes chegam bem próximo de mim. O Pai quer que eu reconheça essa condição, mesmo tendo conseguido erguer a cabeça para o “alto” e visto a Sua luz e que estou tentando interpretar e cumprir a Sua vontade.
Mas vamos ver o que dizem os dois textos: o primeiro eu encontrei no verso da pagela do dia 22-06-15 da folhinha “Coração de Jesus”. ANIMAIS NO ALTAR – O verme certamente não é um belo ornamento. Mas é um belo símbolo da corrosão das riquezas e das grandezas humanas. Símbolo também da coisa mais baixa que possa existir. Assim, quando o justo diz no Salmo 22,7: “Sou um verme e não mais um ser humano”, está renunciando a todo orgulho, vaidade, soberba e prepotência. Por isso a frase é aplicada ao Cristo crucificado. Mas por trás está a certeza do amparo do Senhor, como já dizia o profeta Isaías: “Não tenhas medo, vermezinho, porque eu te assisto, eu sou teu fiador, diz o Senhor Deus” (Is 41,14). O verme aparece pintado, quando as figuras lembram o desprezo pelos bens deste mundo, que são devorados pelos vermes, o abraço generoso e convicto dos bens eternos.
O segundo texto fui encontrar no livro Fontes Franciscanas e Clareanas, no item 44 da biografia feita por Juliano de Espira sobre a vida de São Francisco de Assis: “Ele tinha a mesma compaixão afetuosa não só pelos animais e criaturas mais dignas, mas também por aquelas vis e pequeníssimas. Já que do Salvador se lê: Eu sou um verme e não um homem (Sl 21,7), muitas vezes retirava os vermezinhos da estrada para não serem pisados.
Sei que não estou num nível tão baixo, comparados à maioria dos meus irmãos que se encontram encarnados ou desencarnados em torno deste planeta. Mas ainda estou numa enorme dependência dos desejos da carne e isso impede minha visão mais clara dos objetivos espirituais. Essa é a constatação que faço quando promovo a introspecção. Por outro lado, quando percebo minha atuação dentro dos relacionamentos humanos, em qualquer nível que seja, começo a perceber o meu papel parecido mais uma vez com o humilde verme, de transmutar aquilo que não mais serve para a funcionalidade da vida, em elementos que serão necessários para a construção de um novo mundo. Tal como um verme, o meu papel é o de corroer as estruturas egoístas que fazem adoecer todos os relacionamentos e mostrar os elementos básicos do Amor Incondicional que podem ser construídos a partir dos elementos deletérios do egoísmo, assim como o corpo, em deterioração pela morte, oferece os seus elementos para a constituição de um novo ser, com todo o seu potencial de crescimento na direção de Deus.
Assim, não terei mais a vergonha de colocar como o título de um texto como este - “Sou um verme”, ao invés de simplesmente “O verme”.
Sou um verme sim, tanto do ponto de vista biológico onde o corpo ainda impera na procura dos seus desejos materiais, como sou um verme no campo espiritual, com a nobre tarefa designada pelo Pai, de corroer a estruturas deletérias do egoísmo e da ignorância e proporcionar novos nascimentos da alma, pela iluminação do espírito.