Ontem foi dia de hidroginástica e como eu sinto a responsabilidade de dar o exemplo à pessoa que eu indiquei para participar, não poderia deixar de ir, mesmo que tivesse a desculpa da chuva fina que caía e que ameaçava aumentar. Também isso não seria obstáculo pra mim, pois gosto da chuva, de caminhar ou correr sob ela, parando nas bicas das casas quando estou na cidade, ou sentindo as gotas de chuva diretamente na face quando estou na praia.
Coloquei a roupa de banho e fui para a praia. A chuva caia fina sobre mim e senti a sensação agradável de estar sendo acariciado pela irmã chuva. O sol queria surgir entre os espaços abertos que o vento fazia nos grupos de nuvens, e percebi que por sobre o meu apartamento havia se formado um belo arco-íris. Quis ainda pedir a alguém um celular emprestado para fotografar, mas já estou ciente que tudo que acontece comigo nessa caminhada matinal e exercícios de hidroginástica ficará registrado apenas na memória, pois não saio com nada de casa, a não ser a roupa do corpo. Porém quando o assunto é importante, eu guardo na memória e logo faço o registro, como estou fazendo agora.
Logo que vi o arco-íris lembrei da aliança que Deus fez com a humanidade após o dilúvio através de um arco-íris. Fiz logo a conexão daquele caso com este arco-íris sobre o meu apartamento e pensei que Deus talvez estivesse também me propondo um contrato. Eu deveria fazer a Sua vontade, usando com pragmatismo e persistência todos os meus recursos, e Ele forneceria para mim toda a energia e sabedoria que eu tivesse capacidade de receber para bem utilizar. Não titubeei em concordar com esse contrato, afinal de contas quem estava propondo era Ele, e Ele bem sabe de minhas inúmeras e severas deficiências, sabe o risco que posso correr em não cumprir o contrato.
Assinei mentalmente esse contrato com Deus e fui correndo até o final da piscina onde fazemos a hidroginástica. Parei numa esquina formada pelas dunas e abracei o sol, o vento e fiz a oração silenciosa ao Pai, afirmando o acordo que acabávamos de fazer. Fiz ver que eu não iria mudar muita coisa na minha vida, pois o que eu faço já está direcionado à Sua vontade, como Ele bem sabe. O que devo me esforçar é para ser mais objetivo e fazer o projeto do Pai evoluir com mais constância e perseverança, sem comprometer as minhas relações diversas junto ao amor incondicional, fazendo todos os relacionamentos caminharem com justiça e coerência.
Como testemunhas desse contrato que acabo de firmar com o Pai, nas três leituras que faço a cada dia, tinha a ver com o conteúdo prático que eu tenho que observar e as circunstâncias nas quais estarei inserido. A primeira testemunha foi na leitura da Bíblia, (Is 50, 4-9) que diz o seguinte:
O servo, certo do triunfo, aceita o sofrimento
4. O Senhor Deus deu-me a língua de um discípulo para que eu saiba reconfortar pela palavra o que está abatido. Cada manhã ele desperta meus ouvidos para que escute como discípulo;
5. (o Senhor Deus abriu-me o ouvido) e eu não relutei, não me esquivei.
6. Aos que me feriam, apresentei as espáduas, e as faces àqueles que me arrancavam a barba; não desviei o rosto dos ultrajes e dos escárnios.
7. Mas o Senhor Deus vem em meu auxílio: eis porque não me senti desonrado; enrijeci meu rosto como uma pedra, convicto de não ser desapontado.
8. Aquele que me fará justiça aí está. Quem ousará atacar-me? Vamos medir-nos! Quem será meu adversário? Que se apresente!
9. O Senhor Deus vem em meu auxílio: quem ousaria condenar-me? Cairão em frangalhos como um manto velho; a traça os roerá.
A segunda testemunha veio na leitura das Fontes Franciscanas e Clareanas, que nas Biografias, Juliano de Espira escreve, reproduzindo as palavras de Francisco:
Vendo que já se aproximava o último dia da vida, que por uma revelação ele já conhecia há dois anos, chamou a si os irmãos que quis (Mc 3,13) e os abençoou um a um como lhe foi dado do alto (Jo 19,11). Seus olhos estavam obscurecidos e já não podia enxergar. Então, como outrora o patriarca Jacó, cruzou os braços e pôs a mão direita (Gn 48,14) sobre o irmão que estava à esquerda; perguntou quem era; quando compreendeu que era Frei Elias (que, como se disse, ele colocara em seu lugar) respondeu que era assim que ele queria.
Abençoou primeiro a ele e depois, na sua pessoa, todos os outros irmãos; invocou sobre ele todo o bem e o confirmou com todas as bênçãos e no fim acrescentou: “Meus filhos, saúdo-vos todos no temor do Senhor e permanecei sempre nele (Tb 2,14), porque a tribulação se aproxima de vós e deveis enfrentar uma grandíssima prova. “Bem aventurados aqueles que forem perseverantes (Mt 10,22) no bem que iniciaram”.
Finalmente a terceira testemunha veio do livreto “Os santos de cada dia” cujo santo do dia 16 é Nossa Senhora do Carmo, e o primeiro parágrafo diz assim:
A Ordem dos Carmelitas tem como modelo o profeta Elias. E caracteriza-se por uma profunda devoção a Maria. A Sagrada Escritura fala da beleza do Monte Carmelo, onde o profeta Elias defendeu a fé do povo de Israel no Deus vivo e verdadeiro. Carmelo em hebraico significa “vinha do Senhor”. Ali Elias enfrentou os profetas de Baal.
Assim verifiquei que cada leitura faz uma ponte com a vontade de Deus para mim, a partir da consideração como servo, que posso estar dentro do sofrimento, mas sempre com a proteção de Deus. Em Francisco vejo a orientação para a perseveração e a citação do Frei Elias que logo em seguida faz a conexão com o Profeta Elias, onde ele enfrentou os adversários no Monte Carmelo que é considerado a “vinha do Senhor”, como nós consideramos a comunidade da Praia do Meio também uma vinha do Senhor e que estamos dispostos a enfrentar os profetas da ignorância que atuam no mal.
Portanto, estou bem ciente de todas as clausulas do contrato que terminei de assinar.