Jesus também gostava de ler. Como não existiam muitas opções de leituras, os livros do antigo testamento eram os mais disponíveis e incentivados pela comunidade, principalmente pelos sacerdotes. Imagino que ele ficava horas e horas absorto nessas leituras e imaginando, fantasiando como eu fazia com meus gibis, aventuras e mais aventuras, sozinho, eu e meus pensamentos. Eu criava heróis que digladiavam com os bandidos, e muitas vezes eu levava a pior nos meus brinquedos, mas ficava triste, porém não alterava o resultado. Procurava ser justo com o resultado que a sorte apontava.
Da mesma forma acredito que Jesus fazia quando criança que se envolvia com as leituras dos heróis do Antigo Testamento, dos profetas, juízes, reis, todos eles orquestrados pela vontade de Deus no meio da iniquidade. Jesus poderia assumir muito bem qualquer uma daquelas personalidades que eram informadas ou que eram indicadas pelos profetas, um dia surgir. Foi assim que ele assumiu logo cedo a condição de ser filho de Deus, e que estava na Terra para cumprir a Sua vontade. Com muita probabilidade, ao ler o texto de Isaias (53, 1-12), imagino que ele tenha encontrado a personalidade que iria assumir na vida adulta. Pois vejamos o que diz esse texto:
- Quem poderia acreditar nisso que ouvimos? A quem foi revelado o braço do Senhor?
- Cresceu diante dEle como um pobre rebento enraizado numa terra árida; não tinha graça nem beleza para atrair nossos olhares, e seu aspecto não podia seduzir-nos.
- Era desprezado, era a escória da humanidade, homem das dores, experimentado nos sofrimentos; como aqueles, diante dos quais se cobre o rosto, era amaldiçoado e não fazíamos caso dele.
- Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado.
- Mas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniquidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele; e fomos curados graças as suas chagas.
- Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, seguíamos cada qual nosso caminho; o Senhor fazia recair sobre ele o castigo das faltas de todos nós.
- Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda na mão do tosquiador. (Ele não abriu a boca).
- Por um iníquo julgamento foi arrebatado. Quem pensou em defender sua causa, quando foi suprimido da terra dos vivos, morto pelo pecado de meu povo?
- Foi-lhe dada sepultura ao lado de facínoras e ao morrer achava-se entre malfeitores, se bem que não haja cometido injustiça alguma, e em sua boca nunca tenha havido mentira.
- Mas aprouve ao Senhor esmagá-lo pelo sofrimento; se ele oferecer sua vida em sacrifício expiatório, terá uma posteridade duradoura, prolongará seus dias, e a vontade do Senhor será por ele realizada.
- Após suportar em sua pessoa os tormentos, alegrar-se-á de conhecê-lo até o enlevo. O Justo, meu Servo, justificará muitos homens, e tomará sobre si suas iniquidades.
- Eis por que lhe darei parte com os grandes, e ele dividirá a presa com os poderosos: porque ele próprio deu sua vida, e deixou-se colocar entre os criminosos, tomando sobre si o pecado de muitos homens, e intercedendo pelos culpados.
Eis uma situação que imagino, eu como adolescente, na condição de Jesus, teria também fantasiado assumir a personalidade dessa figura profética. Mesmo que muito provavelmente eu não teria a coragem e a persistência de manter essa convicção e coragem até o fim, como Jesus fez.
Mas hoje, com todos os recursos que a ciência e tecnologia me proporciona, com a pressão da sobrevivência frente a tantas opções de trabalho e de estudo, mesmo assim continuo, muito após a adolescência, a imaginar a corporificação de personalidades também identificadas com o Pai e que procuram intencionalmente fazer a Sua vontade.
Publicado por Sióstio de Lapa
em 28/07/2015 às 23h59