Encontrei ontem fora do apartamento um lugar que considerei sagrado. Não foi nada de especial, um lugar paradisíaco, cheio de belezas inéditas... não, era um lugar simples e que já algumas vezes havia parado nele e feito minhas orações de frente para o sol. Mas neste dia foi especial.
Sai do apartamento para a hidroginástica e caia uma chuva fina. Imaginei que talvez não fosse haver o exercício, pois quando o tempo está dessa forma geralmente a turma não vai. Porém como gosto de sentir a chuva no meu corpo, mesmo assim fui em direção ao local da hidroginástica. Sai num tempo suficiente para chegar mesmo caminhado pela praia. No horário previsto cheguei e não encontrei ninguém. Imaginei que eu estava correto nas minhas suposições e segui adiante até onde o mar faz uma curva a esquerda em direção ao Forte dos Reis Magos. Nesse local, devido a maré está baixa, passava apenas uma corrente de água frente as pedras. A chuva havia parado e sol começava a surgir. Então fiquei parado em frente ao sol e comecei as minhas orações no silêncio da mente.
Num primeiro momento, ali de frente para o sol, agradecia ao Pai o dom da existência, como se aquela luz brilhante, mas delicada, que me aquecia e acariciava o corpo, mas que eu não conseguia abrir os olhos para fitar diretamente, fosse o olhar do Criador sobre mim, sua investigação na minha alma, a sondagem nos meus pensamentos, e ao mesmo tempo atento ao que eu pedia.
Virei o corpo lentamente no movimento dos ponteiros do relógio e fiquei voltado para o sul, voltado para a cidade. Via a minha frente o amontoado de casas e edifícios, a ponta do iceberg da cidade. Ali existem milhares de almas encarnadas em corpos com os mais diferentes propósitos e circunstâncias. É nesse fervilhar de vidas humanas que ainda prevalecem com força toda a força dos instintos, dos valores materialistas e egoístas. Pedi ao Pai para me ajudar a ser útil em levar a Sua mensagem e corrigir os erros ao meu alcance, a dar oportunidade daqueles mais sensibilizados mudar a rota de suas vidas em direção aos Seus braços.
Girei um pouco mais o corpo e fiquei voltado para o oeste, com o sol às minhas costas. Estava agora de frente para a Ponte Nova e observava o feito do engenho humano na construção de uma obra de importância. Imaginei que da forma que o homem pode construir tamanha obra de envergadura materialista, também poderia construir uma obra significativa de envergadura espiritualista. Bastaria que todos os grupos e pessoas sintonizadas com Deus se reunissem com esse propósito, sem considerar suas diferenças, sem deixar que os dogmas ou preconceitos atrapalhasse o trabalho fraterno de interesse do Pai. Imaginei que eu poderia ser o agente indutor desse trabalho, já que tenho uma ligação com a academia e desenvolvo um trabalho de conscientização junto a uma disciplina de Espiritualidade.
Voltei então o corpo para o último ponto cardeal, o norte. Fiquei então de frente para o Forte dos Reis Magos, para as águas paradas, para o mangue ao redor, fechado, pantanoso e sombrio. Imaginei que ali estava representado o lado lúgubre da vida. Ali onde tem um engenho que no passado foi erigido como campo de batalha, onde o sangue humano deveria correr em defesa dos interesses mesquinhos dos objetivos materialistas do poder, da ganância. Os seres que prevaleciam naquele charco eram os caranguejos e similares, animais que se embrenhavam nas raízes dos mangues e nas tocas dos lamaçais. Vi que devia respeitar esse espaço, pois faz parte da Natureza e deve servir também aos propósitos do Pai, mas procurando manter sempre um movimento em direção à luz, a organização bem... deveria fazer esse movimento em direção contrária ao que o meu corpo fez, até encontrar e se identificar com a luz do sol, com a luz do Criador.
Terminei minha prece neste local e passei a considerar um lugar estratégico para estar junto do Pai e da Natureza como Ele criou e como nós transformamos. Espero que minha mente e as circunstâncias fiquem sempre sintonizadas com esse pensamento e que sempre eu tenha oportunidade de voltar a esse lugar sagrado e ter uma conversa mais próxima com o Pai.