Posso dizer que hoje, sem nenhum exagero, sofri uma derrota acachapante para a gula. Hoje foi dia de hidroginástica, então nada melhor do que iniciar o dia com uma boa proposta para educar o corpo. Exercícios físicos pela manhã e controle alimentar durante o dia. Cheguei da hidroginástica e depois do banho tomei um pouco de vinho, com duas finalidades: a primeira como elemento de purificação da corrente sanguínea, evitando acumulo de colesterol nas paredes dos vasos; a segunda imaginar de forma mística, a aplicação da lição de Jesus quanto beber o vinho como uma forma simbólica de beber o seus sangue para absorver a pureza da Sua alma.
Dessa forma saí do apartamento de forma confiante no controle alimentar durante todo o dia. Estava determinado a fazer isso. Imaginava que só iria me alimentar à noite, após a reunião da AMA-PM, durante o lanche que nós estávamos levando.
Tudo seguia como eu imaginava até a tarde, depois que terminei os atendimentos no consultório. Estava me dirigindo para o apartamento e a ideia era trabalhar nos documentos que estavam espalhados à espera de organização, até as 19h quando iniciaria a reunião. Lembrei que iria passar em frente a padaria e que lá existia uma boa opção de petiscos e que eu poderia levar alguns. Incrível como essa ideia se instalou e passou a prevalecer. Não me lembro de ter resistido a ela. Simplesmente ficou reverberando na minha cabeça enquanto eu dirigia. Já estava programado em parar o carro na padaria e levar o que existisse de salgado para comer antes da reunião. Parei o carro e entrei na padaria. Fui logo ao setor da comida mantida em banho Maria. Vi diversos tipos de sopa, carne de sol frita com cebola e o frango a passarinho. Não me contive em escolher uma dessas opções. Escolhi todas!
Cheguei no apartamento carregado, carne, frango, sopa, pão, bolo... sem nenhuma resistência coloquei tudo sobre o balcão da cozinha e liguei o micro-ondas. Enquanto esquentava ia comendo. Nenhuma lembrança do que havia planejado no início do dia vinha à minha mente. Comi tudo que trouxe, não deixei nada guardado para o dia seguinte. E eu sabia que, caso eu comesse com moderação, ficava muita alimentação para ser guardada e usada em outro dia.
Mais tarde, após o término da reunião, mais uma vez fiz uso da alimentação sem controle. Comi mais uma vez a sopa que foi levada e também achocolatado, bolo, batgut, etc. estava me sentindo farto. Mesmo assim, na volta, ainda parei na farmácia e comprei picolés e sorvete à vontade. Cheguei ao apartamento carregado dessa maneira e fui logo para a cama, coloquei o apoio para assistir a televisão enquanto chupava os picolés... chupei dez!!! além disso, ainda chupei uma garrafinha de caldo de cana que eu mantinha guardada há semanas.
Depois de toda essa proeza realizada, foi que fiz a reflexão do que eu havia me determinado fazer e o que terminei por fazer. Vi toda a engenharia da mente em anular um propósito inicial em função de adquirir um prazer corporal. Imaginei então que seria dessa forma toda a pressão que os dependentes sofrem para recair em suas dependências, mesmo estando altamente determinados na abstinência. Abriu uma compreensão dentro da minha mente do que está acontecendo no cérebro dos dependentes que também usam os seus cérebros na busca de prazeres, assim como o meu. Felizmente o meu não está sensibilizado por uma substância química, mas está sensibilizado pela alimentação, que também é uma forte fonte de prazer, assim como o sexo. Devo entrar nessa engenharia da mente, usando a própria mente com essa finalidade. Parece uma atuação de espionagem, onde a minha consciência, monitorada por meu espírito é o agente que vai comandar essa operação. Irei ter mais atenção à esses aspectos nos próximos desenvolvimentos da minha luta contra a gula, contra os interesses do corpo que usa a mente em busca do prazer trazido pelo alimento ou pelo sexo.
Sim, sofri uma derrota acachapante para a gula, mas por outro lado, descobri um padrão usado pelo corpo no uso da mente para atingir os seus propósitos. Talvez essa descoberta me leve a algo bem importante no campo das dependências. Se algo já foi publicado nesse sentido, eu não tenho conhecimento. Devo colocar todo esse pensamento de forma organizada e didática no papel.