Hoje, na reunião na Cruzada dos Militares, compareceu um jovem que foi ao consultório devido ter perdido a noiva em acidente de carro e ter ficado arrasado, com ideias e tentativas de morte. Depois de ele ter colocado as circunstâncias pré e pós o acidente, e cada um dos participantes fazerem considerações sobre o fato, fiz as seguintes reflexões íntimas.
O rapaz sofreu e ainda sofre muito devido a morte acidental da noiva. Pensei que todos, inclusive nós, os terapeutas que não temos problema com as drogas, também sofremos. Então, qual é o fator convergente onde todos sofrem para gerar o sofrimento? Encontrei a frustração. Parece que esse é o elemento que gera qualquer tipo de sofrimento, quer seja a recaída no uso das drogas, quer seja a perda de um ente querido. O rapaz teve seus sonhos, seu idílio frustrado pelo arrebatamento da morte física da pessoa amada. Também eu estava sofrendo como ele, pela morte moral de uma pessoa amada. Não havia condições de eu partilhar com os companheiros essa minha dor causada pela frustração de uma imagem que eu tinha de uma mulher amada. Mas era assim.
A minha segunda esposa, aquela que me expulsou de casa em situação tão extremada, agressiva, intolerante, com tudo o que sempre fui e que nunca menti pra ela sobre isso, voltou a colocar suas garras sobre mim. Agora, no processo de oficialização da separação, da efetivação do divórcio, faz exigências dos bens que ela não contribuiu junto comigo na sua construção, foi tudo devido ao meu próprio suor e das pessoas que perto de mim ficaram. Não fiz resistência quanto a isso, sabendo que pela lei podíamos dividir todos os bens que possuímos, tanto os bens físicos dos quais eu tenho maior parte, quanto das contas bancárias que sei que ela tem a maior parte. Mas não vou atrás da poupança que ela conseguiu até agora economizar, principalmente com as minhas doações geralmente sem passar pelo fisco, sempre dinheiro limpo sem nenhum tipo de desconto. Tudo quem arca sou eu, todo o exagero de pagamento com o Importo de Renda quem faz a frente sou eu. Nem o filho eu consigo colocar como dependente, o filho que recebe regularmente os 10% dos meus empregos fixos, da UFRN e do Estado do RN. Agora ela deu o que para mim foi o golpe fatal na sua imagem de pessoa coerente e fraterna, o mínimo que eu posso colocar, já que de pessoa que ama outra eu não vejo mais como ela pode ter esse sentimento de mim, infelizmente, pois eu ainda insisto em não dissipar todo o amor que aprendi a ter por ela. Ela exige além dos 10% dos meus empregos fixos, também 10% do emprego temporário que tenho com a prefeitura de Caicó, coisa que nenhuma das mães dos meus outros filhos exigiu, mesmo que elas tenham maior respaldo ético para pedir isso, como é o caso da minha primeira esposa, ou mesmo que tenha maior dificuldade financeira, como é o caso da mãe da minha filha caçula. Ela mostra assim com essa ação, um coração cheio de egoísmo, de busca pelo acúmulo de bens materiais sobre o esforço de outrem, eu, que tanto trabalha para conseguir fazer frente a atividades que acho da maior importância e que apenas o pagamento dos empregos fixos não é suficiente. Sinto-me assim vampirizado por uma pessoa que devia mostrar amor e consideração por tudo que fiz, que faço e que posso fazer em qualquer momento da minha vida, por ela, por nosso filho e por sua família. Sinto que o meu senso de justiça foi altamente provocado, pois não posso considerar uma pessoa dessa no mesmo nível de respeito que eu tenho por minhas demais companheiras que em nenhum momento fizeram esse tipo de exigência. Não sei para onde apontará o meu coração, agora dirigido pela justiça, que é uma das pernas importantes do amor.
Este é o meu maior sofrimento neste momento, ver a morte moral de uma pessoa tão querida. É o meu anjo que se transforma num vampiro! Mas o meu amor é forte, mesmo que o meu anjo se transforme num vampiro, eu não deixarei de a amar... somente procurarei ter mais cuidado com os seus dentes, afinal tenho muito que contribuir com as pessoas que caminham comigo, que não mostram nenhum tipo de interesse tão mesquinho. Procurarei caminhar pela luz, sem vingança, sem mágoas, sem ressentimentos, apenas com a dor que provoca minhas lágrimas internas, e, talvez, um relato como esse eu jamais farei no futuro. Procurarei manter sempre no coração, a saudade daquela pessoa pela qual um dia fui apaixonado, como o amor que ficou.