Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
16/08/2015 05h15
DIA DOS PAIS

            Hoje faz uma semana do dia dos pais. Meus filhos planejaram um almoço num lugar especial e fomos todos, os parentes mais próximos e que quiseram ir. Dos meus cinco filhos, faltaram dois: uma que mora em Campina Grande e que por motivo de doença não conseguiu chegar como havia planejado; o outro se negou a vir, pois ainda está intoxicado com os efeitos da separação de sua mãe e que essa provocou a minha saída de casa.

            Foi um momento de alegria, descontração... de fraternidade. Todos nos sentimos bem com este momento de congraçamento. Agora, acho que falhei na condição de pai mais idoso dos presentes. Eu deveria ter falado alguma coisa. Mais uma vez surge na minha consciência a necessidade de corrigir esse defeito que possuo de não ter a ideia conveniente no momento propício e somente depois que passa a oportunidade é que eu vejo que poderia ter feito algo. Pois eu deveria ter feito a seguinte mensagem:

            Hoje é um dia especial para mim. Estou junto dos filhos que puderam estar junto comigo neste dia, com sentimentos de amor, de amizade, de camaradagem. Estou também satisfeito com Deus, o Pai de todos nós.. Apesar dEle ter me conduzido como faz até hoje, por caminhos tortuosos, mas são caminhos cheios de amor, onde por cada trilha surge a possibilidade da  geração das flores dos filhos. Agradeço também ao Pai a inteligência e a capacidade de trabalhar, a compreensão e tolerância para com os erros do próximo, e a coragem e determinação de seguir o caminho que Ele colocou em minha consciência.  

            Talvez vocês, meus filhos, se ressintam da minha ausência física. Os preconceitos de época ainda não permite que eu ficasse mais próximo de vocês, e até hoje, moro sozinho, como o “estranho no ninho” de uma sociedade excessivamente egoísta e exclusivista. Mas não pensem que fui ou sou injusto com vocês, que não dei a proximidade física de um pai biológico que eu tanto recebi na minha infância. Isso não é verdade. Se eu for colocar em termos matemáticos, vocês receberam 99% de mim quanto pai, enquanto eu como filho recebi nem talvez 1% do meu pai biológico. Nem mesmo recursos financeiros eu recebi dele. Enquanto isso todos vocês tiveram de forma ininterrupta todo o apoio financeiro para vocês sobreviverem e estudarem sem necessidade de entrar no mercado de trabalho precocemente. Eu não fui criado por minha mãe, ela não tinha recursos para isso. Foi necessário ela fazer o sacrifício de mandar eu morar com minha avó. Perdia assim, não só a proximidade física do meu pai como da minha mãe. E ainda tinha que trabalhar como criança e adolescente para contribuir com a minha sobrevivência e estudos. Carregava água nos ombros para abastecer os potes de quem me contratava, como um burro de carga; varria a casa, lavava os pratos e arrumava os objetos como se fosse menina, minha avó não podia contratar uma empregada; vendia balas e cigarros num carrinho em frente a cinemas e casas de festas, das quais eu não podia participar, nem mesmo a minha festa de conclusão do segundo grau. Foram esses trabalhos, meus filhos, que impedi de vocês serem obrigados a fazer. Sim, sei que não estava constantemente com vocês, mas vocês sabiam onde podiam me encontrar, e sabiam que podiam contar comigo para qualquer eventualidade, mesmo que fosse morar com qualquer um de vocês, se assim se fizesse necessário.

            Fazendo essa retrospectiva e comparativo mental, sinto a minha consciência satisfeita por eu ter feito o que considerava correto. Espero que o professor tempo ensine detalhes de compreensão que possa até hoje não ter chegado a algum de vocês, assim como pode me ensinar se de alguma forma eu errei em qualquer decisão tomada nas encruzilhadas da vida.

            Hoje estou entrando em nova fase de viva, estou passando a ser pai de filhos que se tornam pai. O meu conselho a este novo pai que a natureza forma é seguir o exemplo que eu deixei para vocês. Fazer aquilo que a sua consciência acusa como correto, dentro da justiça, da ética e do amor. Fazendo assim, mesmo que as intempéries da vida lhe alcance a existência, voce estará em paz com o grande Pai e com certeza, será consolado e guiado por Ele.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 16/08/2015 às 05h15