Mais uma vez o profeta Isaías parece falar pra mim, no capítulo 62 do seu livro:
10. Passai, passai pelas portas, preparai o caminho ao povo! Abri, abri a estrada, retirai dela as pedras! Alçai o estandarte para convocar os povos.
Por que imagino que essa seja uma mensagem de Isaías para mim? Porque aconteceu fatos no Hospital psiquiátrico onde trabalho, divulgados no grupo whatsapp no qual também estou incluso, que merecia uma intervenção da minha parte.
Uma técnica de enfermagem levou sua irmã alcoólica para ser internada e como não faz parte do procedimento adotado atualmente no Hospital, foi dado o encaminhado para o procedimento que deve ser seguido e aconteceu o seguinte envio de mensagens:
- A técnica de enfermagem J trouxe uma irmã para atendimento com intenção de interná-la neste serviço. A paciente encontra-se alcoolizada, fez uso de grande quantidade de bebida hoje. Encaminhei a UPA porém J não aceitou a conduta e disse que ia permanecer com a irmã no hospital até conseguir internação com outro médico. Funcionários informaram que ela adentrou o hospital com a irmã, em direção as enfermarias, dizendo que aguardaria no repouso.
- Essa técnica é funcionária do hospital? Está em serviço?
- Não sei onde elas estão agora. Ontem a paciente chegou a desmaiar após ingerir grande quantidade de álcool. É funcionária do Hospital, mas não está de serviço, veio acompanhando a irmã.
- Falei com a diretora. Ela está na sala da direção. Se quiser dar uma ligada lá e explicar a ela... Já liguei pra ela e passei a situação. Ok?
- Isso já aconteceu outras vezes com familiares de outros funcionários também, inclusive com complicações clínicas. Eles tem grande resistência quando recomendamos tratamento em outro local.
- Ok, G! Obrigada. Pois é... Complicado isso!
- No final do plantão ela me procurou pedindo o encaminhamento para desintoxicação na UPA.
- Então ela rasgou o que eu tinha dado!
- Foi devidamente encaminhada.
- É fogo, viu?
- Não sei. Quando ela chegou falando do caso, disse que já estava sabendo que a decisão do hospital era não admitir ninguém intoxicado.
- Acabou esta história de ofender de graça. Justiça neles, só assim vão ver quanto custa difamar um profissional.
Abaixo dessa última mensagem tinha uma Nota Pública de Retratação de familiares de um paciente atendido em outro hospital que desacatou o médico sem justificativas, que não é bem o caso que aconteceu conosco. Mas achei conveniente colocar minha reflexão sobre o caso, pois se tornava pertinente.
- Estamos desprotegidos quanto a saúde mental na comunidade, principalmente os alcoólicos. Fazem a desintoxicação nas UPAs e voltam para casa... Fazem acompanhamentos nos CAPs e voltam para casa... A maioria não consegue abstinência dessa forma, e isso quando conseguem ir até o serviço, e também conseguem ser atendidos. Quem trabalha no HJM sabe que somos um oásis, que podemos mesmo salvar a vida e a dignidade desses pacientes. Eu mesmo autorizei a internação de um alcoólico deteriorado física, mental e socialmente, foi encontrado caído nos becos de Ceará-Mirim. Estamos fazendo a sua recuperação, o que nenhum serviço extra-hospitalar pode fazer, contando com o apoio de toda nossa equipe, principalmente da enfermagem, principalmente da técnica de enfermagem J, que se desdobram em levá-lo para comer, higienização, necessidades fisiológicas, etc. Ela vê e participa desse esforço de recuperação de um paciente alcoólico, até fora de nossas atuais atribuições. Entendo o desespero dela querendo uma ajuda parecida para a irmã... Entendo a posição dos colegas no cumprimento das atribuições... O que pode nos salvar nesses momentos que não estão previstos nos cadernos acadêmicos? Somente a compaixão pela dor do próximo e a nossa consciência fará o resto. Muita luz a todos!
Depois dessa ocorrência fico pensando se não é o momento de reunir as pessoas que se sentem desamparadas com seus pacientes, sem ter a quem recorrer, para fazer uma espécie de cooperativa onde pacientes, familiares e profissionais se harmonizem em torno do bem comum... Sempre tendo em foco as lições evangélicas. Talvez seja difícil aplicar tal projeto num meio materialista, altamente competitivo, onde muitas vezes a vaidade supera a compaixão. Mas na leitura do segundo livro que tenho na lida diária, Fontes Franciscanas e Clareanas”, veio a resposta para essa indagação.
Dizia assim, na Legenda Maior de São Francisco, por São Boaventura, no ítem 9, quando fala da procura de Francisco ao Papa Inocêncio III para que ele autorizasse as regras da sua ordem:
E depois que chegou à Cúria Romana e foi introduzido até à presença do sumo pontífice, expôs o seu propósito, pedindo humildemente que lhe fosse aprovada a supradita regra de vida. E o Vigário de Cristo, o senhor Inocêncio III, homem realmente famoso pela sabedoria, vendo no homem de Deus a admiranda pureza e simplicidade de ânimo, a firmeza de propósito e o inflamado fervor de santa vontade, inclinou-se interiormente a conceder piedoso assentimento ao que lhe suplicava. No entanto, adiou realizar o que o pobrezinho de Cristo postulava, pelo fato que a alguns cardeais parecia tratar-se de algo novo e rigoroso acima das forças humanas. Estava, porém, presente entre os cardeais um homem venerando, o senhor João de São Paulo, bispo de Sabina, amante de toda santidade e auxílio dos pobres de Cristo; ele, inflamado pelo Espírito divino, disse ao sumo pontífice e a seus irmãos cardeais: “Se rejeitarmos o pedido deste pobre como muito rigoroso e novo, quando ele pede apenas que lhe seja confirmada uma forma de vida evangélica, devemos cuidar para não ofendermos o Evangelho de Cristo. Pois, se alguém diz que dentro da observância da perfeição evangélica e do voto está contido algo novo ou irracional ou impossível de se observar, está provado que blasfema contra Cristo, autor do Evangelho.” Tendo sido proferidas estas palavras, o sucessor do Apóstolo Pedro, voltando-se ao pobre de Cristo, disse: “Reza, filho, a Cristo para que ele nos mostre através ti a sua vontade, para que, sendo ela conhecida com mais certeza, anuamos mais seguramente aos teus piedosos desejos”.
Tudo isso mostra caminhos que o Pai vai disponibilizando para quem tem olhos pra ver e ouvidos para ouvir; quem já tem uma boa ideia do caminho a seguir... Por isso continuo a ver em tudo mensagens cifradas que o Pai me envia e que depende de mim decifrá-las e segui-las, como assim é a minha intenção.