Escreveu Voltaire em seu “Dicionário Filosófico”, uma crítica sobre o patriarca Abraão. Aquele que se tornou pai da religião cristã, judia e mulçumana.
Pois não é que Abraão com a idade de 135 anos, foi com a sua mulher, Sara, bem mais jovem que ele, 65 anos, para outras paragens bem distantes, obedecendo a ordem de Deus? Mas ele resolveu tirar proveito da beleza da mulher apresentando-a como irmã.
O rei enamorou-se da “jovem” Sara e presenteou o presumido irmão com muitas ovelhas, bois, burros, mulas, camelos e servos. Essa é uma prova que esse povo era poderoso e civilizado, pois ao invés de tomar à força a mulher desejada, recompensa magnificamente os irmãos que vinham oferecer as irmãs aos reis de Mênfis.
Tinha a “jovem” Sara 90 anos, segundo as Escrituras, quando Deus lhe prometeu que Abraão, que então tinha 160 anos, lhe daria um filho. Abraão que gostava de viajar, tomou o caminho do deserto de Cades, acompanhado da mulher grávida, mas sempre jovem e bonita. Como aconteceu com o rei egípcio, enamorou-se também de Sara um rei do deserto. O pai dos crentes pregou a mesma mentira que no Egito: fez passar a esposa por irmã. O que mais uma vez lhe valeu ovelhas, bois e servos. Pode-se dizer que graças a sua mulher, Abraão se tornou riquíssimo.
Eis uma forma de agir, segundo Voltaire e as Escrituras, que mostra a ética de um povo. Certamente o exemplo de Abraão não era um caso isolado entre seus conterrâneos. Foi isso que Voltaire fez questão de focar. Uma ética que procura ser justificada pelos estudiosos das sagradas Escrituras. Não posso me colocar na posição de magistrado e julgar um povo pelo que está escrito há tanto tempo, sem conhecer outras circunstâncias que poderiam ter influenciado. Apenas sei que essa ética, comparada com a que defendemos na atualidade, é muito diferente. Sei que muitos hoje se comportariam como Abraão naquele tempo, se chegada fosse essa condição. Também posso imaginar que, se eu fosse colocado nas condições de Abraão, mas tendo a consciência que tenho hoje, eu não teria agido como o patriarca. Da mesma forma que pessoas mais firmes na ética que eu teriam agido.
Isso mostra que existe uma evolução ocorrendo na consciência das pessoas e isso é que vai proporcionar a evolução do planeta como um todo, de campo de provas e expiações para campo de regeneração.
Talvez não seja a importância de uma só pessoa o fator determinante, como tenho a tendência de imaginar, que eu sou o elemento ético que vai fazer a diferença no contexto coletivo. Parece mais lógico que o contexto coletivo é quem vai determinar a evolução do planeta e não a presença de uma só pessoa. Uma só pessoa pode ter a importância de servir como modelo para que o coletivo se dirija para ele a partir de cada decisão individual.
Dentro dessa perspectiva consigo perceber a posição da minha influência dentro do campo relacional ao meu alcance. Sou instruído pelos exemplos positivos que são ensinados na escola, principalmente pelas lições do divino Mestre de Nazaré, e ao mesmo tempo procuro levar à frente essas lições no campo prático, mostrando dentro de minhas relações que este é o melhor caminho.