Dentro do estudo do Amor, desenvolvi antes a relação afetiva entre um homem e uma mulher, na situação hipotética de não existirem nenhuma outra condição de relação com outras pessoas, caso somente possível na situação alegórica de Adão e Eva. Agora desenvolverei a relação afetiva de características fraternas, sem outras possibilidades externas, além dos pais, também só encontrada na alegoria de Caim e Abel.
Nesse caso parece que o Amor não é colocado como protagonista dos relacionamentos dos irmãos entre si e dos pais, Adão e Eva, dentro da relação com Deus. Tudo parece se desenvolver apenas no que diz respeito as responsabilidades. Mas vamos aceitar que o Amor está presente em todos esses envolvidos, os quatro seres humanos e a força criadora de Deus.
O tributo que Caim e Abel deviam fazer a Deus seria na base do Amor que esses deveriam ter por Deus, e vice-versa. Mas a história contada parece que o Amor não está presente nessas relações. Os tributos oferecidos parecem atender mais a vaidade e o orgulho do que ao Amor; por outro lado o Pai demonstra um comportamento que estimula esse comportamento, ao demonstrar sua preferência por um tributo em detrimento do outro. Isso causa como consequência os sentimentos de raiva, frustração e principalmente do ciúme, como monstro destruidor à serviço do egoísmo. Deus não consegue perceber o desenvolvimento desses sentimentos negativos e prevenir o desenlace fatal que aconteceu.
Por tudo isso essa alegoria não está bem construída se consideramos Deus como a força maior do universo, um Deus onisciente, onipotente, onipresente e cuja essência é o próprio Amor. Uma energia dessa natureza não poderia ser o causador de tal fatalidade como é relatado. Isso só seria possível se essa energia que é conceituada na alegoria com Deus, fosse outra energia de características bem inferiores e que estaria no contexto daquela realidade ainda muito primitiva se passando pelo Deus como Amor.
O fato é que entre os irmãos não está citado a presença do Amor e pelo comportamento de ambos isso não existe, pois Abel aceita a deferência de “Deus” com satisfação, sem se preocupar com os sentimentos que pudessem estar sendo gerados no seu irmão. Por outro lado, Caim, deixa o seu coração ser invadido pelos sentimentos negativos até chegar ao ponto de assassinar o irmão. O Amor se existisse em seu coração, jamais permitiria isso.
Por tudo isso estamos observando que os livros da Bíblia, por mais importantes que sejam por expressar as intuições que se aproximam da divindade e servem para corrigir nossos sentimentos primitivos, não devemos aceita-los como relatos que representem uma sintonia perfeita entre Deus e os homens. A essência de Deus como Amor as vezes passa muito longe, não é sequer citado.
Portanto, este estudo do Amor que desenvolvo aqui nas suas aplicações práticas, devem seguir com prioridade as intuições da consciência devidamente esclarecidas sobre a natureza e essência do Amor, mesmo que aparentemente ou explicitamente, vá contra os preconceitos vigentes ao nosso redor.