No estudo espiritual que realizo nas terças feiras na AMRN, o tema desenvolvido foi a obsessão, entre elas a fascinação. Apesar de ter sido o leitor do texto, fiquei distante da discussão durante todo o tempo, fazendo reflexões se aquilo que estava sendo dito podia se aplicar a mim. Será que todo o pensamento que tenho em favor do Amor Incondicional não passa de uma fascinação? Será que durante todo esse tempo que dura cerca de 30 anos, eu tenha me debatido com uma ideia que não é minha e que não consigo ver a falsidade de seus argumentos? Que a prioridade do Amor Incondicional sobre o amor romântico que constrói as famílias nucleares, sofre um vício na sua base que é a introdução da sexualidade onde não deveria acontecer? Que a minha mudança de trajetória de vida, em busca de uma família ampliada, de uma família universal como base do Reino de Deus, é apenas uma quimera, uma ilusão, uma fascinação?
Vou reproduzir o texto que foi lido nesta reunião para que meus leitores possam participar de minhas preocupações, e se for conveniente colocar para mim suas opiniões, o que para mim seria muito grato.
239. A fascinação tem consequências muito mais graves que a obsessão simples. É uma ilusão produzida pela ação direta do Espírito sobre o pensamento do médium e que, de certa maneira, lhe paralisa o raciocínio, relativamente às comunicações. O médium fascinado não acredita que o estejam enganando: o Espírito tem a arte de lhe inspirar confiança cega, que o impede de ver o embuste e de compreender o absurdo do que escreve, ainda quando esse absurdo salte aos olhos de toda gente. A ilusão pode mesmo ir até ao ponto de o fazer achar sublime a linguagem mais ridícula. Fora erro acreditar que a este gênero de obsessão só estão sujeitas as pessoas simples, ignorantes e baldas de senso. Dela não se acham isentos nem os homens de mais espírito, os mais instruídos e os mais inteligentes sob outros aspectos, o que prova que tal aberração é efeito de uma causa estranha, cuja influência eles sofrem.
Já dissemos que muito mais graves são as consequências da fascinação. Efetivamente, graças à ilusão que dela decorre, o Espírito conduz o indivíduo de quem ele chegou a apoderar-se, como faria com um cego, e pode levá-lo a aceitar as doutrinas mais estranhas, as teorias mais falsas, como se fossem a única expressão da verdade. Ainda mais, pode levá-lo a situações ridículas, comprometedoras e até perigosas.
Compreende-se facilmente toda a diferença que existe entre a obsessão simples e a fascinação; compreende-se também que os espíritos que produzem esses dois efeitos devem diferir de caráter. Na primeira, o Espírito que se agarra à pessoa não passa de um importuno pela sua tenacidade e de quem aquela se impacienta por desembaraçar-se. Na segunda, a coisa é muito diversa. Para chegar a tais fins, preciso é que o Espírito seja destro, ardiloso e profundamente hipócrita, porquanto não pode operar a mudança e fazer-se acolhido, senão por meio da máscara que toma e de um falso aspecto de virtude. Os grandes termos – caridade, humildade, amor de Deus – lhe servem como que de carta de crédito, porém de tudo isso, deixa passar sinais de inferioridade, que só o fascinado é incapaz de perceber. Por isso mesmo, que o fascinador mais teme são as pessoas que veem claro. Daí consistir a sua tática, quase sempre, em inspirar ao seu intérprete o afastamento de quem quer que lhe possa abrir os olhos. Por esse meio, evitando toda contradição, fica certo de ter razão sempre. (Livro dos Médiuns – Allan Kardec)
São estas lições desse texto que merece uma profunda reflexão de minha parte, pois estou incluído naqueles que defendem uma ideia que para os outros parece absurda. Será que os meus argumentos estão contaminados por uma falsa verdade e o meu intelecto não consegue distinguir? Essa é uma dúvida que, colocando o meu intelecto como vítima, fica claro que ele não pode decidir. Por isso tenho que submeter esses meus pensamentos ao público, de colocar essa pretensa verdade que adquiri sobre a mesa, para ver se realmente ela ilumina ou traz mais confusão e discórdia, onde deveria existir concórdia e compreensão.