São Boaventura também descreve como São Francisco tratava os desejos da volúpia para manter a pureza do corpo e da alma:
03. Rígido na disciplina, estava no seu posto de guarda, colocando o máximo cuidado em conservar a pureza do corpo e da alma; por esta razão, perto dos primórdios de sua conversão, no tempo de inverno, imergia-se muitas vezes numa fossa cheia de gelo tanto para subjugar a si o inimigo doméstico quanto para preservar do incêndio da volúpia a cândida veste do pudor. Afirmava que era incomparavelmente mais tolerável ao homem espiritual suportar no corpo um intenso frio do que sentir no espírito o ardor da concupiscência da carne, ainda que pequeno.
04. E numa noite, no eremitério de Sarteano, ao dedicar-se à oração numa pequena cela, o antigo inimigo chamou-o, dizendo por três vezes: “Francisco, Francisco, Francisco!” Como ele tivesse lhe perguntado o que queria, aquele acrescentou com astúcia: Não há nenhum pecador no mundo a quem Deus não perdoe, se se tiver convertido; mas aquele que se matar a si mesmo com rigorosa penitência não encontrará a misericórdia eterna”. Imediatamente, o homem de Deus reconheceu por revelação a falácia do inimigo e como tinha tentado chama-lo de volta à tibieza. De fato, o evento que segue indicou isto. Pois, logo depois disto, uma grave tentação da carne o apreendeu, por sopro daquele cujo hálito faz arder as brasas. Assim que o amante da castidade a pressentiu, tendo deposto a veste, começou a açoitar-se muito fortemente com uma corda, dizendo: “Eia, irmão burro, assim convém que tu fiques, assim é necessário que suportes o castigo. A túnica é destinada a religião, é portadora de um sinal de santidade, não convém a um libidinoso roubá-la. Se queres ir a algum lugar, prossegue!” Além disso, animado também por admirável fervor de espírito, tendo aberto a cela, saiu para o jardim e, mergulhando o pequeno corpo já desnudado em grande quantidade de neve, começou a ajuntar dela sete montes com mãos cheias. Colocando-os diante de si, assim falava ao seu corpo: “Eis que esta maior é tua esposa, estes quatro são dois filhos e duas filhas; os outros dois são o servo e a serva que deves ter para servir-te. Portanto, apressa-te a vestir a todos, porque morrem de frio. Mas se a múltipla preocupação deles te molesta, serve solicitamente ao único Senhor!” Imediatamente, o tentador se retirou vencido, e o santo homem voltou para a cela com a vitória; porque, enquanto muito se congelava exteriormente por penitência, interiormente extinguiu de tal modo o ardor da concupiscência que em seguida não sentia absolutamente tal coisa. E um irmão, que então se dedicava à oração, viu tudo isto, quando a lua caminhava mais claramente. Tendo o homem de Deus descoberto que ele tinha visto estas coisas de noite, revelando-lhe o processo da tentação, ordenou-lhe que, enquanto vivesse, não contasse a nenhum vivente a coisa que ele vira.
05. E ele não só ensinava que os vícios da carne devem ser mortificados e os incentivos dela devem ser freados, mas também que os sentidos exteriores, pelos quais a morte entra na alma, devem ser guardados sob a máxima vigilância. Mandava que se evitassem com mais solicitude as familiaridades, as conversas e o olhar das mulheres, afirmando que por meio destas coisas o forte se quebra e, muitas vezes, o espírito adoece. Disse que quem conversa com elas escapa tão facilmente do contágio delas – a não ser um homem provadíssimo – quanto, segundo a Escritura, quem anda no fogo e não queima as plantas dos pés. Na verdade, ele tanto desviava seus olhos para não verem tal vaidade que, conforme disse uma vez a um companheiro, quase nenhuma ele reconheceria de fisionomia. Pois julgava que não era seguro absorver no íntimo as imagens das formas delas, as quais podem ou ressuscitar o pequeno fogo da carne domada ou manchar o brilho da mente casta. – Afirmava que a conversa da mulher é frívola, exceção feita unicamente à confissão ou brevíssima instrução, segundo o que é necessário à salvação e convém ao decoro. Dizia: que negócios tem um religioso a tratar com uma mulher, a não ser quando ela pede religiosamente a santa penitência ou um conselho de vida melhor? Por excesso de segurança se cuida menos do inimigo, e o demônio, quando pode possuir apenas um cabelo no homem, depressa o faz crescer em uma trave.
Essa atitude de Francisco com relação ao próprio corpo e aos desejos que dele nascem, vejo como muito exagerado... mas dentro de sua visão na qual colocava o demônio dentro da carne e que não podia ser vencido pelo maligno, é compreensível que ele tenha agido assim, na busca de seguir com fidedignidade os passos do Cristo.
Meu modo de obedecer a Deus e seguir as lições de Jesus é diferente. Eu respeito o meu corpo, apesar de em alguns momentos eu castiga-lo com jejuns. Mas jamais o castiguei nem penso fazer isso. Logo porque eu reconheço que todos os instintos, qualquer célula do corpo, qualquer organização biológica por mínima que seja, tenha sido projetado e criado por Deus. Então não devo considera-lo como uma coisa maligna, a morada do demônio, pelo contrário, considero como o templo do Senhor. Os desejos que surgem na minha mente originados da carne, podem ter um direcionamento perverso, considerado os interesses do próximo que comigo se relaciona. Mas cabe a mim ter o controle suficiente e impedir que ele seja instrumento do mal, pelo contrário, devo observar todas as circunstâncias e transformar essa força tão importante que Deus deixou comigo, para ser instrumento de ajuda ao próximo.
Os prazeres inconvenientes que por acaso ele desperte, nunca vou usar o chicote como Francisco e supliciá-lo, mas sei como oferecer a ele um prazer associado à imaginação, e sempre dentro dos princípios do Amor Incondicional, que apesar de ser solitário não deixa de ser uma atitude mais solidária para com o corpo do que o chicote de Francisco. Sinto que fazendo assim estou também mantendo a pureza do corpo e da alma.