Obsessão geralmente é entendida como a influência negativa que um espírito desencarnado exerce sobre uma pessoa, um espírito encarnado. As pessoas que mais estão sujeitas a isso são chamadas de médiuns, pois têm facilidade de comunicação com o mundo espiritual. Diante desse perigo pode se perguntar se a faculdade mediúnica não é uma coisa lastimável? Acontece que o mundo espiritual é mais um aspecto da Natureza. Espíritos desencarnados no lado espiritual e espíritos encarnados em homens no lado material existem desde os primórdios da humanidade. E dessa forma eles se relacionam de acordo com as facilidades. A faculdade mediúnica não é mais que um dos meios que eles podem se manifestar. E também podemos observar que a obsessão não ocorre exclusivamente do espirito desencarnado para o espirito encarnado. Também pode acontecer do espírito encarnado para o espírito que desencarnou; do espírito encarnado para outro espírito encarnado; do espírito desencarnado para outro espírito desencarnado.
Eu não possuo a faculdade mediúnica propriamente dita, mas já fui vítima e também testemunha de uma obsessão que ocorreu comigo e outra que ainda ocorre com minhas companheiras.
A obsessão que ocorreu comigo foi uma amiga que queria me namorar, mas queria que eu pensasse da mesma forma que ela. Ela queria um namorado exclusivo, com a possibilidade de casamento, já que é extremamente religiosa e sua igreja não permite um relacionamento livre; eu, ao contrário, decidi viver com liberdade, um amor inclusivo que permite a intimidade com qualquer pessoa que seja conveniente e obedeça a Lei do Amor, guiado pela bússola comportamental que Jesus nos ensinou: “Amar ao próximo como a si mesmo”, “Não fazer nada para o próximo que eu não queira para mim”; “Fazer ao próximo o que eu gostaria que fizessem a mim”. São todos desdobramentos do mesmo princípio. Porém essa minha amiga tem certeza que o pensar dela é o correto e o meu é que está errado. Em função disso telefonava diariamente cerca de 10 ou mais vezes para mim, sempre dizendo para eu mudar o meu modo de pensar, que isso era um sacrilégio, que Deus não estava gostando do que eu estava fazendo, que ela estava orando para minha conversão, que Jesus iria tocar o meu coração para eu ver o meu erro e ficar somente com ela. Eu ouvia todas essas constantes admoestações, conselhos, ameaças e procurava ter a maior calma. Dizia que este era o meu modo de pensar, que eu não iria enganá-la dizendo ter mudado apenas para ter oportunidade de namorar, de ter relacionamento sexual com ela. Acredito que essa situação perdurou cerca de dois anos. Até que ela resolveu não se envolver mais comigo sexualmente enquanto eu não mudasse de opinião. Eu respeitava sua posição, não insistia em namoro com ela ou tentava persuadi-la de sua decisão. Apenas dizia que se ela pensasse diferente, pensasse da forma que eu penso, então viabilizaria os nossos encontros sexuais. Enquanto isso não acontecesse nós deveríamos ser apenas amigos. Ela reagia algumas vezes de forma agressiva, chegou até a me acusar de tê-la enganado. Eu com toda a paciência mostrava que desde o início de nosso relacionamento eu lhe dissera como eu era e como pensava e agia.
O tempo corria, com esses surtos de obsessão sobre mim, tentando direcionar minha forma de pensar e agir, as vezes temperados por impulsos de agressividade, outros momentos de distanciamento, ficava dias sem falar comigo. Atualmente ela reconheceu a incapacidade de mudar a minha forma de pensar e deixou de agir de forma obsessiva. Conversamos agora como amigos e ela vez por outra diz algo sobre o quanto gosta de mim e que ainda não encontrou alguém que me substituísse. Acredito que eu tenha vencido o seu processo obsessivo e mantido a postura de amigo, de um irmão disposto a ajuda-la nas dificuldades, como realmente acontece. Sou o seu confidente nas tentativas que ela faz de se aproximar de outras pessoas, pede o meu conselho e as vezes tenta fazer ciúmes, mas tudo agora no campo da amizade e não da obsessão.
A outra obsessão que ocorre ao meu lado e da qual sou testemunha, diz respeito as duas companheiras que sempre estão comigo nas reuniões de terça a sexta feira. A companheira mais antiga tenta mostrar a minha companheira mais recente do tempo que ela está desperdiçando perto de mim, que ela deve procurar construir a vida dela independente da minha, com outra pessoa, que eu não ligo para ela e que estou geralmente com outra companheira nos fins de semana e ela fica sozinha com a filha, que ela deve ter o amor próprio suficiente para sair dessa situação. Eu vejo com frequência o grande desgaste emocional que essa atitude provoca. Posso também considerar como uma obsessão, mesmo que em ambos os casos os obsessores procurem fazer o bem ao obsediado, segundo a forma deles pensarem. Acontece que os obsediados têm a sua própria forma de pensar e que tal obsessão não causa bem. No meu caso eu tive a resistência suficiente para suportar durante mais de dois anos essa obsessão, sem entrar em conflito com o obsessor, até o momento que ele reconheceu o tempo perdido que estava tendo comigo naquele tipo de ação. Firmamos então um relacionamento de amizade.
Mas com relação às minhas companheiras, não consigo prever um resultado tão satisfatório. Vejo que acontece a deterioração da relação, um clima de raiva se instala em ambas as partes, principalmente na obsediada. Eu, na condição de obsediado, consegui manter a serenidade, o sentimento de compaixão pelo obsessor, a tolerância nos seus arroubos de agressividade. Minha companheira obsediada não consegue ter esse perfil psicológico, por mais que seja aconselhada nesse sentido. A solução é tentar apelar para o lado caritativo da minha companheira obsessora e pedir para ela deixar de se “importar” com o destino da amiga, pois ela já sabe o que deve fazer e deve possuir também suas estratégias de sobrevivência e que ninguém pode menosprezar, pois ninguém pode prever o resultado que o futuro pode oferecer a qualquer um. Afinal neste mundo tudo é passageiro, tudo está mudando, só a nossa alma é eterna e com ela o nosso aprendizado.