Os monstros bíblicos, Behemot e Leviatã, passam o simbolismo de imperar sobre o mundo. O primeiro com o maciço poder de sua pança, firmemente apoiado nas quatro patas; o segundo agitando-se no fundo das águas, derrotado e temível no seu rancor impotente.
Na Bíblia, Deus exibe Behemot a Jó, dizendo: “Vê Behemot, que criei contigo, nutre-se de erva como o boi. Sua força reside nos rins, e seu vigor nos músculos do ventre. Levanta sua cauda como um ramo de cedro, os nervos de suas coxas são entrelaçados. Seus ossos são tubos de bronze, sua estrutura é feita de barras de ferro. É obra-prima de Deus, foi criado como soberano de seus companheiros. As montanhas fornecem-lhe a pastagem, os animais dos campos divertem-se em volta dele. Deita-se sob os lótus, no segredo dos caniços e dos brejos; os lótus cobrem-no com sua sombra, os salgueiros da margem o cercam. Quando o rio transborda ele não se assusta; mesmo que o Jordão levantasse até a sua boca, ele ficaria tranquilo. Quem o seguraria pela frente, e lhe furaria as ventas para nelas passar cordas?” (Jó, 40:10-19)
Essa fala indica a unidade da essência entre o homem e o monstro. Behemot é ao mesmo tempo um poder macrocósmico e uma força latente na alma humana. A Bíblia nos traz uma compreensão mística dessa fusão homem/monstro, mas a ciência cada vez mais descortina a origem dos impulsos primitivos, animalescos, brutos, que permanecem como memória do que passamos na evolução, no processo ontológico, onde reproduzimos na replicação do corpo todos os momentos anatômicos de conquistas passadas. Então, o monstro, o animal, o Behemot continua a residir dentro de nós, no profundo de nosso inconsciente, mesmo que tenhamos por fora toda uma educação civilizatória. E Deus é muito claro quando diz: “Eu o criei contigo”!
Eu estou com um monstro dentro de mim, tenho que aceitar essa realidade. Muitos desejos que sobem à minha consciência são provocados por suas ruminações, querendo alimentação, ociosidade, sexo, poder, dinheiro... muito dinheiro! Um bicho tão medonho, que não se incomoda com nada, que não teme a nada, no entanto é dito que é “obra-prima de Deus”... ?!? Coloca o homem em segundo plano? Até insinua que o homem é impotente frente a ele: “Quem o seguraria pela frente, e lhe furaria as ventas para nelas passar cordas?”
Sim, eu aceito essa informação dada pela Bíblia e reforçada pela Ciência, mas não me sinto intimidado a ser subjugado por ele. Depois que o identifico dentro de mim, posso sentir o que ele sente, mas posso decidir o que meu espírito considera mais conveniente. Sei que não posso lhe segurar à força, pela frente, sei que realmente sou mais fraco fisicamente. Mas o meu espírito é forte, faz parte da centelha divina, tem o potencial de controlar todas as forças da Natureza, inclusive Behemot. Mas tenho que ir devagar, sei que não posso vencer o monstro de uma só vez. Tenho que ver qual é o limite de sua influência maléfica sobre mim e se possível transformar sua energia em algo útil para a estratégia do Amor Incondicional do Espírito. Sei que ele ainda tem ampla influência sobre mim e poderia colocar aqui, com uma certa hierarquia, quais ações que eu faço sob o domínio de Behemot: gula, ociosidade, sexo, poder, dinheiro.
Dessa respiração do monstro sobre a minha consciência, o mais grave e difícil de controlar é a gula e a preguiça, ociosidade. Não consigo manter o meu peso sob a faixa da normalidade, estou sempre no sobrepeso e com entradas na obesidade, o que tento controlar a cada dia; a preguiça impede que eu realize o trabalho necessário e coloque em ação com mais determinação todos os projetos que o Pai coloca em minha mão; o sexo também é um elemento poderoso, mas tenho um melhor controle sobre ele, inclusive usando sua energia para vitalizar o Amor Incondicional que é o meu caminho evolutivo no campo espiritual. Mesmo porque eu consigo dissipar a sua energia reivindicatória de prazeres sexuais com ações imaginativas, dentro dos princípios morais e sem interferir negativamente com os projetos de vida de terceiros. O poder e o dinheiro também estão sob controle, faço o trabalho necessário para conquistar poder e principalmente dinheiro, de forma lícita, mas para utilizá-los em projetos de interesse do espírito e da vontade do Pai.
Portanto, não consegui ainda furar as ventas do Behemot e conduzi-lo pacificamente para os caminhos do espírito, mas sinto que estou tentando fazer isso, sem culpa-lo ou fustiga-lo, e sim considerando-o como parte de meu próprio ser, como assim Deus me construiu.