A terapia familiar hoje está focada em núcleos parentais, a família nuclear. Na minha compreensão de considerar a família universal como foco, apesar da abrangência, é indispensável extrapolar os limites da família nuclear. Devo deixar claro que essa forma de raciocinar e de se comportar não quer anular a importância dos parentes mais próximos, do núcleo familiar que construímos como imperativo da Natureza. Tem sua importância local, imediata, mas nunca sem menosprezar todo o contexto que constrói a família universal, pois somente assim podemos construir o Reino de Deus ensinado por Jesus.
Vejo assim a necessidade de ampliar minhas ações em direção a outros núcleos familiares, que sejam considerados parentes, mesmo que não exista a consanguinidade. É neste ponto de compreensão que vejo a importância de ampliar os meus afetos, mesmo que não exista sexualidade, mas sempre com os critérios de fraternidade, de solidariedade.
Entendo que Deus, vendo minha intenção de cumprir a Sua vontade, de construir relacionamentos na base do Amor Incondicional, colocou na minha área de ação uma família com diversos problemas e que precisavam de minha orientação técnica e principalmente espiritual. Com essa compreensão estou abrindo hoje este espaço que denomino Terapia Familiar para registrar semanalmente o progresso que poderei alcançar com essa atividade, da mesma forma que faço com o registro semanal de Foco de Luz para informar o avanço que construímos na comunidade da Praia do Meio.
Neste domingo foi feito a primeira reunião com vários integrantes dessa família, cujo tema de reflexão foi o Perdão, um texto escrito pelo papa Francisco, onde ele defende que a família seja esse local de perdão. Durante a discussão todos se posicionaram e colocaram essa dificuldade que existe dentro de cada um com suas características pessoais, alguns com mais facilidade, outros com mais dificuldade de perdoar.
Como primeiro passo, essa compreensão foi importante para o início desse trabalho difícil e complexo. Irei denominar cada família nuclear com a inicial de seus componentes para não expor a individualidade de ninguém.
Na família DNAE é que existe o maior problema. O marido passou a se encontrar com outra mulher e a esposa descompensou psiquicamente, com pensamentos obsessivos, ideias de fuga, de autodestruição e com necessidade de medicamentos, psicoterapia e talvez internação psiquiátrica.
Na família CSFP existe um risco da filha menor, de 15 anos, que foge de casa, não obedece aos pais, faz uso de bebidas alcoólicas e se envolve com pessoas perigosas. O pai costuma beber toda a semana e não consegue autoridade para iniciar um diálogo proveitoso. O irmão tenta resolver a situação na base da violência e já se apresenta necessitado de fazer uso também de psicofármacos.
A matriarca, pessoa muito preconceituosa, apesar de muito religiosa, guarda no coração pesadas mágoas que atingem todos os membros da família. O filho que mora consigo é alcoólico e ninguém toma ações necessárias para conter a doença e salvá-lo de morte precoce. A família GS, recém-formada, sofre influência direta da matriarca e se recolhe de forma patológica no seu mundo resumido à casa e ao trabalho, sofrendo constantes dores físicas.
Existe um potencial profissional muito bom que é subutilizado por medo dos integrantes. Esse pode ser um bom argumento terapêutico na terapia do coletivo, atuando na motivação profissional de cada um.
Nesse contexto é que vai se desenrolar as minhas ações terapêuticas neste espaço familiar ampliado. Rogo a Deus que me dê a sabedoria necessária para eu conduzir todos esses conflitos, mesmo porque estou dentro deles. Confio que a aplicação das lições do Evangelho em cada dificuldade apresentada, sejam suficientes para a correção dos desvios num clima de amor, solidariedade e fraternidade, ao lado da justiça e da verdade.