Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
30/09/2015 23h59
CONSTRUÇÃO DA PAIXÃO

            Fiquei sempre curioso como era que se desenvolvia a paixão dentro do psiquismo, se isso acontece, aparentemente, sem nenhuma participação da vontade, por pessoas as vezes as mais inconvenientes e inesperadas.

            Parece que a paixão é um dos apetites que funciona sob a aura de Behemot, aquele monstro caracterizado pelos instintos animais e que a Bíblia cita como obra prima de Deus. Assim, como a fome de alimentos, que é desencadeada no cérebro quando o organismo percebe que não há mais glicose suficiente circulando no sangue, a paixão é desencadeada também no cérebro quando este percebe a necessidade ou oportunidade de reprodução. Não é que seja tão simples assim, mas na falta de explicação mais complexa... tenho constantemente ao meu redor mulheres que oferecem essa oportunidade de reprodução, e por que não desperta esse sentimento por todas elas, ou então eu direciono para quem desejo me apaixonar? Então esse despertar não é meu. Só pode ser de Behemot.

            Quando esse sentimento desperta por determinada pessoa, sinto logo uma pressão diferente no psiquismo no sentido de aproximação, simpatia, amizade... que vai se desenvolvendo no adubo do tempo. Quanto mais o tempo passa mais o sentimento vai se fortalecendo no cérebro e isso causa uma avalanche de inspirações, geralmente no campo poético. Posso sentir esse sentimento crescendo, saber que é paixão e nada poder fazer para que ela não se desenvolva. Sei que a mente promove mecanismos mirabolantes de aproximação, de cuidados, de atenção redobrada. O que consigo fazer e controlar é manter sempre a atenção voltada para o bem estar da pessoa que provoca tudo isso não ficar comprometido. Não posso deixar que esse apetite de Behemot prejudique o alvo da paixão. O Leviatã das palavras falsas para conquistar o que se deseja, mesmo em detrimento do bem estar do outro, não se forma dentro do meu psiquismo. Não posso evitar que surja na consciência os desejos exagerados de Behemot, mas posso controla-los com os princípios espirituais de “não fazer ao outro o que não quero para mim”.

            Tive a oportunidade de ficar junto com esta pessoa que desencadeou o início da paixão por cerca de cinco horas. Fiz o máximo de esforço para deixar o meu espírito acima das sensações que se desenvolviam no meu campo mental. Sabia que tudo aquilo que estava sentindo tinha um forte conteúdo carnal, vinha direto das entranhas, do ventre do Behemot, e eu devia conter o meu comportamento para não ser invasivo nos limites do outro. Meu espírito operava essas forças psíquicas de aproximação que o vulgo chama logo de amor, o amor romântico, com os princípios do Amor Incondicional. Era como se essa energia do Behemot passasse para o meu espírito, e assim eu não estava à serviço de Behemot, mas deixava a energia dele a serviço do Amor Incondicional. Poderia ficar anos ao lado dessa pessoa e nunca realizar o sexo, desejo do Behemot, se o espírito considerasse isso inconveniente aos princípios do Amor Incondicional. O sexo só seria realizado se o espírito considerasse ser a ação também benéfica aquela promotora da paixão.

            Esse é o ponto em que meus críticos dizem que estou equivocado quando digo que pratico o Amor Incondicional dentro dos meandros da paixão e coloco dentre dele a possibilidade do sexo. Eles não percebem que também pode acontecer o contrário, de eu ficar o tempo que for preciso junto a essa pessoa e não acontecer sexo, se a consciência considera que isso seja inapropriado.

            Então, fiquei junto com essa pessoa durante essas cinco horas procurando identificar os possíveis motivos dela ter desencadeado o sentimento da paixão. Não observava nada de extraordinário, não era uma pessoa de dotes anatômicos fantásticos, pelo contrário, estava com peso inferior ao normal, e com efeito de acidentes pelo corpo. Por que danado o Behemot foi despertar por essa pessoa a paixão? Pessoa da qual eu recebia até má informação sobre a sua forma de agir? E eu observava uma série de defeitos físicos de um ponto de vista crítico? Mas Behemot parece que não se incomodava com isso. Terminei o meu encontro com o sentimento da paixão ainda pulsante.

            Sei agora com todas as letras que esse tipo de paixão é proveniente dos desejos de Behemot, o monstro interno que a Bíblia considera obra prima de Deus. Agradeço a Ele por ter me dado forças e compreensão para eu entender esse mecanismo e não ficar submisso à Behemot, pelo contrário, posso operá-lo no sentido de reforçar o Amor Incondicional que funciona também à base de energias. Posso sentir os efeitos da paixão e não deixa de ser uma sensação agradável, principalmente quando percebo também que ela reforça o Amor Incondicional que é a minha trilha comportamental oferecida por Deus e aceita por meu livre arbítrio.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 30/09/2015 às 23h59