Existem dois processos evolutivos na criação, um material e outro espiritual, isso é o que até agora consegue alcançar a minha compreensão. Enquanto o nosso espírito é criado simples e ignorante, e deve percorrer toda a cadeia evolutiva, dentro da matéria e mais tarde dentro da moral, até chegar bem perto do Criador. A matéria também está se desenvolvendo e evolui na formação de mundos e seres cada vez mais complexos, até que possam conter a autocrítica e o livre arbítrio próprios do espírito mais evoluído intelectualmente. Isso é o que os espíritos superiores vêm nos ensinando nos últimos tempos, e de certa forma confirmado pela ciência.
Nossos corpos humanos, então, não possui uma estrutura apenas física, localizada e limitada no tempo e no espaço material, mas também possui uma estrutura emocional e mental, dentro da bagagem extrafísica do espírito ao longo de um tempo indeterminado. Essa junção das forças materiais do cérebro com as forças etéreas do espírito se realizam no campo mental e surge assim o que denominamos de personalidade. Persona é aquela máscara que usamos conforme as conveniências, uma definição meramente prática e funcional.
Devemos reconhecer que a personalidade assim formada possui mistérios desconhecidos que nossa inteligência ainda não alcança. Tem muitos aspectos que podem ser apenas observados e discutidos, apesar de indestrutíveis no tempo. Eu sei quem eu sou, desde criança até hoje com a idade de 63 anos. Lembro do meu corpo tão diferente enquanto criança, adolescente, adulto jovem... enquanto isso a minha persona, manipulada pela consciência, era usada como instrumento de relação com o meio ambiente e com os meus semelhantes.
Com a compreensão cada vez mais apurada que vou conquistando, vou entendendo cada vez mais o meu papel no projeto de vida que o Pai, recém conhecido, me legou. Consigo perceber cada vez mais com maior clareza a essência de Sua energia e que denomino Amor. Amor este que deve voltar com prioridade para o ambiente em meu entorno e para o próximo que comigo se relaciona. Devo ser a expressão desse Amor por onde eu andar, com quem estiver, sem exclusivismo ou apego com ninguém. Devo ser a manifestação do Amor como agente harmonizador, catalizador do crescimento positivo e co-criador com o Pai.
Tal qual o corpo físico que se compõe de órgãos formados por unidades celulares, saudáveis e doentes (estruturas materiais percebidas pelos sentidos), a personalidade como um todo possui suas próprias estruturas “orgânicas” para funcionar, formadas por unidades elementais (estruturas energéticas não percebidas pelos sentidos).
Como as células físicas que podem tanto ser saudáveis quanto doentes (cancerosas, por exemplo), os elementais podem ser positivos (saudáveis) ou negativos (doentes) em sua natureza.
Os elementais negativos podem ser chamados pensamentos-desejo e constituem os substratos da consciência viciosa. São formas mentais emocionais que escravizam a mente, conforme Buda se referiu.
A Bíblia denomina a esses elementais negativos como demônios, que corresponde à sombra do Behemot. Podemos analisa-los em cada um dos seus aspectos, cada uma de suas faces. Cada uma delas possui um aspecto “inflado” e “desinflado”, a semelhança do baiacu. Tendem a fingir-se de opostos, mas são na verdade a mesma criatura e têm quase o mesmo efeito sobre a mente. Vejamos alguns exemplos: timidez x temeridade; vaidade x autodepreciação; autoindulgência x autonegação; preguiça x mania de trabalho; dominação x submissão. Em qualquer contexto social, um aspecto pode ser mais funcional que outro. Às vezes torna-se difícil distinguir um “demônio” inflado de uma virtude genuína com base unicamente no comportamento exterior da pessoa. O ato generoso, por exemplo, tanto pode brotar virtuosa e espontaneamente de um senso de abundância, quanto egocentricamente, a partir do desejo de ter ou controlar.
É isso que entendo como colocar a força do Behemot à serviço do Amor Incondicional. Ele (Behemot) quer com o ato generoso ter ou conquistar o alvo do seu prazer, mas o meu espírito impede o alcance desse objetivo, sem deixar que o seu prazer passe por cima dos interesses e necessidades do próximo.
Os elementais negativos surgem quando as escolhas dos pensamentos circulam majoritariamente pelos planos materiais, com suas ilusões de separação, medo, vulnerabilidade e morte. Esses elementais assim construídos manipulam a personalidade a ponto do indivíduo continuar a energiza-los e multiplica-los pelas repetidas escolhas de pensamento, emoção e ação. A identificação com esse complexo de elementais negativos pode ser chamada de egotismo. Esta é a maneira pela qual convivemos com a sombra de que falou Carl Jung.