Existe uma tendência a colocar a Caridade como sinônimo de Amor, principalmente no texto que Paulo escreveu (ICor, 13:1-13). Existem versões dentro da própria Bíblia que ora coloca a designação de Caridade e outras de Amor. Eu ficava incomodado com isso, pois me parecia estar colocando o Amor em segundo plano quando trocava pela palavra Caridade. Hoje ao ler no livro “Fontes Franciscanas e Clarianas” um trecho da biografia de São Francisco me provocou uma correção cognitiva, e para tentar explicar como aconteceu vou reproduzir o texto que li nas páginas 610 e 611:
“E assim, a excessiva afeição da caridade o elevava às realidades divinas de modo que a afetuosa benignidade dele se estendia aos companheiros da natureza e da graça. Pois que a piedade do coração o tornara irmão das outras criaturas, não se deve admirar se a caridade de Cristo o tornava mais irmão dos que estão marcados com a imagem do Criador e remidos pelo sangue do Autor. Não se julgava amigo de Cristo, se não cuidasse das alma que ele remiu. Dizia que nada deve ser colocado à frente da salvação das almas, demonstrando mormente que o Unigênito de Deus se dignou pender na cruz pelas almas. Daí o esforço que ele tinha na oração, sua corrida à pregação e os excessos em querer dar exemplo. Por isso, toda vez que a excessiva austeridade era repreendida nele, respondia que havia sido dado como exemplo para os outros. Embora a carne dele – a qual já se submetia espontaneamente ao espírito – fosse inocente e por causa das ofensas não precisasse de nenhum castigo, no entanto, por causa do exemplo, renovava-lhe as penas e as fadigas, trilhando por causa dos outros duros caminhos. Pois dizia: Se eu falar a língua dos homens e dos anjos, mas não tiver em mim mesmo a caridade e não mostrar ao próximo os exemplos de virtudes, pouco sirvo para os outros, nada sou.”
Tem um certo aspecto que faço crítica, a intenção de ensinar que foi o sangue de Cristo que remiu os nossos pecados, que já estamos limpos dos erros que cometemos frente ao Pai devido a esse sacrifício do Mestre e simplesmente por acreditar nisso. A compreensão que tenho é que esse sacrifício do Mestre fazia parte da forma de ensinar, de maneira prática e pessoal. Se hoje nós usamos os recursos da tecnologia para ensinar os nossos conteúdos, com computador, Datashow, videoconferência, etc, O Cristo usou o seu próprio corpo e suas ações como uma aula direta, em três dimensões, com nós postos dentro dela, independentemente do tempo e do espaço. É a assimilação de suas aulas e a procura por aplica-las em nossos relacionamentos é que vai corrigindo os nossos erros e nos aproximando gradativamente do Criador. Portanto, tudo vai depender do nosso esforço em melhorar, em fazer a reforma íntima, e não um simples ato de fé, de acreditar em Jesus como filho de Deus, mas permanecer com os mesmos vícios e defeitos.
Mas esse é um ponto adicional. O que quero enfocar neste momento é a aproximação que tive dos conceitos de Amor e Caridade, e sim que podem ser usados como sinônimos sem diminuir a importância do Amor. O que os santos já sabiam e praticavam, acredito que vim a saber agora. Como é que eu irei expressar o meu amor no mundo ao meu redor? Com atos! Não é minha atitude contemplativa, mesmo que seja uma contemplação em direção a Deus, mas é como se o Amor que flui de Deus para mim tivesse parado e se acumulado sem fluir para ninguém, que é o que Deus deseja, assim acredito. Quando alguém se aproxima de mim e pede uma esmola pelo Amor de Deus, está me propondo uma troca cujo aval é Deus. Dar algum benefício a ele e receber como moeda o Amor de Deus. E Deus sempre estar disposto a pagar, nisso acredito, mesmo que a pessoa esteja tentando enganar a minha boa-fé. Mas não devo deixar que essa possibilidade de ser enganado me intimide, posso usar o bom senso e evitar realmente o mal uso da minha ajuda, mas não posso disseminar essa resposta para todos que me estendem a mão. Essa ação de ajuda que posso fazer em benefício do meu irmão necessitado, é o que corporifica o sentimento do Amor. Por mais que eu ame o próximo como a mim mesmo, mas se não faço uma ação de ajuda-lo em suas dificuldades, é como se eu não o amasse, fosse indiferente. O Amor fosse ocioso como aquele que simplesmente e unicamente contempla. Não estou cuidando das almas que Jesus está ensinando, não posso ser considerado aluno do Cristo, quanto mais seu amigo.
Foi essa a compreensão que chegou à minha consciência, a Caridade é o braço prático do Amor, e sim podem ser usados como sinônimos, se essa caridade realmente tem as vestes da incondicionalidade do Amor.
Tudo isso me deixou motivado para construir outro questionário para aqueles que querem aprender a praticar o Amor como Paulo ensinou, tendo como base o texto da Primeira Epístola aos Coríntios.