Jean Paul Sartre desenvolveu uma conceituação de ateísmo para justificar o seu pensamento. Inicialmente pensava numa forma de “ateísmo idealista”, um tipo de ausência de uma ideia, uma ideia de Deus. O ateísmo idealista é difícil de explicar. Quando se diz, “Deus não existe”, é como se tivesse tentando desfazer uma ideia que já está no mundo, e tivesse colocado em seu lugar um nada espiritual. Ele observava que a ideia de Deus era frustrada dentre todas as outras ideias. Era um tipo de ateísmo por omissão, simplesmente por não considerar a ideia de Deus, que certamente continuava a vir em sua mente.
Desenvolveu então, o “ateísmo materialista” que é a postura de ver o universo sem Deus. Parece ser mais uma consequência do “ateísmo idealista”, pois se eu recuso considerar a ideia de Deus que vem na minha mente, o próximo passo é tentar ver o universo sem Ele. Imagina que o ser humano é deixado nas coisas e que não é eliminado das coisas por uma consciência divina que as contemplaria e as faria existir. O filósofo força o raciocínio para não considerar Deus, usando tanto a omissão quanto a ação do pensamento.
Ele faz uma revisão histórica no seu pensamento. Diz que houve um tempo em que era normal (quer dizer, a norma, a maioria das pessoas) crer em Deus, e cita o exemplo do século XVII. Talvez por se desenvolver nesse século a Reforma Protestante num contraponto com a Revolução Científica.
Faz essa digressão para considerar a maneira do viver atual em sua época, o modo pelo qual se toma consciência da própria consciência e dessa forma Deus escapa, não há percepção nem intuição do divino. Dessa forma pensa que, no momento no qual ele vive, a noção de Deus se torna anacrônica, sem alinhamento, consonância com o tempo. Justifica isso por sentir algo de caduco, de ultrapassado nas pessoas que lhe falaram de Deus acreditando nisso. “Não tenho necessidade de Deus para amar o meu próximo”, defendia ele.
Posso usar o meu pensamento da mesma forma que Sartre usou o dele e chegar com as mesmas observações a conclusões diferentes. Considerando a linha do tempo e a perspectiva intelectual do filósofo, vejo no momento atual, século XXI, que a ideia de Deus no seio da natureza é uma constante que atinge a minha percepção e intuição. Quando escuto pessoas falarem que Deus não existe, essa energia criadora que perpassa a tudo com extrema sabedoria, poder e integração, sinto nisso uma forma de ignorância alicerçada em preconceitos mal concebidos. É aí que vejo o anacronismo dessa ideia de um mundo sem Deus. Se desde a nossa mais remota existência, desde os tempos das cavernas, nós tínhamos a intuição de um Deus que identificávamos das mais diversas formas, raios, chuvas, animais, ídolos, etc.; perder esse sentimento da existência de Deus por forçar um ateísmo idealista ou materialista, é o que parece ser mais anacrônico.
Quando ele diz “não tenho necessidade de Deus para amar o meu próximo”, fico a imaginar se isso não é um erro do filósofo, se essa tendência dele amar ao próximo acima dos interesses egoístas, não seria aí uma expressão da semente divina que perpassa a matéria? Será que, sem essa semente, o filósofo se livraria dessa força materialista que o fazia ter diversas amantes, fora do contexto da época, mas que usava com todas a verdade de suas intenções? Felizmente a ideia de Deus ainda é norma na humanidade, mesmo que ainda não exista a devida compreensão da Sua natureza.
Este é um campo que merece estudos mais aprofundados e que neste pequeno espaço de um diário não seria possível. Certamente voltarei a esse tema em outros momentos.