O meu plano de dar uma aula durante a reunião do grupo familiar foi frustrado, pois o principal interessado, o homem considerado como o agressor, não compareceu. Eu iria falar sobre o Behemot, explicar como esse monstro considerado por Deus como Sua obra-prima e que Ele construiu dentro de nós, para explicar e justificar nossos comportamentos agressivos e egoístas de toda a natureza. Então, já que o principal interessado não veio, segui o procedimento da maioria dos encontros, de ler uma das histórias que Jesus contava quando estava à noite com seus discípulos e amigos, constante do livro “Jesus no Lar”. A história da sequência tinha o título “O dom esquecido” onde Jesus mostrava que não importa a pessoa receber de Deus todos os dons possíveis, se não tiver coragem para implementá-los de nada valerá. Eles se perderão e se degenerarão na condução do tempo. É importante que cada um de nós reconheça quais os principais dons que Deus nos deu e que criemos e usemos a coragem para coloca-los em ação. Foi quando surgiu na discussão a crise de violência dentro do grupo e achei conveniente explicar, mesmo aos presentes, a existência do Behemot dentro de nós.
Fui pegar a Bíblia e li no livro de Jó, capítulo 40, quando Deus fala por intuição ao escritor, que fez esse monstro, obra-prima de Sua criação e o deixou dentro de nós. Expliquei que Deus nos fez Sua imagem e semelhança, mas era importante que tivesse um mecanismo para que nós tivéssemos motivação para fazer as necessidade que nosso corpo precisava para sua subsistência. Esse mecanismo nada mais foi do que o Behemot, e que nós identificamos na moderna psicologia como os instintos, os mais obscuros, definição bem aproximada feita por Jung que a denominou de “A Sombra”.
Expliquei que esse monstro funciona dentro de nós desde que nascemos, com o primeiro choro, com o primeiro sugar do seio materno. Continua a funcionar dentro de nós se manifestando através dos diversos desejos que chegam na nossa mente. Cabe aos pais e à escola domesticar esse monstro para que seus desejos não atrapalhe a vida do próximo. Por isso foi necessária a vinda de Jesus ao nosso planeta em forma material, humana, portanto sendo construído com um monstro interno também. Ele ensinou teoricamente que o Amor Incondicional era a melhor forma de controlar esse monstro, com a sua melhor fórmula: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Ensinou na prática como se domesticava o monstro, pois Ele, mesmo sofrendo as injustiças mais perversas, reconhecia a ignorância de quem lhe torturava e pedia ao Pai o perdão para esses atos.
Mostrei que era isso que estava acontecendo nesse momento dentro do grupo. O monstro seguiu em frente dentro das duas pessoas mais comprometidas, exigindo prazeres e deveres um do outro, esquecido do direito, da justiça, do Amor. Chegou a um ponto onde os dois monstros se enfrentam de forma hostil e com ameaças de destruição até do próprio corpo ou do corpo do opositor. Mais do que nunca as lições de Jesus são importantes e necessárias. É necessário que o lado mais forte pratique o perdão, evitar a vingança, a retaliação. É necessário que o espírito mais forte consiga frear os ímpetos do monstro e tolerar com humildade o que parece ser humilhação, dar o outro lado da face quando for esbofeteado. Foi isso que Jesus fez. Sofreu todo tipo de humilhação sempre com amor no coração. Ele fez isso para nos ensinar como agir. Com certeza nenhum de nós irá chegar a esse nível de humilhação que Jesus passou, sem nenhum motivo. Mesmo assim ele não reagiu com violência contra ninguém, permaneceu com o seu monstro sob controle e sempre distribuindo Amor.
Foi importante que essa lição tenha sido dada, mesmo sem a presença do principal interessado. Mas tive oportunidade de no dia seguinte sair sozinho com ele e conversar sobre o que aconteceu. Ele explicou os motivos de sua reação agressiva, confessa que se arrependeu do que fez, inclusive pediu perdão a ela sobre o ocorrido. Diz que vem sofrendo há muito tempo humilhações constantes, ela o trata com ironia, não o respeita. Infelizmente nesse dia ele perdeu o controle e a agrediu fisicamente. Mas alega que reconheceu a dificuldade da convivência que já está se preparando para sair de casa, já que ela alega que o que atrapalha a vida dela é a sua convivência com ele. Já alugou uma casa e está providenciando sua mudança para lá.
Concordo com a sua providência, pois a convivência está muito difícil e perigosa, e que isso não significa que ele será excluído no nosso grupo familiar. Ele continuará a ser bem vindo as nossas reuniões, terá o meu apoio na sua nova vida de morar sozinho, afinal de contas eu também estou na mesma situação. Moro sozinho para não conviver com conflito com ninguém. Em outro momento conversei com a mulher, estilo terapia de casal, tentando entender as possibilidades de um retorno a convivência em harmonia ou se a separação já tem uma conotação definitiva. Me comprometi que, se até a próxima semana ele não tenha ainda saído de casa e o clima de hostilidade ainda permanecer, que eu iria abordar esse assunto com ele de forma mais objetiva.
Até lá, seria importante que todos mantivessem a serenidade, evitando provocações. Deus está no comando e sempre Ele apresenta as condições mais favoráveis para seguirmos em harmonia.